Prejuízos causados por ‘chip da beleza’ estão chegando aos consultórios
Acne, queda de cabelo, voz engrossada e aumento do clitóris são algumas das consequências do uso do implante de hormônios – e algumas são irreversíveis
Os resultados danosos do chamado “chip da beleza”, que foi muito propagado por celebridades, estão chegando aos consultórios médicos. Apesar de ter recebido o apelido de “chip”, cabe ressaltar que falamos de um implante de hormônios que promete aumentar a libido, fortalecer músculos, amenizar a celulite e impedir o fluxo da menstruação, reduzindo os sintomas da TPM.
Preocupada, a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (Sbem) divulgou uma nota na qual contraindica a utilização desse recurso para qualquer tipo de finalidade, seja estética ou terapêutica. Inclusive, os especialistas já alertaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre os efeitos colaterais que andam observando em quem apostou nessa moda.
“Pele com acne e oleosidade, queda de cabelo, crescimento de pelos, aumento do clitóris são algumas das reclamações. Uma delas, que é irreversível, é a voz engrossada”, afirma o endocrinologista Cesar Boguszewski, presidente da Sbem. E as consequências não param por aí.
O que tem nesses implantes
O conteúdo principal deles é a gestrinona, um hormônio masculino semelhante à testosterona. Ele costuma ser indicado em situações específicas, como a endometriose ou transtorno do desejo sexual hipoativo (DSH), quando há queda na libido.
“Mesmo assim, esses tratamentos ocorrem com medicamento via oral. Não há nenhum estudo que comprove a eficácia dessas terapias por meio de implantes”, alerta o médico.
Se não houver razão para recorrer à gestrinona, seu uso só tende a fazer mal à mulherada.
“O sexo feminino tem um metabolismo diferente, e o processo da menopausa age como protetor contra algumas doenças. Com o implante, o organismo muda para um perfil androgênico [mais masculino] e, aí, essas mulheres começam a ter risco de colesterol aumentado, doenças cardiovasculares, entre outros problemas”, alerta Boguszewski.
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Como se não bastasse, esses implantes só são feitos em farmácias de manipulação e profissionais de saúde podem misturar outros hormônios e substâncias na solicitação.
“Quando a pessoa nos procura para tratar os prejuízos, é difícil saber ao certo o que ela colocou no corpo”, descreve o endocrinologista. Dependendo da mistura e das doses administradas, o tal chip pode, por exemplo, mexer com os níveis de insulina e afetar ou sobrecarregar alguns órgãos.
Até é possível retirar alguns tipos de implantes, mas o médico conta que as mulheres só percebem os efeitos colaterais quando é tarde demais. “Ele vai liberando as substâncias aos poucos e, no começo, a sensação é de bem-estar. A mulher perde peso, sente-se mais forte e bonita, sem imaginar que o problema que virá a longo prazo”, conta o presidente da Sbem.
Substância é proibida
Entidades médicas já fizeram diversos alertas sobre os implantes de hormônios. Sem sucesso para brecar a utilização desenfreada desse produto, a Sbem protocolou um pedido formal para que a Anvisa endureça as regras de venda da substância.
“Não existe permissão para o uso de gestrinona no Brasil, e a Anvisa precisa tomar providências porque a situação já saiu do controle”, frisa Boguszewski.
Na nota divulgada, a Sbem informa que a gestrinona tem ação anabolizante e está na lista de medicamentos considerados como doping da Wada (World Anti-Doping Agency).
Por essas e outras, os médicos pedem que a Anvisa coloque a substância na lista chamada de C5. Com essa medida, a venda só poderá ser feita com apresentação da Receita de Controle Especial (RCE) em duas vias. Esse documento deve conter o CPF do médico e o número CID da doença (Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde).