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Melatonina: suplemento não é solução para insônia e pode ser prejudicial

Aprovado pela Anvisa, produto passa a ser encontrado na farmácia e vendido sem prescrição. Especialistas temem uso incorreto e consequências sérias à saúde

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 15 mar 2023, 10h40 - Publicado em 7 fev 2022, 19h25
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  • Alguns meses após a liberação da venda de melatonina – substância conhecida como hormônio do sono – pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), as prateleiras das farmácias se encheram de opões do produto.

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    Especialistas e a própria agência, no entanto, concordam que não há evidências de que essas cápsulas promovam benefícios diretos a quem sofre de insônia.

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    Há casos bem específicos em que a melatonina é prescrita por médicos, e consumir fora desse padrão pode ser arriscado.

    Primeiro é preciso entender o que é a melatonina. Trata-se de um hormônio produzido naturalmente pelo organismo e que serve como regulador e indutor do sono, entre outras funções. Ela também aparece em alguns alimentos.

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    A produção é realizada pela glândula pineal – localizada no cérebro – e começa quando o sol se põe ou quando o corpo percebe a queda da luz e entende que deve se preparar para dormir. Acompanhar esse ciclo de claro e escuro ajuda a ir para a cama mais cedo e acordar mais disposto na manhã seguinte.

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    Ao contrário de vitaminas e minerais, cujas concentrações podem ser medidas no sangue com um exame simples, a melatonina não tem como ser aferida tão facilmente.

    “Ela é um hormônio. Então não é possível dizer se uma pessoa precisa de reposição e em qual medida”, explica a neurologista Dalva Poyares, pesquisadora do Instituto do Sono (SP).

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    Não é solução para a insônia

    Segundo os médicos, ter aprovação e regulação da Anvisa ajuda a controlar a qualidade, a produção e a venda desse produto no Brasil, antes vendido apenas em farmácias de manipulação. As pílulas chegavam, ainda, por pessoas que viajavam a outros países.

    De qualquer forma, os especialistas seguem preocupados com a possibilidade de o consumo ocorrer de forma errada.

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    Cerca de 35% das pessoas que sofrem de insônia usam medicações, como a melatonina, sem acompanhamento médico, informa Caio Bonadio, médico psiquiatra da Vigilantes do Sono.

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    “Dormir mal não significa somente ter insônia. Existem cerca de 50 doenças do sono catalogadas. Como o nosso corpo produz a melatonina naturalmente, é preciso fazer uma avaliação médica completa antes de decidir prescrevê-la”, reitera o especialista, pesquisador do tema.

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    Mexer primeiro em hábitos de vida é a primeira atitude indicada para resolver distúrbios do sono. Isso inclui adequar os horários de acordar e dormir, avaliar a alimentação, evitar a exposição a telas antes de ir para a cama e por aí vai.

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    Uso de telas à noite é um dos hábitos que precisa ser revisto ao combater a insônia. (Foto: Hanny Naibaho/Unsplash/SAÚDE é Vital)

    Segundo o Consenso Brasileiro de Insônia, da Associação Brasileira do Sono (ABS), que segue os relatórios europeu e americano, a melatonina não está indicada no tratamento de insônia.

    Questionada, então, sobre o motivo da liberação, a Anvisa explica que aprovou a venda da substância por seu potencial benefício e que as empresas não devem vendê-la como solução para problemas de saúde sem apresentar estudos que comprovem tais alegações.

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    Apesar de os fabricantes não incluírem promessas nas embalagens, o que já se vê são referências sutis a uma relação entre o hormônio e a melhora do sono. Alguns produtos estampam desenhos como estrelas e lua, uma clara referência ao período noturno, por exemplo.

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    Melatonina: para que serve

    “Há quem tire proveito da melatonina, mas são raríssimas exceções. Não é indicado que ela seja consumida por pessoas saudáveis”, pontua Dalva.

    De acordo com Bonadio, o hormônio é recomendado para o tratamento dos transtornos de ritmo circadiano e o transtorno comportamental do sono REM (conhecido como TCSREM).

    “Os primeiros consistem em doenças do nosso relógio biológico, ou seja, quando o nosso ritmo interno do corpo não está sincronizado com o ritmo externo do ambiente”, explica.

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    “Já o transtorno comportamental do sono REM é uma condição muito comum em homens idosos, em que existe um comportamento violento relacionado ao conteúdo do sonho do paciente”, completa o psiquiatra.

    Dose precisa ser respeitada

    O corpo humano produz, diariamente, 0,2 miligramas desse hormônio para o bom funcionamento de diversas funções do organismo – incluindo o sono. Por esse motivo, a dose considerada segura pela Anvisa para ser oferecida nos suplementos é exatamente essa.

    “A melatonina age também no pulmão, no cérebro, no fígado e no sistema endócrino, e não há estudos suficientes que avaliem possíveis danos nesses órgãos se houver erro de dosagem ou mau uso do suplemento”, alerta Dalva.

    Portanto, caso o médico avalie que a melatonina pode realmente ser benéfica, ainda é preciso agir com cautela. “É de costume tatear a dose, começando com menos e avaliando aos poucos a reação do organismo”, explica José Cipolla Neto, professor do Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

    Além da questão da dose, tem o detalhe do momento de uso. “A melatonina prepara o organismo para uma noite de sono, então ela precisa ser ingerida no horário certinho, à noite, pouco antes de dormir”, ensina Cipolla.

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    Se uma rotina bagunçada levar ao consumo desregulado da pílula, o processo do descanso fica ainda mais prejudicado. Sem falar que outros perigos podem surgir.

    “A noite biológica ainda é programada para o jejum. Se houver refeição próxima à ingestão de melatonina, a pessoa corre maior risco de desenvolver diabetes, já que o hormônio também age na produção da insulina pelas células”, exemplifica o professor.

    Como se vê, vários detalhes devem ser abordados com um médico antes de apostar nesse tipo de suplemento.

    Os especialistas frisam: embora o produto na prateleira da farmácia pareça inofensivo, só deve ser utilizado se houver motivo claro e prescrição médica.

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