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Chikungunya pode avançar para as matas, o que dificultaria sua eliminação

Cientistas mostram que o vírus pode ser transmitido por mosquitos silvestres. Caso isso ocorra, será difícil se livrar dessa infecção que causa fortes dores

Por Isabela Vieira (Agência Brasil)
Atualizado em 8 Maio 2023, 18h04 - Publicado em 8 abr 2019, 12h16
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  • O chikungunya pode se estender das cidades para as matas brasileiras, o que complicaria muito a eliminação da doença no país. O alerta é de cientistas dos institutos Oswaldo Cruz e Pasteur, na França, em um artigo publicado na revista científica PLOS Neglected Tropical Diseases.

    Na pesquisa, os cientistas constataram que mosquitos silvestres como o Haemagogus leucocelaenus e a Aedes terrens, comuns em regiões silvestres na América do Sul, são capazes de transmitir o vírus de três a sete dias após terem sido infectados com ele. Isso significaria um alto potencial de disseminação para macacos e populações que vivem perto de matas.

    Hoje, o chikungunya é transmitido no Brasil pelo mosquito Aedes aegypti, que vive em ambientes urbanos. A doença provoca febre e fortes dores nas articulações, que podem se tornar crônicas.

    Funciona assim: o mosquito Aedes aegypti se infecta com chikungunya chupando o sangue de uma pessoa doente. Aí, transmite o vírus ao picar outro indivíduo. Mas a lógica muda quando mosquitos silvestres entram em cena. Primeiro porque combater esses vetores na mata é complicado demais.

    Segundo porque, se os insetos começarem a passar essa doença para macacos, estabelece-se um segundo ciclo de transmissão, que independe de seres humanos. É o que acontece com a febre amarela (falaremos mais disso a seguir).

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    Segundo o chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz (IOC) e coordenador do estudo, Ricardo Lourenço de Oliveira, o avanço para áreas silvestres torna o vírus mais difícil de ser enfrentado. No futuro, isso levaria ao aumento no número de casos. “Esse cenário apresentaria um grave problema de saúde pública”, afirma.

    Para os cientistas, é necessário começar, quanto antes, o monitoramento de regiões em áreas de mata. “É fundamental incorporar o chikungunya em uma rotina de vigilância no ambiente silvestre”, diz Lourenço.

    Isso inclui a verificação de mosquitos e de macacos para avaliar se a transmissão já está ocorrendo próxima a florestas e, se não, monitorar a possibilidade.

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    O que a febre amarela ensina sobre o chikungunya

    Com a febre amarela, o percurso do vírus foi da cidade para as florestas. Trazida para as Américas, a doença primeiro circulou em áreas urbanas, provocando epidemias. A alta incidência dessa infecção, então, possibilitou que ela avançasse para as matas. Mas, com as campanhas de combate ao Aedes aegypti no passado, os casos urbanos – disseminados por esse mosquito em polos urbanos – desapareceram.

    Nas regiões de floresta ou próximas a ela, a vacinação se tornou uma forma essencial de prevenir os casos de febre amarela. Com os surtos recentes, as autoridades pediram para que mesmo moradores de grandes cidades tomassem a injeção justamente para evitar que a doença voltasse às regiões urbanas.

    Os cientistas lembram, no entanto, que ainda não foi descoberta uma vacina para o chikungunya. Para prevenir a migração do vírus para as matas, os cientistas querem mais estudos. Os mosquitos silvestres, explicam, não se desenvolvem bem em laboratório, justamente por serem selvagens. E também não ficou comprovado que macacos conseguem hospedar o vírus.

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    Dados do Ministério da Saúde mostram que, no Rio de Janeiro, estado com o maior número de casos do país, o registro é duas vezes maior do que o de dengue. As 6,7 mil ocorrências em 2019 representam uma alta de 14% diante das 5,8 mil em 2018. Altos índices de notificações também foram observados em Tocantins, no Pará e no Acre.

    Este conteúdo foi produzido pela Agência Brasil.

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