Medo, preocupação e insegurança. As três palavras traduzem o sentimento do brasileiro face à pandemia do novo coronavírus e seus potenciais impactos sociais e econômicos. É o que confirma um estudo conduzido pela área de Inteligência de Mercado do Grupo Abril em parceria com o instituto de pesquisas digitais MindMiners.
No levantamento recém-concluído, foram entrevistados 4 693 homens e mulheres de todas as regiões do país. A amostra contempla também todas as classes sociais e faixas etárias a partir de 18 anos.
Mais da metade dos participantes se diz extremamente preocupada com a Covid-19 no Brasil. Mas as mulheres valorizam mais o perigo do que os homens: 62% delas estão muito tensas com a situação ante 45% da ala masculina.
O estudo identificou, ainda, que os indivíduos acima de 60 anos estão ligeiramente menos aflitos. Entre eles, 46% estão extremamente preocupados, número que sobe para 55% quando se consideram as pessoas mais novas. O dado chama a atenção porque sexagenários em diante compõem o grupo de risco para complicações da Covid-19 — sujeitos com doenças crônicas e imunidade comprometida também fazem parte dele.
Quando questionados sobre o principal motivo de preocupação, os respondentes apontam sobretudo o medo da superlotação de hospitais, que inviabilizaria o atendimento a todos que necessitassem, o aumento do desemprego e a segurança de familiares e amigos. Ou seja, na cabeça do brasileiro, tanto o risco de pegar a infecção como os efeitos da quarentena na economia familiar se misturam.
O fardo do coronavírus sobre a saúde mental
Medo é, de longe, a palavra mais citada como sentimento que revela o estado mental diante do coronavírus. E, nesse sentido, as mulheres se mostram mais abaladas que os homens. Ainda assim, 54% dos participantes nutrem esperanças e têm fé de que a crise se resolverá.
É inegável o impacto da pandemia na rotina e no bem-estar dos cidadãos: 86% do público diz já enfrentar alguma dificuldade no dia a dia. Incapacidade de relaxar e pressão em relação às finanças são os espinhos mais frequentes e dolorosos.
O dado reflete algo que médicos e psicólogos já vêm alertando: o perigo de o coronavírus levar uma epidemia de transtornos como depressão e ansiedade fora de controle. Para evitar isso agora ou depois, os profissionais aconselham atividades relaxantes (meditação, ioga, treino de exercício em casa, leituras…) e a procura de um especialista se a mente não estiver dando conta — hoje, tanto psicoterapeutas como médicos podem atender a distância.
Na pesquisa, os mais de 4 mil respondentes contam o que estão fazendo para preservar a cabeça na crise. Em primeiro lugar vem navegar pela internet, seguido por ver TV e ler. Apenas três em cada dez fazem exercícios físicos com essa finalidade, 18% do público medita e, por ora, só 4% mantém consultas remotas com um psicólogo. Entre as recomendações dos experts, maneirar nas telas e no noticiário intenso de Covid-19 também tende a ser bem-vindo.
Outra questão que aflige os brasileiros é a preocupação com o trabalho e a renda em casa. Seis em cada dez participantes indicam que têm medo de perder o emprego ou encarar uma redução na conta bancária.
Ainda que as classes sociais desfavorecidas sintam mais o baque, 10% do público em geral alega já ter perdido emprego ou renda em função da pandemia e 70% teme que a crise afete seus direitos trabalhistas.
Na relação com a empresa, 1/3 das pessoas já trabalham em regime de home office integral — medida encorajada pelas autoridades a fim de se alcançar o isolamento social. Mas 42% das companhias deixaram de dar orientações sobre como cumprir as funções nessas circunstâncias e apenas 38% demonstraram preocupação com a saúde mental do funcionário.
As mudanças na rotina
A pandemia impactou o cotidiano de quase todo mundo, como comprova o estudo do grupo Abril e da MindMiners. Pelo menos 75% dos entrevistados passaram a lavar mais as mãos e usar álcool em gel para prevenir o contágio. E seis em cada dez brasileiros não estão participando mais de encontros pessoais e mantêm distância dos outros enquanto conversam.
No levantamento, 13% relataram usar máscaras de proteção na rotina, número que já está decolando com as recomendações do Ministério da Saúde de procurar usar utensílios do gênero, ainda que caseiros, ao sair às ruas.
Assusta ver, no entanto, que cerca de 230 respondentes assumem não ter alterado nada no dia a dia diante de uma doença que já se alastrou por todos os estados brasileiros.
Felizmente, a pesquisa revela que a maioria das pessoas criou consciência do perigo e está fazendo sua parte. Inclusive porque 73% delas estão ou moram com alguém no grupo de risco (idosos, hipertensos, diabéticos etc). Grande parte do público também concorda com as medidas de restrição de circulação e comércio adotadas pelos governos estaduais.
A quarentena, porém, repercute em hábitos considerados saudáveis. De um modo geral, 16% dos participantes contam que a dieta piorou e os exercícios físicos sumiram da agenda.
Em matéria de alimentação, quatro em cada dez participantes passaram a ingerir menos frutas e verduras, comem em maior quantidade, consomem mais produtos industrializados e não têm horário para fazer as refeições. Todos esses hábitos são desencorajados pelos nutricionistas pensando na manutenção da saúde, do peso e da própria imunidade — tão importante nesses tempos de Covid-19.