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Estudo mostra que a azitromicina não é eficaz em casos graves da Covid-19

O antibiótico azitromicina, um dos mais usados no tratamento do coronavírus, não melhora o quadro de pacientes em estado grave, segundo pesquisa brasileira

Por Frederico Cursino, da Agência Einstein*
Atualizado em 27 Maio 2022, 12h27 - Publicado em 5 set 2020, 12h49
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  • Um novo estudo da Coalizão Covid-19 Brasil revela a ineficácia do antibiótico azitromicina em pacientes com casos graves de coronavírus (Sars-CoV-2). O medicamento não resultou em melhora clínica, como aponta o artigo publicado no periódico The Lancet.

    “Os achados do estudo não sustentam a indicação do uso rotineiro dessa terapia no tratamento da doença em casos graves”, afirmou, em nota, a coalizão. Ela é formada por oito organizações de saúde do país: Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital do Coração – HCor, Hospital Sírio-Libanês, Hospital Moinhos de Vento, Hospital Alemão Oswaldo Cruz, BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, Brazilian Clinical Research Institute (BCRI) e Rede Brasileira de Pesquisa em Terapia Intensiva (BRICNet).

    Para o pesquisador Renato Lopes, diretor da BCRI e integrante do comitê executivo da coalizão, essa descoberta contribui para mudar a prática clínica adotada até o momento. “A azitromicina tornou-se o segundo medicamento mais utilizado para tratar pacientes com coronavírus sem nenhuma evidência científica. Nosso grupo aponta uma resposta para o mundo: não há vantagem em usá-la rotineiramente em casos graves da doença”, ressalta.

    O cardiologista Alexandre Biasi, pesquisador do HCor e membro do comitê executivo do Coalizão Covid-19 Brasil, explica que, por ser um antibiótico, a azitromicina foi utilizada no início da pandemia na tentativa de evitar que os pacientes fossem acometidos por uma infecção oportunista de origem bacteriana.

    Além disso, o potencial anti-inflamatório do medicamento levou a comunidade médica a acreditar que ele teria um efeito benéfico no combate aos sintomas da doença. No entanto, o trabalho dos cientistas brasileiros esclarece que a droga não surtiu o efeito imaginado.

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    “Como não há benefícios, recomendamos que a comunidade médica considere não prescrever o medicamento”, afirma Biasi.

    Como foi feita a pesquisa

    O estudo Coalizão II é pioneiro na avaliação randomizada (considerada o “padrão ouro” das pesquisas científicas) do efeito da adição da azitromicina à terapia padrão em pacientes graves. A investigação começou em 28 de março, analisando 397 pessoas com a Covid-19 e que apresentaram, ao menos, um dos seguintes critérios de severidade: uso de mais de 4 litros de oxigênio por dia; utilização de cânula nasal de alto fluxo, de ventilação não invasiva com pressão positiva ou de ventilação mecânica.

    Além disso, todos os voluntários possuíam fatores de risco para agravamento da doença (hipertensão, diabetes, doenças cardiovasculares ou insuficiência renal crônica). Metade estava em ventilação mecânica a partir do começo das avaliações.

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    Por meio de randomização (sorteio), 214 participantes receberam azitromicina mais o tratamento padrão e 183 receberam apenas o tratamento padrão sem o antibiótico. Cabe destacar que o tal tratamento padrão incluía todas as medidas de suporte hospitalar, antivirais e inclusive hidroxicloroquina.

    Ou seja, não dá pra dizer que a azitromicina não funcionou por não estar acompanhada da hidroxicloroquina.

    Os pacientes foram acompanhados durante 29 dias. Os resultados da análise não indicam nenhuma diferença entre os grupos na chance de melhora. Também não houve discrepância significativa na mortalidade.

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    Entre aqueles que receberam o antibiótico, a taxa de óbitos foi de 42% após 29 dias. Já no grupo controle, de 40%. De acordo com os pesquisadores, a alta quantidade de mortes demonstra a gravidade da doença na população estudada e a necessidade de pesquisas adicionais para identificação de terapias realmente eficazes e seguras.

    O artigo mostra ainda que a incidência de eventos colaterais foi semelhante nos dois grupos de pacientes. Entre os que receberam a adição da azitromicina ao tratamento padrão, por exemplo, 39% apresentaram insuficiência renal e precisaram ser submetidos à diálise. No grupo dos medicados apenas com a terapia padrão, o índice foi de 33%.

    Esse é o terceiro estudo publicado pela Coalizão Covid-19 Brasil em pouco mais de um mês. O primeiro, divulgado no The New England Journal of Medicine no dia 23 de julho, mostrou a ineficácia da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes em estados leve e moderado. O segundo foi publicado no dia 2 de setembro no Journal of the American Medical Association (JAMA) e apontou a eficácia da dexametasona no tratamento de pacientes graves.

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    “A publicação desses três artigos em referências tão importantes para a ciência mundial demonstra a força da pesquisa no Brasil”, afirma o cardiologista Otavio Berwanger, diretor da ARO (Academic Research Organization) do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo, e integrante do comitê executivo da Coalizão. Há outras seis pesquisas em andamento sob a coordenação do grupo visando a avaliação da eficácia e da segurança de potenciais terapias para pacientes contra o coronavírus.

    *Este conteúdo é da Agência Einstein.

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