Recentemente abordamos o que fazer quando um paciente começa a manifestar sintomas da Covid-19 (clique aqui para ler). Embora às vezes seja necessário buscar atendimento médico, muitas vezes a recomendação será ficar em casa, monitorar a progressão do quadro com o apoio de um profissional e, se autorizado, usar remédios para conter febre, dor de cabeça e afins. Mas aí fica a dúvida: como manter uma pessoa com coronavírus dentro da residência sem afetar os outros moradores? É necessário limpar os cômodos o tempo todo? A família tem que ficar 24 horas por dia de máscara? E se o infectado for uma criança?
Para tirar essas dúvidas, Veja SAÚDE conversou com a infectologista Raquel Stucchi, integrante da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), em São Paulo.
Como deve ser feito o isolamento?
O ideal é que a pessoa infectada permaneça sozinha em um quarto por pelo menos dez dias após o início dos sintomas. “O cômodo e o restante da casa devem ser arejados. Mesmo com frio, as janelas precisam ficar abertas e bem ventiladas”, orienta Raquel.
Nessas condições, o paciente e sua família só têm que usar máscara quando ele sair do quarto para ir ao banheiro ou quando alguém levar uma refeição, por exemplo.
“Já se não houver a possibilidade de um quarto privativo, todos deverão ficar de máscara o tempo todo”, conta a infectologista. Lembre-se de que o Sars-CoV-2 é capaz de ficar no ar por algum tempo em ambientes fechados. Abra as janelas e mantenha o maior fluxo de ar possível.
Sem um quarto para isolar o paciente, o contato próximo com outros membros é irremediável. Diante disso, Raquel recomenda que a família permaneça isolada também, mas por 14 dias. Todos merecem fazer o exame PCR a partir do quinto dia em que o paciente da casa começou a manifestar os sintomas.
Ah, e mesmo que os exames deem negativo, os parentes precisam completar os 14 dias de isolamento, combinado?
Outra coisa: independentemente do tamanho da residência, a máscara utilizada pelo paciente e pelos seus entes queridos deve ser do tipo PFF2/N95 ou cirúrgica, não a de pano. Lembre-se que a segunda opção não é reutilizável — troque-a a cada quatro horas, ou se ficar úmida. Os cuidados com a PFF2 você encontra clicando aqui.
Se for necessário comprar remédios, peça para entregá-los em casa (sempre de locais confiáveis). Caso isso seja impossível, solicite para um membro da família buscar o medicamento na farmácia. É entrar, comprar os itens necessários e sair.
O quarto e o banheiro precisam ser higienizados diariamente?
“A lavagem da roupa de cama e da toalha não muda. Elas podem ser higienizadas junto com outras roupas, usando sabão em pó normal”, afirma Raquel. Só evite ficar chacoalhando esses itens antes da limpeza.
E o banheiro? Se der para reservar um para o paciente, perfeito. Do contrário, ele mesmo pode limpá-lo a cada uso, aplicando um desinfetante comum no vaso sanitário, no botão da descarga, nas torneiras e na maçaneta da porta.
“Se o infectado estiver se sentindo fraco para esse procedimento, alguma outra pessoa deve assumir essa rotina”, sugere Raquel. Só veja se o quadro não está se agravando e necessita de um olhar médico. No mais, o familiar deve vestir máscara e luvas de limpeza. Ao terminar, lave o pano e as luvas com água e sabão e, depois, coloque-os para secar.
Os itens de higiene pessoal e utensílios de cozinha podem ser compartilhados?
Sabonete e creme dental podem ser usados por todos, porém toalha de rosto e escova de dentes, não. Aliás, vale a pena jogar fora a escova no fim do isolamento.
“E não compartilhe copos e talheres em uma mesma refeição. Após serem lavados adequadamente, dá para guardar todos juntos”, recomenda Raquel.
O paciente pode cozinhar?
Melhor deixar essa tarefa para terceiros. Nas casas onde apenas uma pessoa prepara as refeições — quando há um adulto morando com os filhos, por exemplo —, tente buscar alternativas. Dá para pedir que amigos e familiares façam porções para serem congeladas, por exemplo. Ou mesmo recorrer ao delivery (outro membro da casa pode buscar o pacote na porta).
Se não tiver outro jeito, o paciente deve tomar cuidados redobrados ao cozinhar. Use máscara, lave as mãos antes e depois de manusear os ingredientes e panelas, nunca espirre em direção aos alimentos…
Como deve ser feito o transporte do paciente se ele for ao médico?
Caso seja necessário um atendimento presencial, faça de tudo para evitar o transporte público. Um carro próprio ajuda nesse sentido — o familiar pode dirigir e deixar o paciente no banco de trás, sem ficar falando muito para não espalhar gotículas respiratórias.
Dá também para checar a possibilidade de atendimento por telemedicina ou, então, chamar um táxi ou transporte por aplicativo. “Dentro do carro, use sempre máscara cirúrgica, aplique álcool gel e mantenha os vidros abertos”, ensina Raquel. De novo: essa não é a hora de bater papo.
Em caso de emergência, chame uma ambulância.
E agora um recado óbvio: a não ser que o médico recomende, remarque consultas e exames de rotina que não tenham a ver com a Covid-19 para quando estiver curado.
E se o paciente for uma criança?
Claro que não dá para deixar um filho pequeno completamente isolado no quarto. A primeira regra é, pelo menos, evitar saídas de casa — a não ser para consultas ou idas ao pronto-socorro.
“Nessa situação, fique atento à higienização dos ambientes. Todos na residência deverão usar máscara, incluindo a criança, se ela for maior de 2 anos“, finaliza Raquel.