Ao menos para mulheres sem sintomas de câncer de ovário ou predisposição genética, pedir exames de rotina para detectar essa doença não diminui o risco de mortalidade por ela. A conclusão vem do Grupo de Trabalho de Serviços Preventivos dos Estados Unidos, um órgão que faz recomendações de saúde pública a partir das evidências científicas disponíveis.
Após revisar 74 estudos sobre o assunto, o órgão não encontrou vantagens significativas em preconizar esses testes a quaisquer mulheres com mais de 45 anos – esse tipo de tumor, embora agressivo, é relativamente raro. Pior: além dos custos, eles podem trazer malefícios, uma vez que não raro acusam um câncer que, na realidade, não está no corpo. A isso se dá o nome de falso positivo.
O problema é que, quando o médico se depara com um resultado desses, acaba prescrevendo intervenções desnecessárias. Imagine o impacto de fazer uma cirurgia para retirar um ovário que, na realidade, está intacto. Ou mesmo o abalo psicológico de ouvir do profissional que você tem um tumor agressivo, quando seu organismo está perfeitamente saudável.
Diante desses achados, aquela entidade americana sugeriu não submeter todas as mulheres com mais de 45 anos a essa triagem.
E quais exames são esses?
Estamos falando basicamente do ultrassom transvaginal e de um teste de sangue que aponta a presença de substâncias associadas ao câncer de ovário (embora existam outras técnicas menos modernas). Eles podem ser empregados isoladamente ou em conjunto.
Mas, antes de descartar por completo esses métodos, cabe ressaltar as situações em que eles ainda podem oferecer mais benefícios do que chateações. No documento, os especialistas lembram que mulheres com alto risco de desenvolver a doença devem discutir com o profissional o que fazer para ao menos detectá-la precocemente.
Como saber se você faz parte dessa turma? Ora, pelo histórico familiar de câncer na família e por eventuais testes genéticos que apontam uma propensão à enfermidade. Em resumo, se a pessoa se sentir insegura por qualquer motivo, precisa procurar auxílio médico.
Outra situação em que os exames vêm a calhar é quando a paciente manifesta algum sintoma suspeito do tumor em questão. São eles: inchaço e dor abdominal, intestino preso, náusea, azia, urina com sangue, sensação de bexiga cheia…
No fim das contas, a recomendação atual está sujeita a discussões e pede, acima de tudo, bom senso. Os próprios autores relatam que “possuem confiança moderada de que os malefícios da triagem superariam os benefícios”.
Converse com o seu médico e veja como proceder da maneira mais adequada frente à prevenção e ao diagnóstico precoce do câncer de ovário. Dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mostram que 3% dos tumores femininos no Brasil atacam inicialmente esse órgão. Segundo a instituição, em 2016 foram registrados cerca de 6 mil novos casos.
Nos Estados Unidos, 60% dos episódios só é flagrado em estágio avançado, quando se espalhou pelo corpo. Isso reduz bastante a chance de cura.