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A lista de vacinas recomendadas para pessoas que vivem com HIV

Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza um conjunto de vacinas específicas para grupos em condições clínicas especiais

Por Lucas Rocha
13 mar 2024, 18h05
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Vacinação previne o agravamento da doença (Foto: Freepik/Divulgação)
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Que as vacinas oferecem uma proteção adicional contra uma diversidade de doenças infecciosas não há dúvidas. Para grupos vulneráveis, como crianças, idosos e pessoas com condições que afetam o sistema imunológico, elas são ainda mais relevantes. É o caso da infecção pelo HIV.

O vírus atinge principalmente linfócitos T, que integram  sistema imune humano e ajudam a enfrentar diferentes micróbios. Sem o tratamento adequado, o quadro pode evoluir para a aids. A queda da imunidade abre espaço a problemas oportunistas, como pneumonia, tuberculose, câncer e hepatites virais – que podem ser fatais.

Antes de mais nada, vale destacar que existe uma grande variedade de situações no que diz respeito ao HIV.

Pessoas no início da infecção podem ter imunidade preservada, por exemplo. O mesmo ocorre com aquelas que realizam a terapia antirretroviral, que garante não só a manutenção do sistema de defesa, como a qualidade de vida.

Por outro lado, há indivíduos com grave imunodeficiência, com progressão da doença, devido ao diagnóstico tardio ou falta de acesso aos remédios.

“A maior parte das pessoas está em tratamento com antirretroviral e já com plena recuperação do sistema imune. Ainda assim, é pontual frisar a necessidade de vacinas para uma série de patologias”, afirma o infectologista David Salomão Lewi, do Hospital Israelita Albert Einstein.

+ Leia também: Virada de jogo: evolução da medicina revoluciona o tratamento do HIV

Onde receber os imunizantes especiais

O Programa Nacional de Imunizações (PNI) disponibiliza gratuitamente um conjunto de vacinas específicas para grupos em condições clínicas especiais, incluindo pessoas que vivem com HIV.

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A orientação do Ministério da Saúde é que crianças, adolescentes e adultos com HIV sem alterações imunológicas e sem sinais ou sintomas clínicos indicativos de imunodeficiência recebam as doses o mais precocemente possível.

Para isso, o país conta com serviços de saúde específicos: os Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais (CRIE). As unidades têm como finalidade facilitar o acesso a essas vacinas para as pessoas com imunodeficiências e de outras condições específicas.

Para receber os imunizantes, é preciso apresentar pedido médico informando as vacinas necessárias. Os centros estão localizados em todos os estados e no Distrito Federal. Os endereços estão disponíveis online, consulte aqui.

Questionado por Veja Saúde, o Ministério da Saúde destacou que moradores de municípios sem CRIE devem apresentar a documentação de solicitação na unidade de vacinação, que encaminhará o pedido à unidade de referência e disponibilizará o imunobiológico especial.

+ Leia também: HIV: a importância do conceito “Indetectável = Intransmissível”

De quais vacinas estamos falando?

Considerando que alterações no sistema imunológico favorecem algumas infecções, o Ministério da Saúde estabeleceu uma lista de vacinas para pessoas que vivem com HIV, com recomendações específicas para crianças e adultos.

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Os esquemas incluem imunizantes contra a gripe, hepatites, HPV e infecção por um grupo de bactérias chamadas pneumococos, responsáveis por infecções nos pulmões, ouvidos e do sangue, além de meningite.

Vacinas de componente vivo atenuado

Nesses imunizantes, o agente infeccioso é bastante enfraquecido, mas não está completamente inativado. Isso significa que há um risco mínimo de ele provocar a infecção contra a qual deveria proteger. E esse risco pode aumentar em quem está com o sistema de defesa debilitado.

A bem da verdade, em indivíduos imunodeprimidos, o efeito da aplicação de vacinas que utilizam a tecnologia de componente vivo atenuado varia consideravelmente. Podem ocorrer ao menos três situações: falta de resposta adequada; resposta parcial, porém protetora, e risco de evento adverso pós-vacinação.

Nesse contexto, o infectologista e a equipe de saúde são responsáveis por fazer uma triagem cuidadosa para escolher os imunizantes mais adequados para cada indivíduo. Em situações de grave imunodepressão, como fase avançada da aids, a resposta imune é menor.

No entanto, em contextos específicos, o uso de vacinas vivas atenuadas é indicado, pois o risco de adoecimento pode ser maior do que uma eventual reação adversa. Como exemplo, temos a vacina BCG (contra tuberculose) em crianças com HIV ou mesmo adultos, desde que expostos ao risco de doenças como sarampo, rubéola, catapora e febre amarela.

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O Ministério da Saúde destaca que as recomendações sobre essas vacinas em imunodeprimidos não são uniformes. Assim, a análise cuidadosa dos benefícios e dos riscos, bem como a disponibilidade de outros meios de proteção, deve orientar a decisão de usar ou não esse tipo de imunizante.

Esquema vacinal para adultos

Meningite

A meningite bacteriana, associada à inflamação das membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal, pode ser grave, causando sequelas e até mesmo a morte.

Ao todo, sete vacinas são recomendadas para prevenir a infecção no calendário do PNI, sendo duas disponíveis para pessoas com HIV.

  • Vacinas indicadas: Meningocócica conjugada quadrivalente (ACWY) e Haemophilus influenzae tipo b (HiB)

Doença pneumocócica

Ainda no contexto das bactérias, temos a doença pneumocócica, que afeta diferentes partes do corpo, como pulmões, ouvidos, o sangue, além de provocar meningite.

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A infecção é causada por pneumococos (Streptococcus pneumoniae) e outra bactéria, a Haemophilus influenzae tipo b.

“Existem mais de 90 sorotipos de pneumococo, porém, alguns são mais prevalentes. Essas vacinas foram pensadas justamente para cobri-los”, frisa a infectologista Tânia Petráglia, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm).

  • Vacinas indicadas: Pneumocócica conjugada 13-valente (VPC13), Pneumocócica 23-valente (de polissacarídeos) e Haemophilus influenzae tipo b (HiB)

“Esses pacientes também se beneficiam de vacinas contra pneumonias, infecções pulmonares, que protegem eventualmente a incidência nessa população de meningites causadas por esses germes”, complementa Lewi. No SUS, dispomos de duas vacinas: a pneumocócica conjugada VPC13 e a polissacarídica 23 valente, que são complementares e abarcam uma série de subtipos de pneumococos.

Hepatites A e B

As hepatites virais são infecções que atingem o fígado, na maior parte das vezes, de maneira silenciosa. Os tipos A e B podem ser prevenidos pela imunização.

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  • Vacinas indicadas: hepatite A (HA) e hepatite B (HB)

Sarampo, caxumba e rubéola

Doenças comuns na infância podem ter consequências até mesmo na vida adulta.

O sarampo pode provocar pneumonia, infecções de ouvido e inflamação do cérebro, com risco de morte. Em casos raros, a caxumba apresenta complicações que podem até terminar em morte. A rubéola, por sua vez, é mais perigosa para gestantes e recém-nascidos, devido aos riscos de impactos durante a gravidez.

A tríplice viral protege contra as três doenças diferentes. Além de prevenir o agravamento, a dose também reduz a circulação viral e o risco de surtos.

  • Vacina indicada: tríplice viral (SCR)

Catapora

Altamente contagiosa, a catapora geralmente tem boa evolução em crianças, sem grandes riscos à saúde. Em adolescentes e adultos, o quadro clínico é mais pronunciado.

Quando presentes, os sinais mais severos incluem inflamação do cérebro, pneumonia e infecções na pele e ouvido. Também chamada de varicela, a doença é causada pelo vírus Varicela-Zoster.

  • Vacina indicada: Varicela (VZ)

Febre amarela

Assim como a dengue, a febre amarela é uma arbovirose, ou seja, uma doença transmitida por mosquitos. No ciclo urbano, o vetor é o Aedes aegypti, enquanto nas áreas silvestres estão envolvidos insetos dos gêneros Haemagogus e Sabethes.

A infecção pode levar à morte de 20% a 50% dos casos. Os sinais de alerta são febre alta, coloração amarelada de pele e olhos (icterícia), hemorragia, choque e insuficiência de diferentes órgãos.

Nesse caso, a imunização de pessoas vivendo com HIV é recomendada, mas deve ser avaliada caso a caso pelo infectologista que realiza o acompanhamento de rotina porque vacina é feita com o vírus vivo atenuado.

Gripe e Covid-19

O vírus influenza, causador da gripe comum, conta com uma alta capacidade de mutação, o que impõe a necessidade de reformulação anual dos imunizantes com as cepas virais mais relevantes que estão pelo mundo.

Por isso, grupos prioritários devem receber a dose contra a gripe uma vez por ano.

“A gripe pode desestabilizar a doença de base e levar a complicações secundárias, como infecções bacterianas”, diz Tânia.

Já para a Covid-19, o Ministério da Saúde recomenda duas doses de reforço bivalentes contra a Covid-19 para pessoas com HIV.

  • Vacinas indicadas: influenza inativada (INF) e Covid-19 (bivalente)

Difteria, tétano e coqueluche

Embora os casos de difteria tenham reduzido significativamente com a introdução da imunização, a vacina segue um instrumento importante para a prevenção. A doença bacteriana, cujo agente é a espécie Corynebacterium diphtheriae, atinge especialmente as amígdalas, faringe, laringe e o nariz.

Sem proteção e tratamento adequado, há risco de insuficiência respiratória e renal, além de problemas cardíacos e neurológicos.

A infecção pela bactéria Clostridium tetani pode atingir qualquer pessoa. O tétano pode ser perigoso dependendo da idade, do tipo de ferimento, e de outros problemas de saúde.

A coqueluche é uma infecção respiratória causada pela bactéria Bordetella pertussis. Provoca crises de tosse seca, além de impactos para estruturas pulmonares como a tranqueia e os brônquios. Os casos graves são mais comuns em crianças pequenas, menores de seis meses.

  • Vacinas indicadas: Dupla bacteriana do tipo adulto (dT) e  Tríplice bacteriana acelular do tipo adulto (dTpa) – esta para gestantes

HPV

O HPV, uma infecção sexualmente transmissível (IST), não apresenta sintomas na maioria das pessoas. Entre os sinais possíveis, estão verrugas e outras lesões que não são visíveis a olho nu.

A vacinação previne doenças ocasionadas pelo vírus, como diferentes tipos de câncer: colo do útero, vulva, vagina, região anal, pênis e orofaringe.

A dose disponibilizada para essa população no SUS conta com quatro sorotipos do vírus. “Os tipos 6 e 11 provocam as verrugas genitais, que são muito frequentes. Já os tipos 16 e 18 são associados ao câncer”, diz Tânia.

  • Vacina indicada: HPV4 (sorotipos 6,11,16,18)

Outros imunizantes

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomenda outras duas vacinas que não estão disponíveis no SUS e não estão presentes na lista dos Manual dos CRIE.

São elas: meningocócica B, que previne meningites e infecções generalizadas causadas pela bactéria meningococo do tipo B, e a dose contra herpes-zóster e suas complicações, que incluem lesões na pele e impactos para órgãos, como os olhos.

“O herpes-zóster é um fantasma na vida dos imunocomprometidos, com uma alta incidência. Uma doença que tem consequências, como a neuralgia pós-herpética, uma dor que pode durar muito tempo”, reforça Tânia.

Recomendações para crianças e adolescentes com HIV

O esquema vacinal preconizado para crianças e adolescentes de 0 a 19 anos que vivem com HIV apresenta algumas semelhanças e diferenças em relação ao dos adultos. Todas as doses do grupo acima de 20 anos também fazem parte da lista do grupo infanto-juvenil, com alguns ajustes.

O imunizante Haemophilus influenzae tipo b (HiB), por exemplo, é contido na vacina Pentavalente que fornece proteção contra a meningite por HiB e também difteria, tétano, coqueluche (aquelas da tríplice bacteriana) e hepatite B.

A recomendação do Ministério da Saúde inclui ainda vacinas do calendário infantil como:

  • BCG: contra as formas graves da tuberculose
  • VIP: protege contra a poliomielite, que pode causar paralisia infantil
  • Rotavírus: previne contra doença diarreica associada do micro-organismo
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