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Em meio a aumento de casos de Covid-19, quarta dose da vacina é ampliada

A campanha de vacinação do coronavírus, contudo, segue a passos lentos. A segunda dose de reforço chega quando só metade do público-alvo tomou a primeira

Por Chloé Pinheiro
10 jun 2022, 17h20
Vacinação contra a covid dose de reforço
É comum que vacinas contra doenças respiratórias sejam reaplicadas periodicamente.  (Foto: Westend61 (Getty Images)/SAÚDE é Vital)
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O Ministério da Saúde estendeu a recomendação da quarta dose da vacina da Covid-19 — cujo nome correto agora é segundo reforço — para pessoas acima dos 50 anos e profissionais de saúde. A notícia chega em tempo de aumento de casos e discussões sobre uma possível quarta onda da doença.

Alguns estados já estavam aplicando o imunizante neste público-alvo. Mas a campanha de vacinação, que começou forte, desacelerou nos últimos meses. Cerca de metade da população tomou o primeiro reforço (antes chamada de terceira dose). E só 35% das crianças estão devidamente imunizadas.

“A cobertura da primeira dose foi alta [está em 90%], mas estagnou na segunda”, comenta a infectologista pediátrica Mônica Levi, diretora da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm)

A médica destaca que esse problema não é exclusivo do Brasil. “Vimos em Israel, nos Estados Unidos. As pessoas decidiram que duas doses é o suficiente, mas só consideramos protegido quem tem o esquema completo, de acordo com as recomendações do Ministério da Saúde”, completa. 

+ Leia mais: Sem terceira dose, população começa a ficar desprotegida contra a Covid-19

Além da sensação de segurança com a queda de casos graves e óbitos (promovida pelas vacinas, aliás), falta comunicação oficial sobre os motivos para as mudanças no calendário, e a desinformação floresce enquanto isso. 

A vacinação contra a Covid-19 hoje 

Para a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), o ponto crítico é explicar o calendário atual. “A comunicação foi falha em mostrar que, com exceção das crianças, o esquema vacinal completo não é mais o de duas doses”, diz. 

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Portanto, vamos começar esclarecendo esse ponto. Atualmente, a campanha está assim: 

  • Indivíduos acima dos 50 anos e imunocomprometidos: duas doses*, com intervalo definido de acordo com a vacina + dois reforços, com intervalo de quatro meses entre eles 
  • Entre 12 e 49 anos: duas doses (ou dose única) + um reforço 
  • Crianças dos 5 aos 11 anos: duas doses 

O reforço é feito com uma dose, com as fórmulas à base de vetor viral (AstraZeneca ou Janssen) ou de RNA mensageiro (Pfizer). 

* No Programa Nacional de Imunizações (PNI), a vacina da Janssen ainda é de dose única. Mas a SBIm recomenda duas doses com intervalo de dois meses, o que tem sido feito em alguns estados.

+ Leia também: Covid: como funcionam as vacinas de RNA que serão usadas nas crianças

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Vai chegar para todo mundo? 

Até agora, os estudos não mostram muitas vantagens em estender a recomendação para toda a população. Apesar de se infectarem, os indivíduos jovens e saudáveis seguem adoecendo menos gravemente com o esquema das três doses.

A SBIm concorda com a visão do ministério. “Os dados de outros países mostram que os mais velhos e imunocomprometidos se beneficiam mais do segundo reforço”, explica Mônica. É que eles tendem a perder rapidamente a imunidade ensinada pelas vacinas.  

Mas é provável que o cenário mude. Entre as possibilidades, está a de incorporar uma dose adicional para as outras faixas etárias em um futuro próximo. “Com a circulação das filhas da Ômicron, BA.2, BA.4 e BA.5, e passados alguns meses do primeiro reforço, o complemento pode se tornar importante”, continua a pediatra.

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Outra possibilidade é a chegada de vacinas novas, inspiradas nas variantes recentes ou mais eficazes em impedir a transmissão do vírus. Nessa segunda linha de pensamento, há especialistas defendendo que o imunizante poderia ser inalável para criar uma barreira protetora no nariz, principal porta de entrada do Sars-CoV-2.

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Um adendo: experts em saúde pública ponderam ainda que, em um cenário onde há países com falta de vacinas, o ideal seria priorizar a primeira dose nessas regiões para, aí sim, ampliar os reforços ao resto do mundo.     

“Ah, mas eu peguei Covid na onda de Ômicron…” 

Tem notícia falsa circulando por aí afirmando que ter contraído Covid recentemente já desperta as defesas o suficiente para dispensar a vacina. Não é bem assim. 

“A imunidade conferida pela doença tende a ser menor, então precisamos tomar a vacina para garantir a proteação por mais tempo e diminuir o risco de Covid longa”, argumenta Ethel. 

Um estudo publicado recentemente na revista científica Nature confirma que a infecção pela Ômicron confere uma proteção curta e “fraca” contra o coronavírus. “Além disso, os subtipos dessa nova variante têm uma capacidade grande de provocar a reinfecção”, destaca Ethel. 

Pra quê tanto reforço?  

Veja, é a primeira vez que vemos vacinas sendo desenvolvidas tão rapidamente e aplicadas no meio de uma pandemia dessa magnitude. Os principais estudos de segurança e eficácia foram concluídos, mas em outros pontos ainda estamos “trocando o pneu com o carro andando”, como dizem os especialistas.

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A duração da imunidade, como o efeito de um remédio, só pôde ser averiguada na prática, com a distribuição em massa das injeções. E tem também a chegada das variantes, que escapam parcialmente das fórmulas.

Mas isso não quer dizer que a vacina não funcione. “É uma evasão parcial do efeito do imunizante, tanto que até agora estamos vendo uma subida de óbitos e casos graves que não é proporcional ao aumento de casos”, pontua Mônica. Ou seja, o vírus até consegue infectar bastante gente imunizada, mas tem dificuldade em provocar consequências graves. 

É bom lembrar também que é comum haver reaplicações periódicas em outras infecções, especialmente contra as respiratórias, que têm essa característica de sofrer mutações e conferir uma imunidade mais curta. 

No caso da gripe, por exemplo, tomamos o reforço anualmente, independentemente de termos pego gripe alguma vez na vida. “E ninguém fala em vigésimo reforço, nem a doença deixa de circular. É provável que com a Covid aconteça algo semelhante”, comenta Ethel. 

Pandemia não acabou 

Com o relaxamento das medidas preventivas, o surgimento de subvariantes e a chegada do frio, os casos de Covid-19 e de outras doenças respiratórias estão aumentando. “Estamos vivendo uma quarta onda, com aumento da média móvel de novas infecções e elevações nos óbitos”, alerta Ethel. 

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A especialista pontua que a taxa de reprodução do vírus está há três semanas acima de 1 em alguns estados. Nesse cenário, cem pessoas infectadas infectam pelo menos mais cem pessoas, indicando o descontrole da pandemia. 

É fato que vemos menos pessoas adoecendo e as cenas dramáticas das UTIs lotadas parecem superadas, só que isso é justamente por causa dos imunizantes. A Ômicron até tende a ser mais leve, mas os dados da vida real mostram que os não vacinados (ou quem não completou o esquema) são maioria nos hospitais. 

Na onda de Covid do início do ano, em diversos estados os não vacinados ocupavam até 80% dos leitos de UTIs. 

E a vacinação privada? 

Recentemente, foi autorizada a venda da vacina da Covid-19 na rede particular. Algumas clínicas estão disponibilizando as doses inclusive para quem está fora do público-alvo da quarta dose, desde que apresentem prescrição médica, por um preço na casa dos R$ 200. 

As sociedades médicas e especialistas veem a medida com ressalvas. A SBIm divulgou uma nota técnica reiterando que farmácias e clínicas privadas devem seguir o Programa Nacional de Imunizações (PNI). Em outras palavras, precisariam se ater ao público-alvo designado pelo governo.

“Além disso, o centro deve nutrir o sistema de informações do Ministério da Saúde, notificar erros vacinais e se responsabilizar pelo monitoramento de eventos adversos”, pontua Mônica. Na rede pública, a farmacovigilância é muito ativa, garantindo a segurança da vacinação. 

Vale lembrar que o produto vendido, da AstraZeneca, já é aplicado no SUS por meio da parceria com a Fiocruz. 

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