Sem terceira dose, população começa a ficar desprotegida contra a Covid-19
Baixa adesão à dose de reforço preocupa especialistas. Entenda por que ela é importante mesmo num cenário de redução de novos casos
Já se fala em quarta dose da vacina contra a Covid-19 para idosos e outros públicos, mas a terceira injeção não atingiu nem 50% dos adultos.
Como ocorre com a gripe, a imunidade conferida pelos imunizantes que protegem contra o Sars-Cov 2 têm duração menor. Se os reforços forem abandonados, aumenta o risco de desenvolver formas graves da doença, e a população ainda dá ao vírus mais chances de circular e criar novas variantes.
“Com a queda do número de casos graves e óbitos, governos e comunidades passaram a relaxar, como se a pandemia tivesse acabado. Mas tão importante quanto é reduzir a circulação de vírus, apontada pelo número de casos, que ainda é considerável”, afirma o virologista Fernando Spilki, professor da Universidade Feevale.
Neste cenário, onde o vírus ainda circula, a terceira dose é essencial para proteger de complicações e evitar mortes, que ainda acontecem com a variante Ômicron. “Com esses dados, todos deveriam se unir com o objetivo de lutar contra o vírus”, completa o virologista.
Com máscaras sendo liberadas e o fluxo de pessoas em festas e eventos aumentando, a vacinação se faz ainda mais importante, lembra o especialista.
Pelo bem individual e coletivo
O porquê da terceira dose parece não estar claro à população, reflete Carlos Magno Fortaleza, professor adjunto da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e presidente da Sociedade Paulista de Infectologia (SPI).
“Vejo que as pessoas encontram motivos para não chegar à dose de reforço. Parte delas pegou Covid e acha que a vacina não foi eficiente. Outra parte não pegou, e conclui que o primeiro ciclo de imunização foi suficiente”, afirma o professor.
É importante lembrar que o objetivo da vacina é proteger contra casos graves e mortes, e não impedir a infecção. Além disso, as justificativas populares para postergar a ida ao posto de saúde não têm embasamento científico. Pelo contrário.
Um estudo, feito em Israel e publicado no jornal científico The Lancet já avaliava a eficácia da terceira dose no ano passado, época em que surgia o alerta de novas variantes.
A escolha do país foi feita porque a imunização lá estava mais avançada. Foram analisados grupos populacionais com e sem o reforço da vacina fabricada pela Pfizer.
Os pesquisadores concluíram que o índice de casos graves foi menor no grupo que recebeu a terceira dose cinco meses após ter recebido o primeiro ciclo de injeções.
A cidade de Botucatu, no interior de São Paulo, também foi palco de uma dessas investigações, com o estudo feito em parceria com a Escócia também publicado pelo The Lancet.
“Foi constatado que três meses após ter recebido as duas doses da vacina da AstraZeneca, o risco de ter Covid grave triplica, o que reforça a importância da imunização periódica”, afirma o professor, que coordenou o estudo no Brasil.
Os pesquisadores pontuam que essa queda na efetividade pode ter sido causada pela influência de novas variantes. Por outro lado, estudos com a Ômicron demonstram que o reforço aumenta a resposta contra as mutantes.
Quando acabam as doses de reforço?
Provavelmente, nunca, ou pelo menos não tão cedo. Mas o significado delas deve mudar. Como na vacina da gripe, que é anual, a proteção contra a Covid parte do mesmo objetivo: manter a população protegida sempre, em especial das formas graves da infecção.
Isso porque o tempo não para, e o sistema imunológico começa a “esquecer” o Sars-Cov 2. Com os reforços periódicos, ativamos tanto as células de proteção mais simples quanto as que guardam na memória do corpo a lembrança de que o vírus é um invasor a ser combatido.
“Do mesmo modo que vacinamos todos os anos contra a gripe, teremos de nos proteger contra a Covid. As pessoas precisam entender que é a mesma lógica, só que com um prazo mais curto”, lembra o professor da Unesp.
“A Fundação Bill Gates e Melinda tenta há anos fazer a vacina perfeita contra o influenza, para que essa atualização anual seja dispensada, mas nunca conseguiram. Quem sabe teremos imunizantes perfeitos para Covid no futuro?”, questiona o professor.
E qual será o intervalo?
Com o andamento das campanhas de vacinação, governantes de cada região começaram a avaliar qual seria o melhor prazo para aplicar a terceira e a quarta doses.
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No Brasil, a decisão foi adiantar de seis para cinco meses o intervalo entre o primeiro ciclo vacinal (duas doses) e o reforço, e mais cinco meses até a quarta dose, para quem ela é indicada. Mas, claro, tudo pode mudar conforme os estudos avançam.
O ideal, segundos os especialistas, é que se chegue a um modelo de campanha periódico contra a Covid.
Já estão em andamento estudos e testes com vacinas atualizadas com o objetivo de serem mais eficazes contra novas variantes.
Enquanto isso, é preciso ficar de olho nas datas de sua carteirinha. Inclusive nas próximas recomendações que virem para crianças e adolescentes — lembrando que a cobertura infantil também está abaixo do esperado.