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Medicamento para artrite pode ajudar em casos de Covid-19 grave

Estudos voltaram a reafirmar eficácia do tocilizumabe como opção para casos severos da infecção viral, mas preço e acesso ainda são desafios

Por Fabiana Schiavon
Atualizado em 13 jul 2021, 16h07 - Publicado em 13 jul 2021, 15h56

Recentemente, a Organização Mundial de Saúde (OMS) passou a recomendar o anti-inflamatório tocilizumabe para casos específicos de Covid-19 grave. A decisão foi tomada com a conclusão de um estudo do tipo meta-análise encomendado pela entidade, publicado no Journal of the American Medical Association (Jama).

No levantamento, o remédio demonstrou reduzir o risco de morte em alguns indivíduos quando associado a corticoides, substância já listada entre as terapias para quadros críticos da doença. O alto custo do tocilizumabe e seus baixos estoques pelo mundo, no entanto, fazem parte do desafio de utilizá-lo contra o coronavírus. 

O Brasil contribuiu com dados para a compilação da OMS, que avaliou 27 estudos, abarcando um universo de 11 000 pessoas internadas com Covid-19. Foram comparados indivíduos que tomaram tocilizumabe (ou o seu semelhante sarilumabe, não disponível no Brasil) com os que fizeram o tratamento padrão e, ainda, com participantes que tomaram placebo.

Por fim, uma comparação foi feita com o uso do medicamento em conjunto com anti-inflamatórios da já mencionada classe dos corticoides, esquema que levou a uma redução de 22% no risco de morrer, apontam os cientistas. 

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“Esse foi o principal benefício. Havia ainda uma preocupação relacionada à possível piora da doença com o uso do medicamento, mas isso não ocorreu”, explica Viviane Cordeiro Veiga, intensivista e cardiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo. 

“É importante informar que a estratégia não é boa para todos os pacientes, nem mesmo para todos que estão internados. Ela teve bons resultados em pessoas internadas que estão utilizando o oxigênio de forma progressiva, ou seja, estão piorando em um curto período de tempo, e só quando usada antes da intubação”, esclarece a especialista.

Uso contra Covid-19 ainda não está na bula, mas medicamento já está em falta

O tocilizumabe é um anticorpo monoclonal que atua contra a interleucina 6, substância que causa inflamações pelo corpo. Nos quadros graves de Covid-19, o indivíduo sofre com uma inflamação sistêmica e perigosa. É aí que o fármaco entra, apagando incêndios em conjunto com os corticoides. 

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Sua aplicação é feita somente com infusão intravenosa, e por ora ele é aprovado no Brasil para tratar a artrite reumatoide, uma doença autoimune. Será preciso alterar a bula, uma competência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), para que ele passe a ser indicado contra o coronavírus. 

Hoje o uso é feito de maneira off label, e a um custo alto. “No Brasil, o tratamento pode custar de 15 a 20 mil reais. Já foi um medicamento mais disponível, mas, com os estudos relacionados à Covid-19, muitos médicos têm receitado a substância sem critério, fazendo ela sumir do mercado”, revela Alexandre Naime, da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

A OMS, que já o incluiu nas recomendações para casos graves da infecção, pede um esforço global para que a substância seja acessível a todos. Em nota, a Roche, fabricante do tocilizumabe, afirma que sabe da falta do produto para o tratamento da artrite e está trabalhando para aumentar a sua produção.

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A fabricante ainda “ressalta a importância do uso racional de tocilizumabe, apenas quando houver real necessidade, sempre com avaliação e prescrição médica, não sendo recomendado o estoque do produto nos domicílios ou mesmo em instituições de saúde”.

O texto também informa que a farmacêutica estuda a possibilidade de pedir aprovação da Anvisa para oficializar a indicação mas que, por ora, não endossa o uso nesse contexto.  “A Roche atende integralmente a legislação brasileira e não realiza, nem apoia nenhuma ação de promoção do uso de tocilizumabe para indicações não aprovadas em texto de bula no país”. 

Segurança do tocilizumabe contra a Covid-19

O estudo recém-publicado pontua que ele não deve ser utilizado quando há uma infecção bacteriana secundária acometendo o indivíduo, pois pode piorar esse quadro, afirma Viviane. “Portadores de problemas no fígado e alterações hepáticas mais graves também não podem receber o tocilizumabe”.

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As possíveis reações adversas no contexto da Covid-19 ainda precisam ser melhores compreendidas. “Uma das limitações do novo estudo é que ele envolve diversos países, incluindo locais em que não há a cultura de relatar efeitos adversos. Por isso, não temos a certeza de que todas as reações possíveis foram mapeadas”, avalia Viviane. 

Novas comprovações frente a estudos anteriores

Outro estudo recente divulgado pelo Recovery, megainiciativa capitaneada pela Universidade Oxford, na Inglaterra, também apontou uma redução de mortes no uso do tocilizumabe. A conclusão dele foi semelhante: a substância apenas potencializa os resultados já conquistados com o uso de corticoides. 

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Por outro lado, a Coalizão Covid-19 Brasil, outra iniciativa de grande porte, viu o contrário: um aumento dos óbitos relacionado à estratégia, que levou à interrupção dos estudos. E uma revisão publicada em maio no periódico Leukemia, do grupo Nature, analisou praticamente a mesma quantidade de estudos da investigação da OMS e não conseguiu confirmar o benefício do risco de morte. 

Os autores ainda destacam que há dúvidas sobre a segurança da estratégia. Para os especialistas, as contradições indicam que o remédio deve funcionar apenas em certos contextos – como vimos, em indivíduos internados com quadros críticos, já em uso de oxigênio, mas ainda não intubados, que não tenham contraindicações. 

Naime, da SBI, aponta que o estudo utilizado pela OMS para chancelar a orientação tem méritos destacáveis, como o fato de ter reunido um bom número de pessoas nessa situação e testado dois tipos de medicamento da mesma classe (inibidores de interleucina 6).

“Essas drogas são indicadas especificamente para impedir que o doente passe para a chamada fase três da Covid, que pode levar o paciente à UTI por conta da chamada tempestade inflamatória”, explica Naime. 

 

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