Um estudo divulgado recentemente pela Proteste – Associação de Consumidores gerou burburinho no mundo da nutrição. Segundo o trabalho, 45% das dietas prescritas nos consultórios não seriam adequadas. Para chegar a esse número, eles pediram a pessoas com dois perfis extremos (um grupo era considerado obeso e o outro, de baixo peso) para irem a 40 consultórios – em São Paulo e no Rio de Janeiro. Vale dizer que os mesmos profissionais foram visitados pelas duas turmas.
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Depois das sessões, surgiram os dados. “Cerca de 30% dos nutricionistas procurados por pessoas magras prescreveram dietas hipocalóricas [com baixas calorias]”, exemplificou a entidade, em comunicado à imprensa. Ou seja, gente que deveria consumir mais fontes energéticas para chegar a um peso adequado saiu da consulta com uma dieta para emagrecer ainda mais.
Também foi relatada uma quantidade insuficiente de perguntas sobre histórico familiar (o que aconteceu em sete consultas). De acordo com a pesquisa, em outros casos o nutri recomendou restringir severamente certos grupos de nutrientes importantes sem base científica ou simplesmente atendeu o cliente muito rapidamente… De olho nisso, a Proteste criticou: “dietas prescritas por nutricionistas podem não ser confiáveis”.
O tom alarmista, como dá para imaginar, não agradou esses especialistas. “Primeiro, queremos entender que tipo de profissional a Proteste avaliou”, comenta a nutricionista Silvia Cozzolino, presidente do Conselho Regional de Nutricionistas da 3ª Região (que inclui São Paulo e Mato Grosso do Sul). Ela destaca que é possível encontrar pessoas que atuam em clínicas e prescrevem dietas, mas não tem habilitação para exercer essa função. “Fora isso, gostaríamos de verificar se a conduta dos profissionais foi realmente inadequada”, cobra.
Ora, segundo a Proteste, entre os erros de alguns nutris consultados, estava o de indicar a restrição de um ou outro grupo de alimentos. Para a presidente do CRN-3, esse tipo de achado deve ser interpretado com cautela. “Quando um paciente relata sintomas importantes, que podem indicar determinada condição de saúde, um nutricionista informado pode sugerir mudanças na dieta. Aí, claro, é necessário acompanhar o paciente no dia a dia”, descreve.
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Além disso, a especialista lembra que somente 40 profissionais participaram da pesquisa. Ou seja, dizer que 30% deles indicaram dietas desequilibradas para indivíduos com baixo peso significa, no final das contas, que estamos falando de 12 sujeitos. “É pouquíssima gente em um universo de 100 mil nutricionistas brasileiros”, frisa.
O próprio CRN-3 já realizou uma pesquisa para avaliar a conduta durante os atendimentos. No caso, foram entrevistados 440 profissionais, em São Paulo e no Mato Grosso do Sul. “Percebemos que mais de 90% desse grupo atuava de acordo com nossas resoluções”, afirma. É por isso também que as informações da Proteste causaram estranhamento. Mas ela reconhece: “Como em qualquer área, temos bons e maus profissionais”. Por isso, se um paciente achar que os procedimentos adotados pelo nutricionista não foram corretos, Silvia afirma que é possível procurar o Conselho e realizar uma denúncia. O que não dá é para desmerecer toda a classe com base na conduta de uma dúzia de profissionais.