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Entidade europeia recomenda monitorar insônia em pacientes com câncer

Distúrbio do sono não costuma ser avaliado nas consultas de pacientes oncológicos, apesar de a maioria deles apresentar dificuldade para dormir

Por Fernanda Bassette, da Agência Einstein*
Atualizado em 18 jan 2024, 09h21 - Publicado em 17 jan 2024, 17h56
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  • A insônia é um problema bastante comum entre as pessoas com doenças crônicas, como o câncer. Assim, a Sociedade Europeia de Oncologia Clínica (ESMO) publicou novas diretrizes de prática clínica em que recomenda identificar e monitorar o distúrbio do sono em pacientes oncológicos.

    Segundo a própria ESMO, cerca de 95% dos pacientes com câncer relatam distúrbios do sono durante a trajetória da doença e do tratamento. No documento, os autores apontam que, muitas vezes, a insônia não é reconhecida e tratada. Os especialistas relatam que isso pode ter consequências importantes para essa população, como a piora na qualidade de vida, o comprometimento do sistema imunológico e a fadiga.

    Eles citam, ainda, outros problemas relacionados: quadros de irritabilidade, ansiedade e depressão, dificuldade de concentração, problemas de memória e redução da resiliência. A insônia também pode causar um impacto no tratamento contra o câncer, afetando a tolerância aos efeitos adversos dos antineoplásicos (quimioterápicos usados no tratamento contra a doença).

    “A imunidade é crucial para o resultado do tratamento do paciente com câncer. Qualquer efeito adverso do antineoplásico vai ser reduzido se o paciente dormir bem. A mente tem que estar boa para os resultados serem melhores – a insônia faz parte disso também. O impacto da insônia no paciente oncológico é até mais importante do que na vida de um paciente que não tem uma doença crônica”, destacou a neurologista Letícia Soster, do Grupo Médico Assistencial do Sono do Hospital Israelita Albert Einstein.

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    + Leia também: Câncer: ao menos um quarto dos casos seria evitado com hábitos saudáveis

    O que é a insônia?

    A insônia é um distúrbio caracterizado pela dificuldade de iniciar o sono, de mantê-lo ou de voltar a dormir depois de um despertar precoce, apesar da pessoa estar nas condições adequadas para isso. Na maioria das vezes, ela tem um componente comportamental, geralmente relacionado com preocupações recorrentes.

    “Não é que o câncer faz com que a pessoa não consiga dormir, adormecer e se manter dormindo. O que acontece, na maioria das vezes, é que a preocupação com relação à doença desencadeia a insônia. Isso acaba sendo um substrato para um hiperalerta para o cérebro”, disse a neurologista, que frisa que é preciso diferenciar se a doença em si é um fator que leva à insônia ou se é a preocupação em relação à doença que provoca a dificuldade para dormir.

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    A especialista do Einstein diz que receber um diagnóstico de poucas ou nenhuma possibilidade de cura, por exemplo, é um dos momentos do tratamento oncológico que pode influenciar e afetar o sono. “Algumas vezes se fala somente em sobrevida, isso é um prato cheio para ele desenvolver insônia. Mesmo que esse paciente não tenha predisposição, a insônia é um fator que o acompanha muito claramente.”

    + Leia também: “Dormir bem pode ajudar a proteger seu cérebro”

    Faltam protocolos para diagnosticar a insônia

    A insônia não costuma ser avaliada de forma padronizada e sistematizada na oncologia – no Brasil, não existem protocolos orientando essa abordagem específica.

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    O quadro costuma ser identificado mais efetivamente quando o próprio paciente relata os sintomas. As diretrizes europeias recomendam que os oncologistas clínicos passem a realizar uma avaliação de rotina para identificar se a pessoa está experienciando dificuldades para dormir e se são episódios pontuais ou persistentes.

    “Infelizmente, não temos um protocolo. Os sintomas de insônia não são amplamente acessados nos pacientes, principalmente quando falamos daqueles que são atendidos no sistema público de saúde. No sistema privado, costuma ser um pouco diferente porque o paciente muitas vezes tem um atendimento multidisciplinar e quando o oncologista identifica o distúrbio do sono, ele encaminha para um especialista. Mas isso não é uma diretriz, não é um protocolo”, explica Soster.

    A neurologista elogia a publicação das novas diretrizes na Europa, pois elas podem trazer um impacto grande na vida do paciente. “Essas diretrizes vêm jogar luz, com comprovação científica, de que que precisamos enxergar a insônia nesse paciente.”

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    + Leia também: Somatização: o que é o conjunto de sintomas físicos agravado pelas emoções

    Como é feito o diagnóstico e o tratamento?

    O diagnóstico da insônia é clínico, baseado no conjunto de sintomas relatados pelo paciente. Não há diferença em como ele é feito para pessoas com câncer, em comparação com a população em geral.

    Por isso, ao destacar a relevância do conhecimento do distúrbio do sono na assistência oncológica, as diretrizes da ESMO incentivam uma abordagem padronizada, com recomendações práticas que podem auxiliar no controle do problema, entre elas, o monitoramento do sono por meio de um diário, detalhando o tempo de sono, fatores estressores, eventos adversos, etc.

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    O documento também ressalta a importância da Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC), uma vertente da psicoterapia considerada padrão ouro no tratamento da doença.

    “Cuidar dos aspectos comportamentais é a melhor estratégia para o paciente com insônia. Não dá para fazer o tratamento com medicamento isoladamente. Medicamento é considerado segunda linha e uma opção bastante reduzida porque é um agente sedativo que trata o efeito (que é a dificuldade de dormir) e não a causa da dificuldade de dormir. Quem consegue endereçar é a TCC, pois ajuda o paciente a modificar hábitos e como se comportar em relação ao sono dele. O diário é uma ferramenta importante porque ajuda o paciente a se conhecer, se relatar, para comparar como ele está agora e como estava antes”, completou a médica.

    *Conteúdo publicado originalmente na Agência Einstein.

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