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Coronavírus: quem pegou uma vez não pega de novo?

Na segunda parte de uma entrevista especial, o médico americano Gregory Poland discute a imunidade contra a Covid-19 e aponta possíveis tratamentos

Por André Biernath
Atualizado em 30 set 2020, 12h16 - Publicado em 11 ago 2020, 17h50
quem pegou coronavirus uma vez não pega de novo?
Sobram dúvidas sobre a possibilidade de o coronavírus voltar a infectar uma mesma pessoa.  (Ilustração: Jonatan Sarmento Leia mais em: https://gutenberg.saude.abril.com.br/medicina/os-caminhos-para-o-combate-ao-coronavirus-no-segundo-semestre//SAÚDE é Vital)
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No dia 10 de agosto, divulgamos a primeira parte da entrevista com o médico americano Gregory Poland, da Clínica Mayo. Lá, ele levantou uma série de questionamentos e perspectivas sobre as pesquisas com vacinas contra o Sars-CoV-2, coronavírus responsável pela pandemia atual. Se você ainda não leu, clique aqui.

Na segunda rodada da conversa, o especialista aborda a questão da imunidade: será que quem teve Covid-19 uma vez está livre da doença? Poland também faz uma análise sobre os remédios disponíveis hoje e como esse campo está avançando.

Pelo que vem sendo publicado ultimamente, há pacientes que se recuperam da Covid-19 e, com o passar do tempo, não é mais possível detectar anticorpos no organismo deles. O que se sabe até o momento sobre o desenvolvimento de uma imunidade contra essa doença?

Essa é uma área muito ativa de pesquisa. Um estudo recém-publicado mostra que, num grupo de 90 pacientes recuperados, os anticorpos atingiram um pico e, depois, durante 12 semanas, isso foi se perdendo aos poucos. Isso é um padrão que observamos também em outros coronavírus da mesma família, como o Sars-CoV e o Mers-CoV. Essa, inclusive, é uma de nossas grandes preocupações: será que as pessoas podem contrair a doença mais de uma vez? 

Então, no atual momento, não temos 100% de certeza se ficamos protegidos da Covid-19 após uma primeira infecção?

O que sabemos é que esse vírus “gruda” nas células humanas e usa um receptor chamado ACE-2 para invadir e usar a maquinaria celular para produzir muitas cópias de si mesmo. Isso, por sua vez, estimula uma resposta do organismo na forma de anticorpos. Mas ainda não temos certeza quanto tempo essa proteção pode durar. Lembre-se que esse coronavírus se tornou conhecido há apenas 30 semanas e ainda estamos nos primeiros estágios para conhecê-lo completamente. 

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As descobertas recentes sobre a imunidade podem mudar de alguma maneira o que já se avançou nos campos das vacinas contra o coronavírus?

Nós ainda não sabemos quanto tempo a imunidade vai durar depois da vacinação. Pelo que parece, não será uma proteção para a vida toda e serão necessárias doses de reforço de tempos em tempos. Temos vários tipos de imunizantes sendo testados atualmente. Alguns usam informações genéticas, outras apostam nas proteínas, um terceiro grupo é baseado em peptídeos e há ainda a ideia de usar o vírus inteiro na produção. Mas precisamos de muita pesquisa ainda para entender como tudo isso vai funcionar e quanto a imunidade dura.

Existe algum padrão que pode ajudar a determinar se a imunidade vai durar mais ou menos tempo? A gravidade do quadro pode influenciar nisso?

Há uma observação de que, nos quadros mais severos, a produção de anticorpos é mais alta. Mas isso significa que a imunidade dura mais? Presumivelmente, sim. Mas não temos estudos que dão suporte a essa afirmação. Nos casos mais graves, vemos que a terapia com plasma sanguíneo de pacientes que já tiveram a Covid-19 e se recuperaram parece ser promissora. 

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Falando de tratamento, qual o melhor terapia que temos hoje para casos leves de Covid-19?

Em primeiro lugar, se você acha que foi exposto ao coronavírus, ou está com algum sintoma sugestivo, é preciso conversar com seu médico de confiança. Ele tem seu histórico de saúde e pode fazer uma avaliação individualizada. Caso apresente febre baixa, você pode tomar um paracetamol, que é uma droga com poucos efeitos colaterais se usada na dose correta. Devemos tomar cuidado com os anti-inflamatórios, pois o uso em longo prazo ou em altas quantidades aumenta o risco de hemorragia e pode danificar os rins. 

E a hidroxicloroquina, que foi tão falada nesses últimos tempos?

Muitos especialistas propuseram todos os tipos de tratamento, incluindo algumas ideias nada ortodoxas. Uma delas foi justamente a hidroxicloroquina. Mas os estudos já mostraram que ela não é efetiva e, ainda por cima, pode ter efeitos colaterais importantes. Para algum remédio ser disponibilizado, é preciso antes que ele seja testado nos estudos clínicos.  

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Você acredita que teremos um remédio efetivo antes mesmo de uma vacina?

Permita-me descrever isso de três maneiras. No campo dos medicamentos, o que temos de concreto até agora é a dexametasona, alguns anti-inflamatórios, o plasma convalescente, o redemsivir e o oxigênio. Os estudos mais recentes mostram, por exemplo, que o remdesivir reduz o risco de morte em 62% nos pacientes graves. Mas o problema é que não temos estoque suficiente dessa droga para oferecer. É provável que teremos uma vacina antes de um tratamento efetivo. Acredito que em meados de março ou abril de 2021 esse cenário da prevenção e do tratamento da Covid-19 estará bem definido. 

Como o estilo de vida pode impactar na gravidade da Covid-19?

Quando fiz uma viagem certa vez para a América do Sul, vi muita gente fumando e um monte de comportamentos nada saudáveis. Quando falamos do coronavírus, a melhor chance de sobreviver a ele está em manter o peso ideal, comer bem praticar exercícios, parar de fumar e controlar fatores de risco como diabetes e hipertensão. Essas são as atitudes que podem definir se uma pessoa vai viver ou morrer. É muito importante que todo mundo se cuide. 

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