As doenças reumáticas ainda são muito desconhecidas pela nossa população. Tem gente que acha que tudo se resume ao popularmente conhecido termo “reumatismo”, como se houvesse um único problema. Na realidade, essa palavra engloba mais de cem diferentes enfermidades que comprometem o sistema musculoesquelético, ou seja, ossos, músculos, articulações, cartilagens, tendões e ligamentos.
Nesse grupo de doenças, existem tanto aquelas mais comuns com o avançar da idade, caso da artrose, como as de origem autoimune, como a artrite reumatoide. Em casos mais graves, condições desse tipo podem acometer ainda os rins, os pulmões, o coração, o sistema nervoso, o intestino, os olhos e a pele.
Entre as doenças reumáticas mais prevalentes, temos a já citada artrose, conhecida também como osteoartrite, a fibromialgia, a gota, as tendinites, as bursites, a febre reumática, a artrite reumatoide, o lúpus e as espondiloartrites. São problemas diversos, com manifestações diversas e, ao contrário do que se possa imaginar, não ocorrem somente em idosos.
Crianças, adolescentes, adultos jovens e de meia idade também podem sofrer com problemas reumáticos. E eles atingem tanto o homem quanto a mulher, independente da etnia ou da classe social. Mas, sim, algumas doenças têm certas predominâncias específicas.
A febre reumática, por exemplo, acomete principalmente crianças. O lúpus eritematoso sistêmico, que é uma doença autoimune, geralmente afeta mulheres na idade reprodutiva, na faixa entre 15 e 45 anos. A gota, por sua vez, predomina nos homens, começando na quarta ou na quinta década da vida. Já nas pessoas mais idosas, a osteoartrite e a osteoporose predominam.
Em décadas passadas, as doenças reumáticas eram consideradas raras, mas hoje são reconhecidamente frequentes na população adulta, comprometendo a atividade profissional e a qualidade de vida. Na Europa, sintomas de ordem musculoesquelética estão entre as dez principais causas de incapacidade, sendo que a osteoartrite ocupa a quinta colocação da lista.
Ainda não sabemos a causa exata da maioria dessas enfermidades, mas sabemos que, a depender do quadro, idade, genética, infecções, obesidade, sedentarismo, tabagismo, etilismo, estresse, ansiedade, depressão e até alterações climáticas podem estar envolvidos. Nenhuma delas é contagiosa, que fique claro, e o sintoma que as unifica costuma ser a dor nas articulações, com ou sem inchaço.
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É importante ter em mente que as doenças reumáticas são crônicas e, ainda que não tenham cura, podem muito bem ser controladas. Se diagnosticadas precocemente e tratadas de maneira adequada, dá para levar uma vida praticamente normal, com um mínimo de incapacidade.
O tratamento envolve uso de medicamentos e métodos não farmacológicos, como fisioterapia, atividade física regular, dieta para controle do sobrepeso ou obesidade, terapia ocupacional e, muitas vezes, psicoterapia. É uma abordagem, portanto, multidisciplinar, que se aplica tanto a artrites como artroses.
Caso não sejam tratadas, essas doenças podem causar uma série de limitações e levar à incapacidade física, provocando afastamento do trabalho, perda da autoestima e da autonomia, depressão e aposentadoria precoce.
Felizmente, ao longo das últimas décadas, uma série de novos tratamentos tem sido desenvolvida para controlar a dor e a inflamação dos pacientes, proporcionando uma mudança significativa na evolução natural dessas doenças e permitindo uma melhor qualidade de vida.
Então, se você tem dor nas articulações de forma contínua, principalmente por mais de seis semanas, acompanhada ou não de vermelhidão, inchaço, calor e dificuldade para movimentação (especialmente ao acordar), procure um reumatologista – esse é o médico treinado e capacitado a identificar as doenças reumáticas e intervir da melhor maneira possível.
* Nafice Costa Araújo é reumatologista, vice-presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia e médica do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo