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Covid-19: quando o medo de sair de casa se torna preocupante?

Novas variantes e dados conflitantes provocam receio, mas é preciso prestar atenção aos sinais de que o medo ultrapassou o limite do razoável

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 19 abr 2022, 12h38 - Publicado em 2 dez 2021, 19h18
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  • Em um dos episódios da série “Solos”, da Amazon Prime Video, uma mulher fica isolada em casa por 20 anos para se proteger de um vírus mortal. O problema é que as restrições tinham acabado há muito tempo – mas ela se nega a sair.

    Esse comportamento é conhecido como “síndrome da caverna” e não está tão distante de nossa realidade – guardadas as devidas proporções, obviamente. Após quase dois anos de pandemia de coronavírus, é preciso ficar atento para avaliar se o medo não ultrapassou o limite do razoável.

    É claro que o fato de recebermos novas informações o tempo todo, como a do potencial risco da variante Ômicron, não ajuda muito. “Até quem estava louco para sair de casa sentiu uma frustração muito grande. Fora o balde de água fria, veio o medo de que o isolamento total seja necessário novamente”, comenta Claudia Oshiro, especialista em Terapia Comportamental e Cognitiva pela Universidade de São Paulo (USP).

    A falta de confiança nas informações divulgadas por líderes e governantes só piora a situação, na visão de Daniel Kupermann, psicanalista e professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). Some isso a uma característica da nossa natureza, que é demorar um pouco a reagir.

    “A psicanálise tem um termo chamado de inércia psíquica. É a resistência do ser humano em aderir a novidades. Sair de casa, depois de tanto tempo, transformou-se em algo novo para nós. E isso é normal para quem ficou um ano e meio em casa com medo de ser contaminado”, afirma o especialista.

    + LEIA TAMBÉM: Máscaras e mais: a vida em sociedade em meio à queda de casos de Covid-19

    A “síndrome da caverna”, também chamada de “síndrome da gaiola” ou “da cabana”, ocorre quando a pessoa se isola totalmente. Esse fenômeno foi citado pela primeira vez por volta de 1900 nos Estados Unidos. Na época, ele era observado entre caçadores que ficavam muito tempo isolados durante o inverno e, depois, tinham dificuldade de voltar a viver em sociedade.

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    “A gaiola agora está aberta, mas algumas pessoas estão fragilizadas ou adquiriram transtornos nesse período. Cada um tem o seu tempo”, avalia a psicóloga Marilene Kehdi, de São Paulo, lembrando que o vírus ainda está em circulação.

    Depressão, ansiedade e fobia social ficaram mais comuns, sem falar que uma porção de gente passou por um ou vários lutos. Alguns indivíduos engordaram ou emagreceram muito, outros perderam seus empregos e tiveram mudanças bruscas no dia a dia. Por isso, nem sempre é fácil reencontrar os amigos e retomar a rotina de antes.

    Outra parte da população já sofria de transtornos mentais e viu seu caso se agravar. “Algumas dessas pessoas até acharam que a situação era agradável, porque não tinham mais a obrigação social de sair de casa. Mas, com o tempo, é preciso verificar se essas desculpas continuam plausíveis”, avalia Kupermann.

    A verdade é que, em menor ou maior grau, todo mundo foi afetado pela pandemia, e a nossa casa foi eleita como o local mais seguro, segundo a psicóloga. Não que esse raciocínio esteja errado, pelo contrário. Mas, com a vacinação caminhando e o número de casos e mortes despencando, algumas flexibilizações se tornaram possíveis. Só que uma parcela segue sem conseguir colocar o pé para fora.

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    Quando é preciso se preocupar?

    Máscaras e distanciamento ainda são recomendados, mas dá para ir se movimentando aos poucos. Agora, se houver isolamento total quando não há uma necessidade real dele, aí talvez seja bom buscar ajuda.

    Para Kupermann, o apito de alerta deve soar quando o discurso vai muito na contramão dos fatos. “Hoje, sabemos que a volta é gradual e pode ser feita com segurança. Mas há pessoas buscando uma espécie de sinal divino de que agora estão completamente seguras. Essa certeza sempre será ilusória”, defende. Avaliar bem os riscos com ajuda informação de qualidade é um caminho para saber até onde é possível chegar.

    + LEIA TAMBÉM: A carga emocional da pandemia entre os brasileiros

    Marilene observa que o medo é um sentimento irracional e que faz parte da vida. “Uma pista de que ele passou do limite saudável é quando causa transtornos de funcionalidade, afetando a relação com os amigos, a família e até no trabalho”, esclarece.

    Quem desconfia de que está com um medo excessivo pode se testar aos poucos. Mas lembre-se: ainda é recomendável evitar lugares fechados, então não precisa chegar a esse ponto. “É possível fazer pequenas movimentações, como caminhar ao ar livre e dar voltas no quarteirão, usando bastante a respiração para aliviar a ansiedade”, sugere a psicóloga.

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    Inclusive, com o verão chegando, outros programas interessantes são passear em parques e ir à praia. Que tal marcar um piquenique com os amigos? Priorizar esse tipo de ambiente e interação favorece aqueles que ainda têm uma certa resistência em sair.

    Reorganizar a rotina é outra ideia. “Busque ter dias menos estressantes e conversar sobre outros assuntos que não sejam a pandemia. Alimentar os pensamentos negativos dá força para o medo”, explica Marilene.

    Preste atenção no outro

    É importante que amigos e familiares sirvam de apoio e percebam os sinais de quem precisa de auxílio especializado. “Quem mudou demais o comportamento em relação ao período pré-pandemia já merece mais atenção”, resume Marilene.

    Ela cita, por exemplo, aquele indivíduo que saía muito e já não consegue colocar o nariz para fora, ou a criança que amava ir à escola e, agora, quer ficar em casa.

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    Como comentamos, há quem possa ter desenvolvido transtornos mentais. Por isso, fique de olho:

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