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Coronavírus: como sobreviver a ele

Diante do caos, como podemos nos proteger e escapar da pandemia do Covid-19, que mudou para sempre o mundo em que vivemos?

Por André Biernath
Atualizado em 18 ago 2020, 10h47 - Publicado em 10 abr 2020, 10h21
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O coronavírus tem esse nome por possuir uma "coroa" de moléculas em sua superfície. (Ilustração: Jonatan Sarmento/SAÚDE é Vital)
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No fim de 2019, uma doença misteriosa brotou na cidade de Wuhan, no leste da China. De repente, centenas de pessoas apresentavam uma grave pneumonia. Em poucas semanas, o culpado foi descoberto: um novo coronavírus estava se espalhando ali. Três meses depois, o patógeno já havia pulado fronteiras e invadido praticamente todos os países dos seis continentes, com mais de 1 milhão de casos confirmados e dezenas de milhares de mortes.

 

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(Ilustrações: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)

 

O cantor uruguaio Jorge Drexler estava pronto para mais um show na cidade de San José, na Costa Rica, no dia 10 de março. De última hora, o espetáculo foi cancelado por causa da Covid-19, a doença provocada pelo novo coronavírus. Mas o artista deu um jeito de atender o seu público: ele subiu ao palco e fez a performance sozinho, transmitida ao vivo pelo Facebook. E houve uma surpresa em seu repertório, que contou com versos inéditos: “Já voltarão os abraços, os beijos/ Dados com calma/ Se encontra um amigo/ Saúda-o com a alma/ Sorria, jogue um beijo/ De longe, seja próximo/ Não se toca o coração/ Somente com as mãos”. A canção, intitulada Lado a Lado, traz uma visão poética do isolamento social, a principal tática para conter o avanço do coronavírus mundo afora.

Você deve ter visto no noticiário ou espiado pelas ruas: em boa parte do planeta, as lojas estão fechadas. O transporte público opera com restrições. Funcionários de várias empresas trabalham de casa. Até as Olimpíadas, marcadas para o meio de 2020, foram postergadas. A principal competição esportiva do globo não era adiada desde a Segunda Guerra Mundial. “Vivemos uma crise sanitária sem precedentes, que já provoca transformações profundas na sociedade”, diz o sanitarista Gonzalo Vecina, presidente do conselho do Instituto Horas da Vida, em São Paulo.

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Nesse contexto, aliás, ficou evidente o despreparo de inúmeros governantes para lidar com a crise: enquanto alguns ignoraram a existência do problema, outros demoraram a tomar atitudes. Para a historiadora Christiane de Souza, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia, esse fenômeno não é exclusivo dos tempos atuais.

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“As epidemias obedecem a uma liturgia: no início, os líderes negam o fato, por ser algo novo que coloca em xeque a autoridade deles”, conta. Foi o que ocorreu na Itália: em fevereiro, políticos insistiam que os cidadãos deveriam manter a vida normal. Semanas depois, não havia mais cemitério para sepultar tantas vítimas.

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(Ilustrações: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)

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O físico teórico Silvio da Costa Ferreira Junior, da Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais, está acostumado a trabalhar com fórmulas e equações. Junto com seus alunos, montou um modelo matemático complexo para entender a probabilidade de a Covid-19 se disseminar pelas cidades brasileiras.

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“Levamos em consideração as características do vírus, a taxa de infecção, o trânsito de pessoas ao longo do dia…”, explica. Porém, até para as ciências exatas, está difícil determinar como a doença vai se comportar, mesmo num curto período de tempo. “Não conseguimos prever em detalhes o que vai acontecer daqui a quatro dias”, admite.

Se a situação está complicada para os números, que dirá para nós, reles mortais… Caso alguém lhe pergunte hoje quais são seus planos para o mês que vem, qual seria sua resposta? É natural que apareçam na mente pontos de interrogação. Afinal, num cenário com tantas incertezas, nos sentimos impotentes.

Mas é aí que a gente se engana: todo mundo tem, sim, deveres nessa história. “Nós, profissionais de saúde, precisamos que a transmissão do coronavírus ocorra devagar. Assim, teremos equipamentos e remédios para os casos mais graves e urgentes”, diz a infectologista Anna Sara Levin, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. E aqui já não há mistério: a cada cidadão cabe ficar em casa, lavar bem as mãos…

Outro dever cívico na era digital: somos responsáveis por aquilo que compartilhamos sobre o coronavírus nos grupos de WhatsApp e nas redes sociais. “A grande diferença dessa pandemia para as anteriores está na disponibilidade enorme de informações. O problema é que tem muita coisa falsa ou exagerada, que gera pânico”, analisa o infectologista Alberto Chebabo, da Dasa e da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Cheque sempre a fonte e a data daquela notícia que você recebeu. Se tiver algo suspeito ou estranho, melhor não passar adiante. Num mundo tão conectado, as fake news conseguem se espalhar mais rápido que o próprio vírus.

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(Ilustrações: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)

 

Junte a incerteza sobre o futuro com uma farta porção de notícias falsas. Acrescente pitadas generosas de estresse. E finalize tudo com altas doses de isolamento social. Pronto, eis a receita para a mente entrar em parafuso nestes tempos de coronavírus.

“É curioso notar que em todas as crises humanitárias do passado o recado sempre foi para permanecermos juntos e unidos. Agora é o contrário: fiquem isolados, sozinhos”, compara o médico Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria. O filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) já dizia que o homem é, por natureza, um ser social. Como fica, então, nosso bem-estar e nossa saúde quando esse contato nos é tirado?

A ciência pode nos dar a resposta: um estudo assinado por um time do King’s College London, na Inglaterra, e publicado no periódico científico The Lancet, analisou os impactos psicológicos que a quarentena trouxe durante a epidemia de Sars (síndrome aguda respiratória grave), que ocorreu na China entre 2002 e 2003. Os resultados mostram que quase um terço dos indivíduos teve estresse pós-traumático ou depressão após o período longe da vida em comunidade. “Falamos de problemas que ultrapassam classe social, gênero ou região geográfica. Todos precisaremos enfrentá-los num futuro próximo”, antevê o psicólogo Fernando Freitas, da Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro.

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Nos resta segurar as pontas e botar em prática atitudes para deixar a cabeça no prumo. “Nos apeguemos ao fato de que essa situação será momentânea. O afastamento é físico, não emocional: podemos e devemos nos encontrar com amigos e familiares por meio de videochamadas”, sugere a psicóloga Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Management Association Brasil (Isma-BR), em Porto Alegre. A esperança é que todos saiamos dessa pandemia um pouco melhores, mais unidos, preparados e conscientes do que estávamos no já distante janeiro de 2020.

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(Ilustrações: André Moscatelli/SAÚDE é Vital)

 

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