Estudo mostra papel da cirurgia bariátrica no controle da hipertensão
Pesquisa vencedora de prêmio da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo reforça que é preciso tratar o excesso de peso para ajustar melhor a pressão
A hipertensão arterial sistêmica, popularmente conhecida como pressão alta, é uma doença em crescimento no Brasil.
Segundo a pesquisa Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), a prevalência da condição saltou de 22,6% em 2006 para 26,3% em 2021.
Caracterizada por níveis sustentados de pressão acima do padrão 120/80 mmHg (o popular 12 por 8), a hipertensão, salvo raras exceções, não surge do nada.
Questões como idade, sedentarismo, tabagismo e elevada ingestão de sal e álcool estão ligadas ao seu aparecimento.
E, de acordo com as Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial (2020), a obesidade é um dos principais fatores de risco para a subida da pressão. São doenças com causas em comum e intimamente relacionadas.
Relação entre obesidade e hipertensão
O excesso de gordura nos vasos reduz o diâmetro das veias e artérias (a chamada vasoconstrição), o que dificulta a passagem do sangue e eleva a pressão arterial de forma crônica.
Além disso, as mudanças hormonais e metabólicas que ocorrem no corpo da pessoa com obesidade favorecem alterações na circulação.
Por isso, perder peso é uma etapa fundamental para domar a hipertensão. Para cada 5% de perda do peso corporal, a pressão arterial pode diminuir entre 20% e 30%, apontam as Diretrizes.
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Cirurgia bariátrica x pressão
Pensando nisso, o cirurgião Carlos Schiavon, do Instituto de Pesquisa do Hospital do Coração (HCor), em São Paulo, resolveu investigar mais a fundo o impacto que a cirurgia bariátrica, procedimento usado contra a obesidade, teria nesse contexto.
Pesquisas anteriores já mostraram, por exemplo, que ela ajuda a controlar o diabetes, outra doença associada ao ganho excessivo de peso.
“Sabemos há um tempo que a obesidade piora a pressão alta, e, por conta do elevado risco de morte cardiovascular que a combinação traz, estudar quão válida seria essa opção de intervenção era uma questão de saúde pública”, diz Schiavon.
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Schiavon conduziu um ensaio clínico randomizado (que divide dois grupos aleatoriamente para comparar o efeito de diferentes intervenções), com voluntários que tinham hipertensão e obesidade.
Os participantes foram divididos em dois grupos. Um ficaria só com o tratamento clínico, com medicamentos e ajustes de estilo de vida. O outro, além do tratamento clínico, seria submetido a cirurgia bariátrica.
Após 5 anos de acompanhamento, o resultado foi ainda mais promissor do que se imaginava: todos que fizeram o procedimento tiveram redução da taxa de hipertensão, e 46,4% deles tiveram a remissão da doença — ou seja, não precisavam mais de medicação.
“É um resultado bastante robusto, e deixa claro que é fundamental tratar a obesidade para ter um bom controle da pressão. Se a pessoa tem os dois, não se pode focar em apenas uma das questões”, finaliza o médico.
Além da hipertensão, colesterol, triglicérides e glicemia também foram melhor controlados no grupo que operou.
O trabalho de Schiavon acaba de ganhar o Prêmio de Melhor Pesquisa Clínica “Prof. Dr. Luiz Venere Décourt”, concedido pela Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP).