“Você é aquilo que come.” Para o pediatra Rubens Feferbaum, professor da Universidade de São Paulo (USP), passou da hora de revisarmos esse clássico provérbio, geralmente creditado ao grego Hipócrates, o pai da Medicina. “Somos aquilo que comemos… E bebemos“, emenda o médico. A mudança não seria mero capricho. Em seu consultório, Feferbaum já viu criança se alimentando direitinho e ganhando mais peso do que deveria. O motivo, um mistério para a mãe: o pequeno simplesmente tinha livre acesso a sucos de caixinha.
Entre os adultos, a situação é um tanto quanto semelhante. Quando a nutricionista Lara Natacci, da clínica DietNet, na capital paulista, pede para o paciente detalhar sua rotina à mesa, ouve uma extensa lista de alimentos. Todos sólidos. “Há essa ideia de que bebida é um simples acompanhamento. Daí ela não recebe a devida atenção”, analisa. Acontece que os líquidos – inclusive alguns saudáveis – influenciam o peso, sim. Mais do que imaginávamos.
Ora, cada pessoa possui uma quantidade máxima de calorias que consegue consumir no dia sem engordar. Esse valor é definido com base em diversas características, como altura, peso e nível de atividade física. Agora vamos imaginar que um indivíduo tome suco de laranja no almoço e no jantar, o que dá aproximadamente 200 calorias. Se esse valor não for computado dentro do total energético indicado para esse sujeito, a cintura pagará o preço. “O excesso de apenas 100 calorias em um dia é capaz de culminar no aumento de 4 quilos ao final de um ano”, calcula o endocrinologista Walmir Coutinho, diretor do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem).
Você tem todo o direito, claro, de trocar um punhado de 30 gramas de castanhas no lanche da tarde por um suco geladinho. Do ponto de vista de compensação calórica, o raciocínio é perfeito. Mas os estudos mostram que os líquidos têm um poder de saciar muito menor. Segundo uma revisão brasileira, baseada em trabalhos publicados entre 1980 e 2008, existem várias razões por trás disso. Uma delas é a falta de mastigação, que é a primeira oportunidade de o cérebro entender que vem comida goela abaixo para preencher o estômago.
“Outro ponto importante é a velocidade de esvaziamento gástrico”, conta a endocrinologista Cintia Cercato, da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). Pode reparar: ao ingerir alimentos sólidos, a sensação de barriga cheia dura mais. Quando entornamos um líquido, porém, não demora para a barriga voltar a roncar – daí surge aquela vontade de abrir a geladeira. São fatores capazes de desencadear, no fim das contas, uma maior procura por comida.
Não é só a questão calórica que conta. Os sucos naturais, por exemplo, são fontes de vitaminas e minerais. Ótimo! “Mas precisamos considerá-los para saber se há necessidade extra de nutrientes”, observa Lara. Para quem não consegue abandonar o refrigerante, o papo é outro – e mais complicado. Embora uma lata de 350 mililitros de bebida de cola reúna 149 calorias, ela fornece por volta de 35 gramas de açúcar adicionado. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o ideal é que o consumo do ingrediente não ultrapasse 10% das calorias ingeridas em um dia, isto é, cerca de 50 gramas – o açúcar natural das frutas não entra nessa regra.
O pior é que o abuso dessa categoria começa bem cedo. Em pesquisa com 831 crianças, Feferbaum descobriu que os refrigerantes são os principais fornecedores de calorias líquidas entre os 11 e 17 anos de idade – para sermos mais exatos, são 207 calorias vindas só deles. Essa quantidade de goles já faz a garotada atingir o limite máximo de açúcar, pavimentando, assim, o caminho rumo à obesidade. Justiça seja feita, os refris não estão sozinhos no rol de líquidos que demandam olho vivo. A lista inclui chás prontos, néctares, cerveja… A seguir, passeamos pelas bebidas campeãs de audiência no dia a dia e ensinamos a evitar que elas passem a perna na perda ou na manutenção do peso.
O pouco que vira muito
Suponha que você possa consumir 2 mil calorias diariamente. Exceder esse valor cobra consequências
100 cal extras provenientes de uma bebida todos os dias poderão render…
4 kg a mais na balança ao final de um ano