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Será o fim do IMC?

O famoso índice de massa corporal, definido a partir do peso e da altura de uma pessoa, gera desconfiança entre os experts. É que o método possui limitações quanto à avaliação da forma física

Por Fernando Barros [colaborador]
Atualizado em 28 out 2016, 10h03 - Publicado em 30 set 2016, 13h46
Bruno Marçal e Thiago Almeida
Bruno Marçal e Thiago Almeida (/)
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Não é preciso ser um gênio da matemática para descobrir o próprio índice de massa corporal (IMC), uma das medidas mais utilizadas para definir se uma pessoa está excessivamente magra, saudável ou muito gorda. Basta dividir o peso, em quilos, pelo valor da altura, em metros, ao quadrado… e pronto! O resultado obtido bota você em uma daquelas categorias. se der acima de 25, sinalizaria sobrepeso. E, se superar a casa dos 30, já denotaria obesidade. Só que estudos recentes colocam o cálculo na berlinda, duvidando de sua eficácia para cravar como anda o físico de alguém.

Em um trabalho publicado no jornal científico Annals of Internal Medicine, pesquisadores das universidades de Alberta e de Manitoba, no Canadá, analisaram tanto o IMC como a porcentagem de gordura corporal de aproximadamente 50 mil voluntários. Aí a conta embolou. Isso porque os indivíduos com IMC elevado – e que pela classificação eram obesos – não apresentaram maior risco de mortalidade. Para fazer essa estimativa, mostrou-se mais confiável avaliar a quantidade de dobras pelo corpo. “Os achados apontam que devemos parar de usar o IMC como indicador de obesidade”, sentencia o médico Raj Padwal, professor da Universidade de Alberta e um dos responsáveis pelo achado.

Já uma pesquisa da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, recorreu a um levantamento nacional para tentar traçar a relação entre o índice de massa corporal e alguns preditivos de saúde, como pressão arterial e níveis de glicose, colesterol e triglicérides. Surgiu, então, mais um motivo para ter o pé atrás em relação à equação. Afinal, 47,4% dos americanos julgados com sobrepeso em virtude do IMC eram saudáveis. “Isso mostra que os hábitos das pessoas influenciam muito mais na saúde do que o resultado dessa conta”, interpreta o psicólogo Jeffrey Hunger, coautor do estudo.

Segundo especialistas, há mais circunstâncias capazes de justificar a limitada serventia do IMC. “Ele não distingue quanto temos de massa magra e massa gorda nem avalia a distribuição da gordura pelo corpo”, exemplifica o endocrinologista Paulo Rosenbaum, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. “E, hoje em dia, uma de nossas grandes preocupações é saber se essa gordura é visceral ou periférica”, completa a endocrinologista Cintia Cercato, presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso). E por que esse dado, ignorado pelo IMC, é tão essencial? “A gordura visceral é a mais nociva. Ela se acumula nas camadas profundas do abdômen, em volta dos órgãos, e contribui para o desenvolvimento de resistência à insulina e problemas cardiovasculares”, ensina a nutricionista Mirele Mialich, pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP).

Leia também: Por que é tão difícil manter o peso depois de emagrecer?

A essa altura você deve estar se perguntando: “Se o IMC não fornece um retrato verossímil da minha forma física e da possibilidade de ter determinadas doenças, o que fazer?”. Bem, primeiro, não dá para abrir mão da avaliação médica nem de exames clínicos. “É preciso procurar um profissional para que vários fatores sejam analisados corretamente”, orienta a nutricionista Valéria Prado, membro da diretoria do Instituto Brasileiro de Nutrição Funcional (IBNF). Entre os assuntos levantados na consulta estão hábitos alimentares, antecedentes de enfermidades na família, nível de atividade física, além de comportamentos como tabagismo e consumo de álcool.

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Mas, em casa, também é possível monitorar a situação. Uma maneira de fazer isso é ficar de olho especialmente na barriga. Lembra das temidas gorduras viscerais? Pois é justamente na pança que elas adoram se esconder. Sendo assim, verificar o diâmetro dessa área com o auxílio de uma fita métrica ajuda a antever encrencas. “O correto é realizar a medição na altura do umbigo”, ensina a endocrinologista Maria Edna de Melo, diretora do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM). As mulheres podem comemorar se o valor for de no máximo 80 centímetros, enquanto os homens devem torcer para não ultrapassar os 94. “Se der mais do que isso, significa que há um risco aumentado de diabete, hipertensão e doenças cardiovasculares”, avisa Rosenbaum.

Leia também: Gordura saturada faz mesmo mal à saúde

Ainda com a fita métrica em mãos, outra possibilidade é averiguar o contorno do pescoço. Acredite: a extensão desse local dá uma boa ideia da quantidade de gordura concentrada ao longo do corpo inteiro. “Valores acima de 37 centímetros para homens e de 34 para mulheres são associados ao excesso de peso e, portanto, à maior probabilidade de males cardíacos”, esclarece Cintia, da Abeso.

Agora, para mapear as dobrinhas, não dá para se esquecer de equipamentos e exames. Um dos instrumentos mais conhecidos é o adipômetro, semelhante a uma pinça – ele serve para aferir a espessura do tecido adiposo em várias regiões. “No entanto, o equipamento é útil apenas para dar uma ideia da quantidade de gordura”, ressalta Maria Edna. Outros recursos são mais acurados, como a bioimpedância e a densitometria óssea (conheça-os abaixo). “A escolha do método dependerá de fatores como custo, regiões do corpo envolvidas e limitações de exposição à radiação”, diz Mirele, da USP.

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Mas não vá enlouquecer com tantos números e testes. Adotar um estilo de vida equilibrado – com dieta balanceada e prática de exercícios – é bem mais importante do que andar com a fita métrica no bolso. Até porque quem investe em hábitos saudáveis dificilmente vê as medidas saírem do controle. Diferentemente do que ocorre com o IMC, neles dá pra confiar de olhos fechados.

 
Por que o IMC não é perfeito
Alguns pontos cruciais são esquecidos na hora da conta
 
Massa óssea

Pessoas com osteoporose têm os ossos frágeis – ou seja, são mais leves. Isso influencia no peso corporal e, consequentemente, no cálculo.

Tipo de gordura

Por ser profunda, a visceral oferece mais riscos do que a subcutânea, localizada logo abaixo da pele. E o IMC não faz essa distinção.

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Musculatura

Músculos pesam. Então, olha a ironia: o excesso de peso apontado no IMC pode ser resultado do tempo dedicado à malhação.

Sexo

O índice despreza diferenças físicas entre homens e mulheres. Isso abala a conta, pois eles tendem a ser mais altos e musculosos do que elas.

Leia também: Vigilantes do Peso lança novo programa de emagrecimento

 

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Boa forma em xeque
As técnicas abaixo ajudam a definir a composição corpórea de forma mais precisa
 
Pletismografia

Você entra numa cápsula e, com base na diferença entre o volume de ar e a pressão no interior, encontra-se o nível de gordura no corpo.

Tomografia computadorizada de abdômen

Dentro de uma máquina, são recolhidas informações sobre a sua gordura abdominal. Os dados são processados em um computador.

Bioimpedância

Conectado a eletrodos, seu corpo inteiro é percorrido por uma corrente elétrica de baixa intensidade. Quanto mais lenta é a corrente, mais gordura você tem.

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Densitometria

Uma espécie de scanner consegue calcular a quantidade de massa óssea, massa muscular e gorduras corporais.

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