Pessoas com diabetes tipo 2 têm mais fraturas, mas não costumam apresentar alterações no exame de densitometria óssea, que avalia a saúde do esqueleto. Eis que um estudo acaba de apontar uma possível resposta para esse enigma.
O trabalho, realizado pela Fundação Pró Renal em parceria com o Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, analisou a glicemia e amostras de osso coletadas em biópsia de 26 mulheres na pré-menopausa, diagnosticadas há pelo menos nove anos com diabetes tipo 2.
As voluntárias que tinham o pior controle glicêmico expressavam índices menores de formação óssea. Outras alterações estruturais detectadas sugerem que o excesso de açúcar no sangue abala a função de células envolvidas na manutenção do esqueleto. Ocorre que essas disfunções não aparecem nos exames tradicionais, embora facilitem as lesões.
E mais: a presença de complicações crônicas do diabetes, como retinopatia ou nefropatia, estava associada a um índice ainda maior de fraturas. Isso, no entanto, provavelmente sinaliza que a enfermidade, conforme progride, prejudica diferentes partes do corpo — inclusive a ossatura.
Trata-se do primeiro estudo a verificar a qualidade do osso diabético por meio da histomorfometria óssea, uma avaliação celular minuciosa do tecido. Os achados, resultados do doutorado do endocrinologista paranaense Vicente Andrade, foram publicados no periódico científico The Journal of Clinical Endocrinology & Metabolism.
O diabetes e a saúde dos ossos
Recentemente, a osteoporose foi oficializada como uma possível complicação do diabetes tipo 2. Mas o fato da densidade óssea se manter estável entre os pacientes intriga os cientistas.
“A pesquisa proporcionou um maior entendimento do que ocorre no osso do portador da doença”, disse, em comunicado, a endocrinologista Carolina Aguiar Moreira, membro da Fundação Pró-Renal que assina o artigo.
Não se sabe exatamente por que a glicemia alta provoca aquelas alterações no esqueleto, porém o estudo cita hipóteses já aventadas no passado. Pode ser que danos nos vasos sanguíneos que abastecem os ossos provocados pelo excesso de glicose deixam essas estruturas desnutridas. Também é plausível que o acúmulo de um tipo de molécula chamada “produto final de glicação avançada” (ou AGE, na sigla em inglês) esteja por trás dessa consequência.
De qualquer forma, os autores ressaltam que a saúde óssea de quem tem diabetes deve ser acompanhada de perto no consultório. “É importante os médicos saberem que, além das complicações clássicas, a glicemia não controlado predispõe a fraturas”, ressaltou Carolina.