Especialmente quando filhotinhos, os gatos são fofos, irresistíveis. Considerados fáceis de cuidar, não é de estranhar que, de acordo com dados Instituto Pet Brasil, a adoção de gatos no Brasil venha crescendo mais do que a de cães.
Porém, para evitar que a taxa de abandono também aumente, a decisão de ter um deles em casa não pode ser tomada por impulso.
“O animal não é descartável. Não dá para pensar que, se não der certo, você pode doá-lo para alguém ou simplesmente largar na rua”, diz a veterinária Kellen Oliveira, presidente da Comissão de Bem-Estar Animal do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). “Por isso sempre chamamos a atenção para a importância da guarda responsável”, continua.
É justamente para reforçar a conscientização sobre como cuidar corretamente dos felinos que o Fundo Internacional para o Bem-estar Animal instituiu o Dia Internacional do Gato, celebrado em 8 de agosto.
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O primeiro passo antes da adoção é a reflexão. “A pessoa deve ponderar se vai ter tempo para se dedicar e criar vínculos com o animal, se tem disponibilidade financeira para custos com alimentação, itens de higiene, vacinas, check-ups e procedimentos como castração”, destaca Kellen.
Tomada a decisão, para que a convivência com o pet seja um compromisso prazeroso ao longo de muitos anos, é preciso ter em mente requisitos básicos.
Como adaptar a casa para receber um gato?
Sobretudo se for apartamento, é preciso instalar telas em todas as janelas e na varanda. “A queda de lugares altos é um dos acidentes mais comuns envolvendo gatos”, observa o veterinário Alexandre Rossi, da Comissão de Bem-estar Animal do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo (CRMV-SP).
“Pode ser necessário usar proteção também em casas, para evitar que ele fique saindo e voltando. Ele corre o risco de se machucar em briga com outros gatos, por exemplo, ou de contrair doenças”, observa.
Além disso, com seu comportamento de caça, nessas saídas o felino acaba sendo uma ameaça a passarinhos, lagartixas e outros animais que vivem nos arredores.
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O que comprar antes do gato chegar?
Caixa de transporte, caixa de areia, cama, comedouro e bebedouro são itens básicos.
“O ideal é providenciar comedouros elevados, mais ergonômicos, para maior conforto”, sugere Carla Berl, veterinária fundadora da rede de hospitais veterinários Pet Care.
“Já as tigelas de água devem ser espalhadas pela casa. Se possível, deve-se optar por fonte ou bebedouro elétrico, porque o gato prefere água corrente”, completa.
Outro ponto importante é setorizar os ambientes de acordo com a função. “Nunca se deve colocar a caixa de areia perto do lugar onde ele vai dormir ou comer”, alerta Kellen Oliveira, que é também professora da Universidade Federal de Goiás (UFG).
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Ela destaca que hoje arquitetos já trabalham com planejamento de ambientes para gatos, bolando locais onde instalar prateleiras e nichos específicos, assim como a distribuição de arranhadores.
Arranhar é um comportamento natural e esperado. “O gato arranha por dois motivos: para marcação de território e para afiar as unhas”, explica Kellen. “É preciso prover meios para que ele exercite esse hábito, senão vai usar sofás e móveis”, argumenta.
Para atender seu instinto de caça, é preciso fornecer brinquedos que se movimentam, bolinhas, varinhas com penas… E o tutor deve ter tempo para estimular o pet com essas brincadeiras.
Pode ficar carregando o bichinho no colo e sair para passear com ele?
Pode, desde que ele tope. “Quando filhote, o gato costuma aceitar melhor que o carreguem. Pode ser um momento bom para que se acostume com crianças da casa”, diz Rossi.
O ideal é que seja atraído com petiscos ou brinquedos para subir no colo e ganhar o carinho. “Mas se ele não quiser, deve ser respeitado, até porque pode machucar alguém se for retido”, continua.
Quanto aos passeios, fique sabendo que a maioria não gosta dessa atividade. “Gatos costumam sentir medo, se estressar com a aproximação de outros bichos e pessoas, ou com barulhos”, diz Carla Berl.
De todo modo, se for tentar sair com ele, precisa ter coleira ou microchip de identificação e peitorais específicos para felino com guia.
A estratégia é ir acostumando aos poucos. Primeiro no hall, depois bem pertinho de casa. Daí prestar atenção se ele de fato está curtindo a rotina do passeio. Se notar qualquer sinal de estresse, não force.
E se alguém em casa desenvolver alergia depois da adoção?
O ideal é observar antes se alguém começa a espirrar, se coçar, espirrar na presença de um gato.
Mas se já tiver adotado o bichinho e as manifestações começarem, dá para restringir a presença dele em locais como quarto, além de zelar pela limpeza dos ambientes.
“As pessoas acham que têm alergia ao animal, mas na verdade é a uma proteína presente na saliva dele. Como se lambe com frequência, acaba passando para o pelo”, explica Kellen Oliveira.
“Para amenizar o problema, hoje já se encontram rações que diminuem o potencial alérgico, moldando essa proteína”, conta.
Em caso de viagens, quanto tempo o gato pode ficar sozinho?
Em geral ele fica bem ao longo de um fim de semana, no máximo três dias.
“Deixe a caixa de areia limpa e comedouros e bebedouros cheios. Uma boa opção são os alimentadores automáticos, que permitem programar o horário e a quantidade de comida liberada”, recomenda Kellen Oliveira.
Se a viagem for prolongada, o jeito é deixar o animal em hospedagens especializadas ou pedir para alguém cuidar e interagir com ele nesse período.
Que cuidados tomar se já tiver outro gato em casa?
De acordo com Carla Berl, para não colocar em risco o morador antigo, primeiro é preciso checar se o novo pet não tem nenhuma doença transmissível, como FIV, o vírus da imunodeficiência felina, ou FeLV, o vírus da leucemia felina.
“Ao chegar com o animal em casa, não é recomendado simplesmente soltar de uma vez no ambiente”, orienta Alexandre Rossi. Reserve um local para que ele vá acostumando e aos poucos libere os demais espaços.
“Na verdade, isso vale para a ambientação de todo gato, mesmo quando não há outro na casa”, continua.
Já para fazer a aproximação entre dois animais, o que chega depois pode ser colocado na caixa de transporte ou separado do residente por uma outra barreira física.
Aí eles vão progressivamente fazendo contato visual, acostumando o olfato e reconhecendo os ruídos um do outro, até que seja possível promover o encontro físico e liberar a convivência, sem risco de ataques entre eles.