Encontros regados a petiscos com os amigos, ceias de Natal e Réveillon, descanso dos exercícios físicos… Hábitos típicos do fim de ano e das férias podem repercutir, pouco tempo depois, nas taxas de colesterol, como sugere um estudo da Universidade de Copenhague, na Dinamarca.
No trabalho, foram comparados exames de 25 764 dinamarqueses entre 20 e 100 anos. Alguns dos voluntários se submeteram ao teste de sangue entre maio e junho, enquanto outros, de dezembro a janeiro.
Com os dados em mãos, os cientistas observaram que a turma avaliada entre dezembro e janeiro possuía, em média, uma taxa de colesterol total 20% maior do que a outra. Esse pessoal ainda apresentou índices 25% maiores de LDL – a versão “ruim” dessa molécula.
Ainda não acabou. Os indivíduos que realizaram o exame de sangue na primeira semana de janeiro – logo depois das festividades – tinham uma probabilidade seis vezes maior de extrapolar o nível recomendado de colesterol. Isso em comparação com participantes testados em qualquer outra época do ano.
O que os resultados significam
O médico Sergio Leal de Meirelles, membro titular da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular do Rio de Janeiro (SBACV-RJ) traz dois pontos interessantes para considerarmos a partir dessa pesquisa.
O primeiro é o de que chutar o balde na alimentação e na prática de exercícios físicos influencia na concentração do colesterol. “Se as exceções do final de ano virarem regra, a saúde cardiovascular será afetada negativamente”, explica.
Por outro lado, ele reitera que o próprio estudo indica que, depois desse período crítico, o colesterol tende a baixar. Caso contrário, os exames feitos em outras épocas do ano também constatariam alterações. É aquela coisa: aos poucos, o sujeito voltaria ao ritmo normal, comendo melhor e se mexendo mais.
“Não dá para jurar que uma breve subida do colesterol não afete a saúde em nada. Mas é certo que a verdadeira ameaça está nas taxas constantemente elevadas”, analisa Meirelles.
Pois isso nos leva ao segundo ponto: exames feitos entre dezembro e janeiro podem não representar fielmente os níveis de colesterol de um paciente ao longo do ano. “Portanto, talvez não devêssemos usar os resultados dessa época para definir o tratamento nos meses seguintes”, conclui o angiologista.
Ora, imagine uma pessoa que vive o ano todo com o colesterol abaixo do limite. Aí ele enfia o pé na jaca em dezembro e, pouco tempo depois, passa por um teste que acusa alterações nas suas taxas. Em face do resultado, recebe a prescrição de remédios, que podem causar efeitos colaterais. Agora, será que esse indivíduo realmente precisaria partir para as pílulas ou, ao retomar seu estilo de vida normal, já voltaria aos padrões aceitáveis de colesterol?
“Seria bom refazer os exames de colesterol em outras épocas do ano para desenhar um retrato mais confiável da saúde da pessoa”, informa Meirelles. Isso tudo ganha relevância quando imaginamos que muitos brasileiros aproveitam o início do ano para se submeter a checkups.
Em resumo, não deixe os exageros das festas virarem uma regra no resto do ano e tenha cautela ao interpretar exames de colesterol realizados após períodos curtos de comilança e preguiça.