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Uma possível vacina contra o HIV fracassou nos testes. E agora?

Pesquisa traz resultados ruins em humanos e adia a chegada da primeira vacina contra o vírus da aids. Saiba o que ocorreu e quais as promessas restantes

Por Maria Tereza Santos
7 fev 2020, 18h49

Um estudo promissor iniciado em 2016 para desenvolver o que seria a primeira vacina contra o HIV foi interrompido. O Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas (Niaid), agência governamental americana que custeava a pesquisa, anunciou a decisão após concluir que esse imunizante não é eficaz.

Chamado de HVTN 702 (ou Uhambo), o experimento vinha sendo realizado na África do Sul. Ele se baseava em uma possível vacina que foi testada em 2009 na Tailândia e que havia alcançado bons resultados contra o vírus da aids.

Foram utilizados dois compostos experimentais, dos laboratórios Sanofi e GSK. Eles foram modificados em relação ao experimento na Tailândia para enfrentar o subtipo específico do HIV mais comum no sul do continente africano — região onde a doença tem maior prevalência. O nome dessa versão do vírus é Clade C.

O esquema de vacinação incluiu várias doses de reforço. A ideia era gerar uma resposta imune robusta e durável, que não permitisse a instalação do agente infeccioso no corpo.

“Uma vacina é essencial para acabar com a pandemia global e nós esperávamos que essa candidata funcionasse. Lamentavelmente, não deu certo. As pesquisas prosseguirão com outras abordagens para chegar a um imunizante efetivo e seguro que ainda acredito que pode ser alcançado”, afirmou Anthony S. Fauci, diretor da Niaid, em comunicado à imprensa. Tempos atrás, publicamos uma entrevista com esse expert em nosso site.

Como funcionou o estudo Uhambo

Os cientistas recrutaram 5 407 sul africanos soronegativos (ou seja, sem HIV no sangue). O grupo era composto por homens e mulheres sexualmente ativos de 18 a 35 anos. Durante 18 meses, uma parte tomou seis doses da vacina, enquanto a outra recebeu o mesmo número de aplicações, porém de uma substância sem nenhum efeito (placebo).

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Para garantir a segurança, todos foram monitorados de perto e receberam cuidados para a prevenção do vírus, incluindo acesso à profilaxia oral pré-exposição (PrEP), um método em que se usa remédios antes de se expor a situações de risco para evitar a infecção.

Aí, em uma análise preliminar feita no fim de janeiro de 2020 com 5 383 voluntários, veio a decepção. No grupo vacinado pra valer (2 694), 129 pessoas se infectaram. Já na turma que recebeu placebo (2 689), ocorreram 123 contágios — números praticamente iguais do ponto de vista estatístico. A equipe concluiu que o imunizante em questão não é eficaz.

“O povo da África do Sul fez história respondendo a essa importante questão científica. Infelizmente, os resultados foram diferentes do esperado”, lamentou a pediatra Glenda Gray, chefe do protocolo da HVTN 702.

A busca pela vacina contra o HIV continua

A boa notícia é que esse não era o único estudo em andamento no mundo para criar um imunizante contra o vírus da aids. O Niaid financia outros dois, dessa vez com vacinas criadas pela farmacêutica Janssen. Ao contrário do Uhambo, o objetivo dessas investigações é combater uma ampla variedade de subtipos, não apenas um.

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O primeiro, de nome Imbokodo, conta com a participação de 2 600 mulheres, de 18 a 35 anos, em cinco países da região sul africana.

Já o segundo, batizado de Mosaico, analisa 3 800 pessoas de 18 a 60 anos do sexo masculino e transgênero que se relacionam com homens, em oito países da Europa e das Américas — incluindo o Brasil. Os resultados iniciais são previstos para 2021.

Prevenção do HIV para além das vacinas

O Niaid também patrocina um trabalho nas Américas e na África para criar um anticorpo injetável que impediria a instalação do vírus no nosso organismo. O chamado VRC01 foi descoberto em 2010 no sangue de um portador. Os exames da época mostraram que esse indivíduo era capaz debelar até 90% das cepas do HIV. Os cientistas então criaram uma versão sintética do VRC01 e, desde então, vem examinando a possibilidade torná-lo intravenoso.

Além disso, a entidade americana está por trás do antirretroviral cabotegravir, que funcionaria da mesma forma que os medicamentos já utilizados na PreP. Contudo, ele é injetável e teria longa duração.

“Seguiremos explorando caminhos promissores para prevenção com outras vacinas e ferramentas, tanto na África do Sul como ao redor do mundo”, conclui Glenda Gray.

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