A campanha de vacinação do sarampo na cidade de São Paulo foi estendida para um novo grupo. Se antes o público-alvo eram as pessoas de 15 a 29 anos, agora todos os bebês entre 6 meses e 1 ano também devem tomar a vacina. Por quê?
Ora, a capital paulista vive um surto da doença, com 363 casos confirmados, de acordo com o boletim divulgado pela Secretaria Estadual de Saúde no dia 19 de julho. No estado inteiro, são 484 episódios até o momento – esses números devem crescer consideravelmente.
Diante de explosões de caso, uma possibilidade é, de fato, ampliar a vacinação para os bebês de 6 meses – fora dos surtos, a recomendação é dar a primeira dose do imunizante a partir do primeiro ano de vida e a segunda com 1 ano e 3 meses. Esse tipo de estratégia de emergência já foi adotado em outras regiões no passado, como em Manaus e Boa Vista (na crise de 2018).
A ideia é tentar evitar a infecção nessas crianças e, ao mesmo tempo, contribuir para o bloqueio do sarampo. Ora, quanto mais gente protegida, menor o risco de o vírus continuar se espalhando por aí.
Mas por que não dar o imunizante aos bebês com menos de 1 ano mesmo quando não há surtos? “Nessa fase da vida, a eficácia da vacina é um pouco menor”, revela a pediatra Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim).
Durante uma emergência como a atual, vale a pena dar a injeção mesmo sabendo que há uma possibilidade de a vacina não “pegar”. Mas, quando os casos somem, o ideal é esperar até o pequeno comemorar seu primeiro aniversário – cumprindo o esquema certo, a eficácia da vacinação supera os 95%.
Curiosamente, as injeções contra o sarampo são menos eficazes aos 6 meses de vida por causa da alta ingestão do leite materno. Se a mãe se vacinou ou pegou sarampo alguma vez na vida, terá anticorpos contra ele. E essas unidades de defesa passam para o filho.
Pois bem: a vacina carrega versões enfraquecidas do vírus, justamente para que o corpo lide com essa “invasão”, desenvolvendo anticorpos. Porém, se o bebê está carregado de anticorpos maternos que atacam rapidamente o vírus atenuado, seu organismo tem um risco maior de não desenvolver um exército próprio para enfrentar o inimigo.
Com o avançar da idade, o leite materno vai perdendo espaço para outros alimentos. Aí, os anticorpos maternos se esvaem e tornam o ambiente mais propício para uma resposta adequada à vacina.
“É importante dizer que a vacinação não aumenta o risco de reações adversas graves nessa fase da vida”, garante Isabella.
A especialista afirma ainda que vários profissionais têm questionado se não seria o caso de ampliar essa estratégia para outras cidades ou estados. “É uma pergunta complexa. As autoridades precisam avaliar o número de casos e a dinâmica do surto antes de tomar uma decisão dessas”, afirma. Mas, diante dos surtos, o Ministério da Saúde optou por de fato estender essa medida para o Brasil inteiro.
O recado: só leve seu bebê entre 6 meses e 1 ano para receber a vacina quando a recomendação oficial for essa, como é o caso de São Paulo. Ou se o médico pedir por alguma razão – o sistema público não é obrigado a oferecer a dose nessa situação.
Como fica o esquema de vacinação das crianças?
O calendário nacional recomenda duas doses para garantir proteção adequada contra a doença. Mas atenção: a primeira não conta se for aplicada antes de 1 ano de vida.
Ou seja, os pais que levarem seus filhos de 6 meses a 1 ano para o posto de saúde durante a campanha em São Paulo vão, sim, precisar voltar mais duas vezes para deixar o filho verdadeiramente protegido do sarampo. Só é importante dar 30 dias de espaço entre uma injeção e outra.