O Sistema Único de Saúde (SUS) remendou um atraso histórico no tratamento a pacientes com câncer de rim avançado. Após anos recorrendo a uma estratégia pouco eficiente e pra lá de tóxica, o serviço público agora terá à disposição uma dupla de medicamentos mais potente contra essa doença: o sunitinibe, da Pfizer, e o pazopanibe, da Novartis.
A decisão foi considerada um marco pela Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (Sboc), que fez o pedido de incorporação dos remédios citados. “Temos uma estimativa de mais de 6 mil novos casos por ano de câncer de rim. Apesar de não ser um dos tumores mais prevalentes em nosso país, 40% da população tem diagnóstico em uma fase tardia da doença, na qual o único tratamento disponível é ineficaz e já não é utilizado há mais de uma década em vários países”, afirma o médico Sergio Simon, presidente da Sboc, em nota à imprensa.
Essa terapia obsoleta mencionada por Simon atende pelo nome de interferon-alfa. Segundo um estudo clássico publicado no periódico The New England Journal of Medicine, ela só gera respostas objetivas em 6% dos casos de câncer renal avançado.
Para ter ideia, a mesma pesquisa indica que o sunitinibe traz benefícios consideráveis em 31% dos pacientes – ele é cinco vezes melhor nesse sentido. E não para por aí: enquanto o interferon controla o crescimento da enfermidade por mais ou menos cinco meses, o sunitinibe garante 11 meses (mais que o dobro).
“A incorporação representa um grande avanço na sobrevida e na qualidade de vida dos pacientes com metástase [quando a doença se espalha para outros locais do corpo], ao lembrar do perfil mais seguro desses medicamentos”, diz André Fay, oncologista e membro da Sboc, também por meio de comunicado.
É isso mesmo que você leu: o sunitinibe e o pazopanibe também apresentam menos efeitos colaterais. Eles, por exemplo, provocam menos cansaço, o que contribui para um maior bem-estar. De quebra, são comprimidos, ao passo que o interferon é administrado por injeções.
Oficializada no finalzinho de dezembro, a medida tem 180 dias para entrar em vigor.
Agora veja só: segundo a Sboc, o sunitinibe está aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 2006, enquanto o pazopanibe, desde 2011.
Isso significa que, no primeiro caso, a droga chegou aqui faz mais de uma década – até então, no entanto, ela não havia sido incorporada ao sistema público.
Os dois fármacos recentemente liberados no SUS visam interromper a multiplicação das células cancerosas. Mas reforçamos que eles só entram em cena quando a doença já tiver se espalhado para outros órgãos.
Em casos menos avançados, a cirurgia para retirada de parte do rim (ou mesmo dele inteiro) é uma opção de tratamento. A quimioterapia também surge como alternativa em determinadas situações.
Mais recentemente, a chamada imunoterapia trouxe resultados bem interessantes – inclusive superiores ao sunitinibe. Essas opções, no entanto, estão restritas a alguns pacientes, são caríssimas e, por consequência, não chegaram na rede pública.