A realização de procedimentos estéticos por profissionais não habilitados com graves consequências retorna ao centro das atenções. Desta vez, o caso envolve a morte da influenciadora digital e modelo Aline Ferreira, de 33 anos, moradora de Brasília, após implante nos glúteos de polimetilmetacrilato, mais conhecido pela sigla PMMA.
A vítima foi submetida ao procedimento em uma clínica estética de Goiânia. Alguns dias depois, teve febre e foi internada. Faleceu em 2 de julho, por causas não divulgadas. A Polícia Civil de Goiás informou que a dona do estabelecimento foi presa na quarta-feira, 3, suspeita de crimes contra as relações de consumo.
A mulher foi autuada em flagrante por induzir o consumidor a erro, uma vez que se apresentava como biomédica sem ter formação, por execução de serviço de alta periculosidade contrariando autoridade competente e por exercício ilegal da medicina. A polícia vai instaurar investigação para averiguar se houve lesão corporal seguida de morte.
Diante do episódio, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) emitiu uma nota alertando que procedimentos estéticos invasivos devem ser feitos por médicos habilitados e com situação regular no Conselho Regional de Medicina (CRM).
“Procedimentos que usem a substância PMMA devem ser indicados e realizados por médicos, pois podem produzir resultados imprevisíveis e indesejáveis, incluindo reações incuráveis e persistentes”, destacou a SBD em nota.
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O que é e para que serve o PMMA?
O polimetilmetacrilato (PMMA) é um componente plástico com diversas funções na área da saúde e em outros setores produtivos.
A aplicação da matéria-prima varia de acordo com as formas de processamento do produto. A substância está presente em itens como lentes de contato, implantes de esôfago, cimento ortopédico, entre outros.
No contexto de procedimentos estéticos, o recurso é útil para o preenchimento cutâneo, com uso específico por profissionais habilitados. Nesse caso, o PMMA é utilizado em microesferas, numa forma semelhante ao gel, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
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Vale destacar que o produto não é recomendado para fins estéticos generalizados por diversas entidades médicas.
A SBD frisa que a substância é um recurso importante para o tratamento de pacientes que apresentam perda localizada e significativa de gordura, quadro clínico conhecido por lipoatrofia severa.
As causas do problema incluem componentes genéticos, uso de medicamentos, agravamento da aids, traumas e inflamações crônicas.
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O uso de PMMA é autorizado pela Anvisa?
No Brasil, esse tipo de material precisa ser registrado na Anvisa, sendo considerado um produto de uso em saúde da classe de risco máximo. De acordo com a agência, há registros de produtos para essa finalidade há mais de dez anos no país.
Entre as autorizações de aplicação, estão casos como:
Ajuste de lipodistrofia: condição que leva à concentração de gordura em algumas partes do corpo.
Correção volumétrica facial e corporal: tratamento de alterações, como irregularidades e depressões no corpo.
A concentração de PMMA em cada produto varia. Além disso, existem indicações específicas dos locais do corpo onde podem ser feitas as aplicações.
Por isso, a utilização requer avaliação prévia de saúde e não pode ser desvinculada do atendimento médico em local adequado. “Vale destacar que a realização de tratamentos devem ser feitos em estabelecimentos de saúde, como consultórios médicos, clínicas e hospitais, locais onde é possível observar os quesitos de biossegurança dos procedimentos”, pontua a SBD.
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Quais os efeitos colaterais e riscos do PMMA?
O uso da substância pode causar reações imediatas ou em curto prazo, tais como:
- inchaços locais
- processos inflamatórios
- reações alérgicas
- formação de caroços na pele, também chamados de granuloma.
Em nota, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) alerta para o aumento de procedimentos com o material no mundo. “Com a invasão de profissionais não médicos e novas áreas de tratamento, observa-se um aumento no número de casos de necrose de pele, perda de visão, alterações neurológicas e até morte”, diz o texto.
A entidade reforça a recomendação de procurar médicos especialistas para o uso de injetáveis com segurança.
“Os preenchedores definitivos, como é o caso do PMMA, por serem substâncias estranhas ao corpo, podem causar formação de biofilme e inflamação local crônica, além de aumentar a possibilidade de infecção, que, se não tratada adequadamente, pode levar a complicações mais graves”, explica o cirurgião-plástico Fernando Amato, membro da SBCP.
A cirurgiã-plástica Patrícia Marques, que também integra a SBCP, explica que, uma vez injetado, o material se espalha pelo tecido e não pode ser facilmente retirado, como uma prótese de silicone, por exemplo.
“O PMMA é bastante procurado por não ser absorvido pelo corpo, mas pode causar reações imprevisíveis a longo prazo. Ele ‘endurece’ no local aplicado e pode causar complicações com sequelas irreversíveis, como infecções crônicas e deformidades”, alerta Patrícia.
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