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Como parar de beber e quais são os principais benefícios para a saúde

A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que não existe nível seguro de consumo de álcool

Por Lucas Rocha
Atualizado em 26 jun 2024, 20h45 - Publicado em 20 jun 2024, 14h11
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  • A ingestão de bebidas alcoólicas faz parte da vida humana há milênios. Estima-se que o hábito tenha surgido ainda na pré-história, com o desenvolvimento da agricultura.

    A regulamentação da venda e a imensa variedade de produtos disponíveis no mercado mantêm o consumo do álcool em alta. Além disso, a bebida é comumente associada à socialização, fator que dificulta a discussão sobre os seus riscos e danos para a saúde.

    Substância tóxica e psicoativa, o álcool conta com propriedades que induzem a dependência e aumentam o risco de diversas doenças, entre elas o câncer. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que não existe nível seguro de consumo para as pessoas.

    O ponto de vista é corroborado por diversos estudos publicados em periódicos científicos como Lancet e JAMA.

    Não à toa, cada vez mais pessoas buscam reduzir ou interromper o consumo de bebidas alcoólicas. Para isso, existem diversas estratégias preconizadas por especialistas e instituições. A seguir, reunimos algumas dicas e elencamos os principais benefícios para o organismo de deixar doses, drinks e cervejas para trás.

    Vale destacar que este texto reúne orientações e não substitui a assistência especializada. Em caso de necessidade, busque atendimento médico.

    + Leia também: Anorexia alcoólica: excesso de álcool e restrição alimentar afetam a saúde

    Como parar de beber?

    Um dos primeiros passos para interromper o uso de álcool é reconhecer se há um problema, como explica o médico psiquiatra Elton Kanomata, do Hospital Israelita Albert Einstein.

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    “Assim como a aceitação do problema, a motivação também é de suma importância, pois retrata a superação de automatismos e crenças da sua relação com o álcool”, diz o médico.

    Como costuma envolver a necessidade de mudanças de hábitos, o tratamento requer disposição e força de vontade para um objetivo bem claro, que é solucionar uma relação disfuncional e danosa entre o indivíduo e a bebida alcoólica.

    As melhores estratégias variam de uma pessoa para outra, uma vez que o consumo tem origem em questões particulares de cada pessoa. De maneira geral, o processo conta com quatro pilares:

    Estabeleça limites: planeje o número de dias e a quantidade de bebidas que será ingerida. Inclua dias sem álcool todas as semanas.

    Conte os copos ou taças: dimensionar as doses é uma forma de se acostumar a um novo hábito. Aplicativos de celular podem ser úteis.

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    Afaste os gatilhos: lugares, atividades e até mesmo pessoas são verdadeiros convites à bebedeira. Descubra o que mais te afeta e se afaste. Evite ter garrafas em casa.

    Encontre suporte: peça ajuda e mantenha por perto aquele apoio para todas as horas.

    Beba outros líquidos: “Uma das maneiras para beber mais devagar é intercalar com água ou até mesmo refrigerante”, orienta o médico nutrólogo Durval Ribas Filho, presidente da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).

    Em publicação sobre o uso de substâncias, a OMS recomenda medidas como:

    Não adiar: estabeleça uma data para cortar o consumo e comece o plano.

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    Informe publicamente sua intenção de parar: Isso ajudará a mobilizar outras pessoas e você mesmo a continuar.

    Procure apoio médico diante de efeitos graves de abstinência.

    Familiares, amigos e pessoas próximas têm um papel fundamental nesse contexto. Ou seja, vale cercar-se daqueles que não vão criticar ou oferecer um drink enquanto você tenta mudar um estilo de vida.

    “Uma rede de apoio bem estruturada, muitas vezes composta por familiares, é importante para manter um grau de motivação elevado, encorajando esta pessoa a manter uma postura persistente frente aos desafios ao longo de todo este processo”, afirma o psiquiatra.

    A adoção de hábitos saudáveis também favorece a jornada:

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    Para quem busca apenas diminuir a ingestão, é preciso estabelecer metas contemplando as seguintes questões:

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    A bebida é comumente associada à socialização, o que dificulta a ponderação sobre os seus riscos (pvproductions/Freepik/Divulgação)

    Quando buscar ajuda?

    Qualquer pessoa pode desejar diminuir a dose ou eliminar de uma vez o hábito. No entanto, em casos mais severos, que caracterizam o alcoolismo, pode ser preciso buscar apoio médico.

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    A suspeita de uma possível relação não saudável com o padrão de consumo, como sinais de culpa, sofrimento e prejuízos, pode indicar a necessidade de ajuda especializada.

    “É frequente que ocorra negação ou a falta de discernimento em relação aos impactos negativos do consumo de álcool. Se pessoas próximas comentam que este indivíduo deveria diminuir ou até mesmo parar ou então criticam o modo de beber, isso é um indicativo de um possível comportamento de risco e de algum transtorno mental relacionado ao uso da substância”, pontua Kanomata.

    O acompanhamento para dependência química, incluindo a alcoólica, é oferecido gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para acessar, é necessário buscar atendimento em serviços da Atenção Primária à Saúde. A rede também disponibiliza cuidados em unidades especializadas, como o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS).

    No contexto terapêutico, a psicanálise pode fornecer elementos para a elaboração sobre a relação abusiva com o álcool, como explica a psicóloga Isabela Cristina Batista Ledo, pesquisadora do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP).

    A direção do trabalho é que o sujeito, ao inserir uma elaboração pela fala, possa descontinuar uma tendência de ficar apenas numa vivência corporal com a droga, que oblitera o pensamento. A aposta fundamental, também, é que com o tratamento o indivíduo possa recuperar, aos poucos, a plasticidade subjetiva”, diz Isabela.

    De maneira mais simples, podemos entender como um processo de ressignificação dos desejos. Ou seja, a descoberta de novas experiências que também podem ser satisfatórias, de modo a desvincular da fixação pela droga ou álcool.

    + Leia também: Existe cerveja saudável?

    Efeitos nocivos imediatos do álcool

    Pessoas alcoolizadas estão suscetíveis a um conjunto de problemas imediatos. A começar por machucados, fraturas e outras lesões. O álcool modifica a percepção de risco do indivíduo, aumentando as chances de acidentes, quedas, afogamentos e queimaduras.

    As alterações na consciência também favorecem decisões intempestivas que resultam em diversas formas de violência, como brigas, homicídio, abuso sexual e suicídio.

    A saúde sexual e reprodutiva pode ser diretamente afetada a partir do abandono de métodos de prevenção. As consequências incluem o contágio por infecções sexualmente transmissíveis, gravidez não planejada e até mesmo aborto espontâneo.

    Em níveis extremos, o excesso de álcool no sangue compromete o funcionamento da respiração, frequência cardíaca e pode levar à perda da consciência e ao coma.

    + Leia também: Intoxicação alcoólica: por que é perigoso beber em excesso?

    Quais são os impactos do álcool para o corpo?

    A ingestão em excesso de álcool provoca desordens relacionadas a prejuízos para diferentes órgãos e sistemas. As encrencas incluem:

    A longo prazo, o álcool pode elevar o risco de diversos tipos de câncer, devido a mecanismos biológicos associados à sua metabolização no organismo. O risco aumenta de acordo com a quantidade ingerida. Os mais comuns são:

    “O etanol é uma molécula muito pequena, que tem uma absorção um pouco mais lenta no estômago e mais rápida pelo intestino. Como é solúvel em água, rapidamente vai para a corrente sanguínea e é distribuída para todos os órgãos e sistemas. No fígado é diferente, porque praticamente 90% do álcool é absorvido e eliminado pelo órgão, esse é um dos problemas”, detalha Ribas.

    Os Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, descrevem ao menos três processos importantes:

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    Saiba quais são os benefícios para a saúde de parar de beber

    Além das diversas repercussões mencionadas, o álcool pode promover danos silenciosos ao organismo. Por isso, deixá-lo para trás resulta em um conjunto de vantagens.

    Sono: se por um lado a bebida pode acelerar o adormecimento, por outro ela atrapalha a sua qualidade. Isso ocorre porque ela atrapalha o caminho para o estágio mais profundo de sono, que possibilita o relaxamento do corpo e a restauração de funções importantes.

    Coração: em excesso, o etanol provoca danos ao órgão e ao sistema vascular. Entre os problemas estão a hipertensão e a frequência cardíaca irregular (fibrilação atrial), que aumenta os riscos de derrame.

    Fígado: ele conta com uma forte capacidade de regeneração, desde que não tenha sido irreversivelmente afetado. “Se ele desenvolveu uma cirrose ou uma fibrose hepática, infelizmente não tem como recuperar. Pessoas que eventualmente estão exagerando na ingestão de álcool podem reverter os danos no órgão geralmente depois de cinco anos sem beber, desde que as doenças mencionadas não tenham se instalado”, afirma Ribas.

    Estômago: problemas como inflamação, inchaço, azia, queimação e dor podem ficar para trás.

    Sistema imune: as doses além da conta também enfraquecem o nosso arsenal de defesas. A abstinência impulsiona a imunidade, favorecendo o combate a infecções.

    Cérebro e saúde mental: humor, comportamento, coordenação motora e memória são afetados pelos drinks a mais. O consumo também é associado a depressão, ansiedade, perda de memória e risco de demência. A interrupção melhora a cognição, reduz o estresse e potencializa a capacidade de tomar decisões, gerenciar emoções e resolver problemas.

    Com informações da Organização Mundial da Saúde (OMS), dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA) e do National Institutes of Health (NIH).

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