Em meio a um ano com recorde de contágios por dengue, outra doença transmitida por mosquitos levanta preocupações. É a febre do oropouche, historicamente endêmica no Norte do país, mas que em 2024 vem registrando cada vez mais contágios em outras partes do mapa.
Essa disseminação atípica levou o Ministério da Saúde a emitir um alerta nacional. Ao todo, o Brasil já teve mais de 5 mil casos confirmados do oropouche em 2024.
Embora a maioria deles esteja concentrada nos estados do Amazonas e Rondônia, outras 11 unidades da federação já registraram infecções – inclusive em áreas mais distantes, como Rio de Janeiro, Paraná e Santa Catarina.
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O que é a febre do oropouche
Como em outras doenças transmitidas por mosquitos, a exemplo da dengue e da chikungunya, a febre oropouche é uma arbovirose, neste caso provocada pelo vírus Orthobunyavirus oropoucheense (OROV).
O inseto contrai o OROV ao picar uma pessoa ou animal infectado e, depois, passa o vírus adiante quando ataca outro ser humano ainda saudável.
Os casos fora do Norte do país ainda são majoritariamente “importados”, ou seja, foram trazidos por pessoas que viajaram para aquela região e contraíram a doença onde ela é endêmica. No entanto, esse comportamento do OROV pode propiciar uma transmissão indireta ou iniciar um ciclo no novo local.
Para isso, basta que a pessoa doente seja picada por um vetor da doença. Ao contrário da dengue, relacionada ao Aedes aegypti, diferentes tipos de mosquitos podem transmitir a febre oropouche. A lista inclui o Culex quinquefasciatus, popular pernilongo.
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“Os cuidados que a pessoa pode ter para evitar essa doença são os mesmos cuidados da dengue. Por ser outro mosquito, os cuidados em relação aos criadouros do Aedes não são exatamente os mesmos, mas usar repelente e colocar tela nas janelas são medidas que seguem funcionando”, diz Marcelo Ducroquet, médico infectologista e professor de Medicina da Universidade Positivo (UP), em Curitiba.
É importante ressaltar que ainda não há vacina para esta doença, então a prevenção do oropouche passa por eliminar os mosquitos e se precaver contra picadas.
Quais os sintomas do oropouche
A maioria dos quadros da febre oropouche pode ter o diagnóstico dificultado porque os sintomas são inespecíficos, isto é, são parecidos com os de outras doenças.
“Essa arbovirose causa febre, dor no corpo e inapetência. E é muito difícil distingui-la da dengue sem um teste laboratorial”, explica Ducroquet.
Como as doenças transmitidas pelo Aedes aegypti são muito mais disseminadas, é comum que o diagnóstico seja feito por eliminação – primeiro é feito um teste para dengue e, caso ele volte negativo, são investigadas outras possibilidades.
Mas há alguns sinais mais característicos que podem acender o alerta de que se trata de um problema diferente.
“[A febre oropouche pode] apresentar sintomas únicos como meningite asséptica em alguns casos, o que a distingue de outras doenças similares”, diz Camila Lopes Ahrens, médica infectologista do Hospital Angelina Caron, também no Paraná.
“Outro diferencial importante é a ocorrência de sintomas gastrointestinais, como náuseas e vômitos”, que são mais comuns no oropouche do que em outras arboviroses, destaca Camila.
Como funciona o tratamento da febre oropouche
Não existe tratamento específico para a doença. O objetivo dos médicos é controlar os sintomas conforme eles aparecem, como uso de analgésicos e anti-inflamatórios, enquanto a febre oropouche segue seu curso.
É importante lembrar que, no caso de dengue, alguns medicamentos são contraindicados, como ibuprofeno e AAS (ácido acetilsalicílico), entre outros. Caso não haja certeza se você tem oropouche ou dengue, deve-se seguir evitando esse tipo de fármaco.
Paracetamol e dipirona são considerados analgésicos efetivos e seguros para os sintomas das duas doenças.
Recomendações gerais, como manter o corpo bem hidratado e em repouso, continuam valendo para todos os casos. “Felizmente boa parte dos cuidados, como hidratação e controle dos sintomas, também vão servir para o oropouche”, enfatiza Ducroquet.
Em geral, os sintomas cedem após uma semana. Caso o quadro se prolongue, é fundamental buscar orientação médica sobre a possibilidade de recorrer a outras abordagens terapêuticas, como medicamentos antivirais.