Por Antonio Herbert Lancha Jr.*
Essa pergunta costuma vir acompanhada de respostas como: “para passar o verão sem canga”, “porque tenho uma festa de casamento e preciso ficar bem no vestido”, “porque quero ficar sem camisa na piscina”… Podemos gastar aqui páginas e mais páginas para elencar as razões que movem as pessoas a fazer dieta. O que esses motivos fazem é gerar um estímulo para nos empurrar em direção ao emagrecimento. Mas a questão que fica é: seu motivo é forte o bastante para fazê-lo emagrecer?
A busca pelo corpo dos sonhos movimenta bilhões de dólares por ano em todo o planeta. O emagrecimento está associado a diversas esferas da nossa vida. Nossa cultura religiosa, por exemplo, nos faz associar a perda de peso à culpa pela gula e torna nossa mente refém de um comportamento punitivo. Assim, olhamos para nossas gordurinhas e achamos que, para emagrecer, precisamos fazer jus a isso, sofrendo, passando fome… Só assim seremos dignos do corpo dos sonhos.
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O que de fato acontece é que o corpo humano é resultado de uma evolução biológica transcorrida em milhares de anos. Nesse processo, os organismos mais eficientes para estocar energia (leia-se “engordar”) foram selecionados e nós somos o produto desse processo seletivo. Muito embora ser a elite desse processo nos faça sentir a grande ervilha de Darwin, a consequência dessa seleção do desenvolvimento é que as reservas energéticas de gordura nos abandonarão quando nosso corpo não sentir a ameaça da sobrevivência por causa da privação energética.
E aqui cabe um comentário: a ideia de punição, passar fome e sofrer cai por terra nesse momento. Assim somos capazes de sobreviver por muito tempo reprogramando nosso corpo diante das reservas que tivermos. Como uma empresa que administra muito bem seu fluxo de caixa, nosso corpo não manterá passivos inúteis como músculos sem uso, cabelos e unhas se a privação alimentar for bastante severa.
Também nos livramos dos extras de gordura quando os músculos forem exigidos e justificarem sua permanência em um momento de prejuízo energético. Com isso fica claro que fazer atividade física faz parte do processo. Não quero dizer treinar até a exaustão ou fazer algo além do seu limite de competência. É mais simples: me refiro a construir uma rotina de exercícios que seja sustentável e que possa ser mantida por muitas décadas.
Ainda podemos nos desvencilhar do excesso gorduroso — e esse, a meu ver, é o fator mais importante — se, ao responder à pergunta apresentada no título deste texto, você perceber que esse desejo de fato o move, o emociona, o empurra em direção a cumprir a meta. Pense em um desejo forte o bastante para você conseguir comer apenas um pedaço daquele alimento que, normalmente, ataca até acabar. Quando você achar a resposta para essa pergunta, saiba, não precisará de dieta. Você já estará no caminho certo.
*Antonio Herbert Lancha Jr. é professor titular de nutrição da Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo e autor do livro “O Fim das Dietas” (Editora Abril).