Em meados dos anos 1990 surgiu, nos Estados Unidos, o movimento Pink October, com os objetivos de alertar sobre a incidência do câncer de mama e educar a população sobre medidas de prevenção e rastreamento precoce.
O movimento chegou em terras tupiniquins no início dos anos 2000 – o nome foi traduzido literalmente, ou seja, ficou Outubro Rosa. Desde então, esse mês se consagrou como o período das campanhas para prevenção desse tipo de tumor.
Com o tempo, as ações realizadas nesse momento e também a melhora da prevenção surtiram efeito: a mortalidade mundial pelo câncer de mama vem caindo.
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Mas os índices seguem preocupantes. Estudos recentes revelam que uma em cada oito mulheres desenvolverá a doença no decorrer da vida.
Felizmente, as taxas de cura atualmente são superiores aos 90% quando a doença é tratada precocemente. Isso porque há melhor entendimento da biologia da doença, temos novas ferramentas para o diagnóstico precoce e, principalmente, a cada dia surgem medicações cada vez mais efetivas.
A principal estrela do Outubro Rosa, a mamografia, também é a mais importante ferramenta de rastreamento e deve ser realizada anualmente pelas mulheres a partir dos 40 anos. Mas o acompanhamento com o médico ginecologista ou mastologista é tão ou mais importante que a própria realização do exame.
Mas e a prevenção?
Prevenção, a meu ver, é um conjunto de estratégias indicadas a indivíduos saudáveis e que visam diminuir o surgimento da doença.
Prevenção é, por exemplo, a alimentação balanceada, a prática de 150 minutos de atividade física por semana, a cessação do tabagismo e do consumo excessivo de álcool, o combate à obesidade e o acompanhamento genético para mulheres com histórico familiar de câncer de mama.
Todas essas medidas, juntas, são preventivas – e deveriam ser até mais valorizadas que a mamografia.
Felizmente o tratamento do câncer de mama tem apresentado resultados excelentes nos últimos anos, com alta taxas de sucesso.
Hoje em dia, cirurgia, radioterapia e tratamento medicamentoso individualizado (com hormonioterapia, terapias-alvo e a injustiçada quimioterapia) são os três pilares do tratamento desse tipo de tumor.
Mas o Outubro Rosa também tem uma face não tão rosa assim. Pacientes já diagnosticadas e aquelas com a doença avançada sentem-se excluídas das campanhas que focam apenas em prevenção.
Elas já receberam uma notícia muito difícil de digerir, estão sendo submetidas a tratamentos que podem levar a perda dos cabelos e de náuseas, apresentam altos e baixos psicológicos e encaram uma diminuição da autoestima.
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O “Outubro não tão rosa” ignora isso em sua campanha, o que é uma pena, já que é possível combater de forma efetiva todos esses efeitos colaterais. Hoje em dia, o tratamento do câncer de mama é voltado para a paciente, e não para a doença que ela tem.
Todas essas transformações podem ser mais leves quando as pacientes recebem um atendimento multidisciplinar, que inclui, além do mastologista e do oncologista, o dermatologista, o psicólogo, o nutricionista e uma rede de suporte profissional qualificada.
O nosso desafio no Outubro Rosa é investir tanto na prevenção quanto no rastreamento, e também tratar as pacientes diagnosticadas como tratamos as pacientes saudáveis.
O nosso desafio é transformar o Outubro Rosa em uma ferramenta para todas e por todas.
*Pedro Exman é oncologista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz