O que uma escola de pensadores nascida na Grécia no século 3 antes de Cristo e popularizada mais tarde pelos romanos tem a dizer à humanidade em pleno século 21, num período assediado por tanta tecnologia e uma pandemia?
Muita coisa! Tanto é que obras de autores estoicos como Sêneca, Epicteto e Marco Aurélio se tornaram um fenômeno editorial — estão entre os livros mais vendidos da Amazon no Brasil e lá fora.
Um dos responsáveis por reavivar a popularidade desses clássicos é o escritor americano Ryan Holiday. Ao lado de Stephen Hanselman, ele publicou A Vida dos Estoicos, lançado no Brasil pela Intrínseca (clique aqui para comprar), em que perfila 26 pensadores dessa corrente (uma mulher no meio), do precursor Zenão ao imperador-filósofo Marco Aurélio.
A vida dos estoicos — A arte de viver, de Zenão a Marco Aurélio (clique para comprar*)
Autores: Ryan Holiday e Stephen Hanselman
Editora: Intrínseca
Páginas: 400
Ali aprendemos os conceitos e práticas-chave do estoicismo, como resiliência, autocontrole, senso de realidade e caráter.
Neste mês, Holiday e a Intrínseca nos apresentam Diário Estoico, livro que traz citações e reflexões divididas pelos 12 meses do ano e em três eixos para instruir uma autodisciplina: percepção, ação e vontade.
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Com uma narrativa fluida e didática, o escritor de 34 anos é um guia de primeira sobre os pais do estoicismo e, vendo essa filosofia como um trabalho baseado mais em ação do que em palavras, enxerga praticantes contemporâneos mais fora do que dentro da academia — é o caso da empresária Arianna Huffington, do atleta Chris Bosh e do líder militar James Mattis. Ao que tudo indica, essa é uma filosofia que não envelhece.
Diário Estoico (clique para comprar*)
Autores: Ryan Holiday e Stephen Hanselman
Editora: Intrínseca
Páginas: 496
Bate-papo com o autor
VEJA SAÚDE: Como você descobriu os estoicos?
Ryan Holiday: Cerca de 12 anos atrás eu conheci o dr. Drew Pinsky [médico americano] e perguntei que livro ele recomendaria que eu lesse. Ele me sugeriu a obra de um ex-escravo que se tornou um filósofo estoico, Epicteto, mas eu não conseguia encontrá-lo na prateleira da minha livraria local. Então peguei uma tradução lírica das Meditações de Marco Aurélio.
Desde então, tenho lido esse livro dezenas de vezes e suas ideias têm me animado muito em minha escrita e nas minhas escolhas de vida.
Quais são as lições dos estoicos para estes tempos pandêmicos?
Marco Aurélio passou a maior parte do seu reinado lidando com uma terrível pandemia, não muito diferente desta que estamos confrontando. Ele encarou guerra e morte ao seu redor, perdendo nove filhos ao longo da vida. Encontrou no estoicismo uma cidadela interna, um lugar protegido dos golpes da fortuna.
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Isso o ensinou que muitas coisas estão fora do nosso controle, mas a única que não está é o nosso próprio caráter. Na verdade, ele escreveu que a pior praga é o mau caráter. Aprendeu a ter gratidão pelo dom da vida e a buscar o autoaperfeiçoamento em cada ação, sempre com um olhar voltado a melhorar o bem comum. É por isso que sua escrita segue tão popular até hoje.
Como essa filosofia pode ser usada em prol da saúde mental?
Donald Robertson é um terapeuta cognitivo-comportamental que tem escrito extensivamente sobre a profunda conexão entre práticas terapêuticas modernas e o estoicismo. Seu recente livro, How to Think Like a Roman Emperor [Pense Como um Imperador, na versão em português], descreve como elas tomaram forma no estoicismo e na vida de Marco Aurélio, seu mais famoso praticante.
O estoicismo é uma terapia da mente e do espírito, ou da alma, se preferir. Essa escola é vista como um hospital, em que ansiedades e sofrimentos podem receber tratamento e cuidados — o que ressoa muito nos dias de hoje.
Que princípios do estoicismo considera especialmente válidos a quem busca o bem-estar mental?
O estoicismo fornece uma série de ferramentas para melhorar a saúde mental: manter um diário no qual depositamos nossas responsabilidades; premeditar os males para que possamos temperar nossas expectativas; e dissipar emoções tóxicas como raiva, fúria, inveja e tudo aquilo que faz surgir a ansiedade e o sofrimento.
O estoicismo começa focando naquelas coisas que estão verdadeiramente sob o nosso controle: pensamentos, emoções, escolhas, recusas e decisões que só dependem da gente. Isso ajuda a focar no que se pode melhorar e a entender como nós mesmos contribuímos para o nosso sofrimento.
Sêneca dizia que sofremos mais na imaginação do que na realidade. Ele costumava citar o professor estoico Hécato, que dizia perceber que estava fazendo progressos ao se tornar um melhor amigo de si mesmo. Todos nós poderíamos fazer isso!
Os três clássicos
Eles continuam sendo best-sellers pelo mundo todo:
Sêneca (4 a.C.-65 d.C.): O filósofo romano nascido na atual Espanha talvez seja o estoico mais reverenciado da história. Suas obras mais lidas são Sobre a Brevidade da Vida (Penguin/Cia das Letras – clique aqui para comprar*) e Sobre a Tranquilidade da Alma (Nova Alexandria – clique aqui para comprar*).
Epicteto (55-135 d.C.): Foi um escravizado mais tarde liberto que viveu numa cidade que hoje fica na Turquia. Seus principais ensinamentos estão reunidos em um livro batizado de Manual de Epicteto (Edipro – clique aqui para comprar*).
Marco Aurélio (121-180 d.C.): O imperador romano também foi um filósofo que enfrentou adversidades em seu governo e reflete a respeito disso e dos desafios da vida no célebre Meditações (Edipro – clique aqui para comprar*).
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