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O que é o Alzheimer, quais são os sintomas e tratamentos

O que já sabemos sobre esse tipo de demência, dos primeiros indícios ao diagnóstico e as perspectivas de controle com medicamentos e outras intervenções

Por Fabiana Schiavon
14 jun 2023, 13h32
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  • Definir completamente a doença de Alzheimer ainda é um desafio para a medicina. Sabe-se que ela provoca problemas na memória e na cognição, e tem a ver com a presença anormal de duas proteínas que interferem no funcionamento do cérebro: a tau e a beta-amiloide.

    “O que a ciência ainda procura entender é a relação entre essas proteínas, como uma influencia a outra ou, ainda, de que maneira elas alteram a função cerebral”, afirma Luiz Andre Magno, diretor médico sênior da Lilly Brasil.

    Sem a compreensão clara de como se dá essa dinâmica no cérebro, ainda são poucos os caminhos ainda para conseguir retardar ou interromper o avanço da doença. Para tornar tudo ainda mais desafiador, o depósito das duas proteínas aumenta normalmente com o envelhecimento.

    “Quando analisamos o cérebro de uma pessoa com mais de 90 anos, ela terá níveis altos dessas proteínas, mas quando fazemos um exame mais avançado, pode não haver sinal da doença”, afirma Ricardo de Carvalho Nogueira, neurologista do Hospital Nove de Julho.

    + Leia também: Alzheimer: o começo do fim

    O  que é o Alzheimer

    Dentro do que se sabe, o Alzheimer pode ser definido como um mal que acomete o cérebro e que está por trás de 60% a 80% dos casos de demência, segundo a Associação de Alzheimer, nos Estados Unidos.

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    “Demência é um termo usado para se referir à perda de memória e a outras capacidades cognitivas que podem impactar de forma significativa o dia a dia de uma pessoa”, define Magno.

    Trata-se de um problema progressivo e incurável, que acomete principalmente pessoas com 65 anos ou mais. Os tratamentos atualmente disponíveis visam apenas desacelerar a evolução natural da doença.

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    Sintomas: como se manifesta o Alzheimer?

    Os sintomas são bastante variáveis, segundos os médicos. Mas há alguns sinais de alerta que podem chamar mais atenção.

    “Os mais comuns seriam os lapsos de memória que prejudicam o dia a dia, como esquecer compromissos e datas importantes, não se lembrar de informações que recebeu recentemente, perguntar a mesma coisa a alguém inúmeras vezes e até mesmo esquecer de palavras simples do vocabulário”, explica Magno.

    + Leia também: Saiba diferenciar os sinais do Alzheimer e do esquecimento normal

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    Magno ressalta que esses sintomas podem evoluir progressivamente a partir dos anos. O indivíduo já com sintomas pode ainda trabalhar bem, dirigir sozinho, mas vai percebendo certas falhas de memória.

    “Por vezes, os indícios podem ser difíceis de notar no início ou até serem relacionados ao estresse, daí a importância das consultas médicas rotineiras”, pontua Magno.

    É o impacto na qualidade de vida que vai deixar claro que algo está errado. “Quanto maior o autoconhecimento e a atenção de quem convive, mais precoce será o diagnóstico”, avalia Nogueira.

    Confira outros sinais:

    O diagnóstico do Alzheimer

    Tudo começa com uma investigação no consultório. A partir da consulta inicial, o médico fará uma seleção de exames neurológicos, físicos, de sangue, além de testes cognitivos. Tanto o geriatra quanto o neurologista estão aptos a fazer essa investigação.

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    Exames de ressonância magnética e tomografia pode constar nos pedidos. Há, ainda, a análise do líquido cefalorraquidiano, conhecido como líquor, que consegue estimar como estão os níveis das proteínas beta-amiloide e TAU no sistema nervoso.

    + Leia também: Qual é a diferença entre tomografia e ressonância?

    Essas análises ajudam a diferenciar o Alzheimer de outras demências. E há ainda novidades recentes. Um dos avanços é a tomografia por emissão de pósitron (PET), ela auxilia no diagnóstico do Alzheimer de maneira objetiva.

    “Usa-se uma pequena quantidade de marcadores radioativos administrados intravenosamente que possibilitam ao radiologista ver determinadas patologias no cérebro”, explica Magno.

    Exames de sangue que ajudam a determinar o risco da doença já estão disponíveis, mas ainda não são recomendados para diagnóstico. E está em estudo pelas empresas Lilly e a Roche Diagnostics o desenvolvimento de outras metodologias.

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    “Estamos desenvolvendo o painel de plasma amiloide, um exame de sangue inovador que visa dar suporte a um diagnóstico precoce da doença. Além disso, a Lilly está pesquisando um teste para medir no sangue os níveis de proteína tau”, relata o diretor-médico.

    Etapas do Alzheimer

    Pré-clínico (dura até 20 anos)

    Os esquecimentos são bem ocasionais e não chegam a atrapalhar a rotina ou o trabalho de maneira perceptível.

    Declínio cognitivo leve (dura até 20 anos)

    Parentes e amigos começam a notar os “brancos”, mas é possível executar todas as atividades.

    Comprometimento cognitivo leve (de 1 a 3 anos)

    Os sintomas já estão mais claros e causam certa ansiedade. O sujeito segue com a vida normal.

    Demência leve a moderada (de 2 a 3 anos)

    O diagnóstico tende a ser feito nessa etapa. Surgem episódios de reclusão e agressividade.

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    Demência moderada (de 1 a 2 anos)

    A confusão se acentua e não há mais condição de acompanhar as finanças ou dirigir.

    Demência grave (de 2 a 3 anos)

    O paciente não reconhece mais a própria família. É preciso recorrer a cuidados profissionais.

    Estágio final (de 1 a 2 anos)

    Dificuldades para comer, andar, falar ou fazer qualquer tarefa cotidiana. O indivíduo fica totalmente descolado da realidade.

    Tratamento

    Sem saber a real causa do Alzheimer, não há cura. O objetivo dos médicos, então, é tentar desacelerar o seu avanço e dar a melhor qualidade de vida possível a quem é diagnosticado.

    Ajustes no estilo de vida são importantes no controle dos sintomas. A orientação é buscar uma alimentação saudável, praticar exercícios físicos e atividades que ajudem na cognição.

    medicamentos que ajudam a aliviar o pior sintoma que é a perda da memória. É o caso dos inibidores de acetilcolinesterase, que servem para quadros leves e moderados. Eles impedem a degradação do neurotransmissor acetilcolina, que possui papel na memória.

    Outra opção são os remédios à base de memantina, que ameniza as consequências do excesso de glutamato, outra substância da química cerebral que é prejudicial quando está em níveis elevados, e está envolvida em funções de memória e aprendizado.

    “Esses medicamentos estimulam a memória, porque agem nos sistemas responsáveis por essa função no cérebro, mas não têm o poder de parar a doença”, explica Nogueira.

    O conjunto de intervenções não farmacológicas e farmacológicas visa adiar a chegar do estágio final. “Na prática, significa permitir a independência do paciente em suas tarefas do dia a dia, hobbies e no convívio de qualidade com seus familiares e amigos. Isso é algo extremamente valioso para os próprios pacientes e aqueles que estão ao seu redor”, diz Magno.

    Novos medicamentos para o Alzheimer no horizonte

    Há alguns anos estão em estudos anticorpos monoclonais, que prometem agir no cerne do Alzheimer. Porém, ainda há mais dúvidas do que respostas.

    O aducanumabe é um deles. Ele elimina o excesso de proteína beta-amiloide do cérebro, mas não se comprovou que isso seja capaz de reduzir ou reverter a progressão da doença.

    “Ele foi aprovado pelo FDA, agência americana, mas o resto do mundo questiona seu benefício, tanto que nenhum outro órgão seguiu em frente nessa avaliação”, relata Nogueira.

    + Leia também: O que esperar do novo medicamento para Alzheimer aprovado nos EUA

    Só que, quanto mais iniciativas, mais perto ficamos de chegar a algo melhor. Por exemplo, recentemente surgiu o lecanemabe, já aprovado pelo FDA, agora em trâmite na Agência Nacional de Vigilância Sanitári (Anvisa) e na agência europeia, a EMA.

    “Ele também limpa as proteínas depositadas no cérebro e, dessa vez, houve resultado na progressão da doença. A resposta é mínima, mas é o primeiro a demonstrar real eficácia”, explica o médico do Nove de Julho.

    O estudo do medicamento aponta uma diferença de apenas 10% entre pessoas que tomaram o remédio e as que não fizeram o tratamento.

    “Outro grande problema dele é que só funciona na fase inicial da doença, e diagnóstico precoce é a maior desafio que temos hoje”, completa Nogueira.

    Por fim, há outros dois medicamentos em estudos de fase 3 (os últimos que antecedem a aprovação, feitos com milhares de pessoas): donanemabe e remternetug.

    “Donanemabe é uma molécula biológica que se liga às placas amiloides depositadas no cérebro e está sendo estudada para o tratamento da doença de Alzheimer em estágios iniciais e mesmo pré-clínico”, conta Magno.

    Já o remternetug é semelhante e está em testes para o tratamento do Alzheimer em estágio leve e moderado.

    Prevenção: estimular cérebro funciona

    Como para qualquer doença, ter um estilo de vida saudável é mais do que recomendado. São aquelas regrinhas básicas: dormir bem, alimentar-se com ingredientes o mais naturais possíveis, fazer atividade física regular e controlar o peso e as doenças crônicas.

    + Leia também: O manual de prevenção do Alzheimer

    “Se faltam informações sobre tratamento, não podemos reclamar sobre prevenção. Hábitos de vida são os que mais têm relação com essa doença”, pontua Nogueira.

    Quanto tudo vai bem, o organismo também se livra do risco de diabetes, hipertensão, colesterol alto. “A pressão alta, em especial, tem uma conexão bem direta com o Alzheimer”, diz o neurologista. Ou seja, quanto menos perrengue no corpo, melhor para a saúde mental.

    Não há tantos estudos que conectam a prática de atividade física com o Alzheimer, mas os médicos não têm dúvida de seus benefícios. “Com ela, previne-se também depressão, ansiedade, outros fatores que intensificam problemas neurológicos”, pontua Nogueira.

    Uma das grandes chaves está no estímulo cognitivo – é como fazer uma musculação com o cérebro, treinando aprendizado e memória todos os dias.

    + Leia também: Alzheimer: 4 atitudes para prevenir a doença

    Estudar, ler, fazer as conhecidas cruzadinhas, brincar de jogos de memória e de tabuleiro, como xadrez, podem, sim, ajudar na prevenção.

    “Estudos sempre demonstram que pessoas que tiveram mais acesso à educação podem até sofrer da doença, mas ela será menos grave”, explica o neurologista.

    É possível adaptar esses estímulos aos gostos pessoais. Para quem não gosta de ler, mas curte um filme, Nogueira sugere: assista com legenda, pois já é um estímulo mínimo.

    Qualquer prática com a mente no dia a dia é bem-vinda!

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