É uma cena digna do filme Matrix, mas a notícia é boa. No interior de um saco plástico transparente, com a aparência de uma embalagem zip lock, um cordeirinho nascido prematuro termina sua gestação com sucesso fora do corpo da mãe – e ganha uma segunda chance de desenvolver seu cérebro, coração e pulmões no ritmo correto.
O invólucro é preenchido por uma versão sintética do líquido amniótico de um útero real, que é filtrado constantemente. Além de isolar o bebê prematuro das infecções a que seu sistema imunológico seria exposto no ambiente de um hospital, a substância mantém os pulmões do recém-nascido submersos, um pré-requisito para seu desenvolvimento adequado.
A respiração é artificial. Uma máquina do lado de fora da bolsa tira gás carbônico e adiciona oxigênio ao sangue do cordeiro – o líquido entra e sai pelo cordão umbilical impulsionado pelos próprios batimentos cardíacos do filhote, não é preciso bombeá-lo. O método evita danos ao delicado sistema circulatório do feto e simula a troca de gases com a mãe.
Essa experiência com ares de ficção científica foi liderada por Emily Partridge, do Hospital Pediátrico da Filadélfia, nos EUA, e os resultados estão disponíveis no periódico científico Nature Communications. A pesquisa envolveu seis fetos de ovelha. Todos nasceram entre 105 e 112 dias após o início da gestação – o equivalente a só seis meses na espécie humana. Após quatro semanas no interior do equipamento, todos sobreviveram. Depois do sucesso com os ovinos, a intenção dos pesquisadores é aplicar a tecnologia em maternidades humanas – onde as estatísticas ainda são preocupantes.
No mundo, 75% das mortes de recém-nascidos são culpa de partos prematuros. Bebês que vêm ao mundo com só 23 ou 24 semanas de gestação (nos EUA, essa é a situação de 6% das crianças) morrem em cerca de 40% dos casos. Entre 20% e 50% dos que sobrevivem passam o resto da vida com deficiências respiratórias – o corpo de uma criança de menos de um quilo não está pronto para lidar com a intubação e a ventilação artificial de uma UTI.
O útero artificial não mudou em nada a saúde e as chances de sobrevivência dos bebês ovelha que “nasceram de novo”. Em outras palavras, não fez diferença para o desenvolvimento e saúde das cobaias passar seis meses na mãe e um na máquina ou sete meses na mãe. Os pesquisadores já deixaram claro, porém, que seria impossível tirar a mãe da equação – a intenção do estudo é simplesmente melhorar as chances de sobrevivência de fetos em urgências médicas.
“Eu fico impressionado toda vez que vejo nossos cordeirinhos”, afirmou à imprensa Alan Flake, coautor do artigo. “É incrível ver o feto no interior do equipamento agindo da maneira como age no útero, e conseguir dar continuidade a uma gestação normal fora da mãe.”
Esse conteúdo foi publicado originalmente no site de Superinteressante.