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As maiores inovações brasileiras em saúde de 2019

Prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica revela os vencedores da segunda edição. Hora de você conhecê-los

Por Da Redação
Atualizado em 11 nov 2019, 17h59 - Publicado em 11 nov 2019, 12h20
premio abril e dasa
Foram 15 finalistas e cinco vencedores desse que é o Nobel da Medicina brasileira. (Ilustração: Divulgação/SAÚDE é Vital)
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Inteligência artificial no hospital, um banco de dados genéticos, curativo inusitado para queimaduras, além de uma estratégia que poupa o coração das mulheres em quimioterapia e uma rede contra a falsificação de remédios: eis os projetos e os avanços que levaram os troféus na segunda edição do Prêmio Abril & Dasa de Inovação Médica.

A premiação começa com a indicação e submissão de estudos, invenções, campanhas e demais iniciativas com resultados palpáveis concebidos por universidades, hospitais, centros de pesquisa, startups, ONGs e outras entidades públicas e privadas. Os trabalhos que preenchiam os critérios do regulamento (capacidade disruptiva, impacto e relevância, uso de tecnologia e aplicabilidade e abrangência) foram direcionados a um júri com alguns dos maiores nomes da medicina.

Com as notas dos jurados, chegamos aos três finalistas das cinco categorias: Inovação em Medicina Diagnóstica, Inovação em Medicina Social, Inovação em Genética, Inovação em Prevenção e Inovação em Tratamento.

Os finalistas são divulgados e passam, então, por uma etapa de votação popular, com peso menor, mas que ajuda em casos de empate.

É assim que chegamos aos cinco vencedores, revelados em uma cerimônia dia 8 de novembro em São Paulo.

SAÚDE, que é curadora da premiação, revela quem são eles agora.

Inovação em Medicina Social – Uma rede contra a falsificação de remédios

De acordo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), a circulação de medicamentos falsificados, roubados ou fora de padrão movimenta dezenas de bilhões de dólares no mundo inteiro – e, claro, leva a prejuízos imensuráveis à saúde dos pacientes. Para assegurar a procedência dos produtos, pesquisadores de quatro instituições se uniram para desenvolver uma ferramenta capaz de rastrear os remédios que circulam pelo Brasil.

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Os testes iniciais contaram com a parceria de indústrias farmacêuticas, distribuidoras, farmácias e hospitais, com foco em acompanhar todo o processo de produção, distribuição e venda. No momento da fabricação ou importação, o fármaco recebe o Identificador Único do Medicamento (IUM), um código contendo número de série, lote, validade, registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), além de uma numeração comercial.

Dessa forma, as etapas seguintes podem ser rastreadas e comunicadas à Anvisa, que enviará alertas ao menor sinal de movimentação atípica. Com o sucesso do projeto-piloto, a ideia, no futuro, é que o consumidor, por meio de aplicativo no celular, possa consultar toda a cadeia produtiva até a chegada da caixa do remédio à sua mão, para ter certeza de que está levando para casa um produto autêntico e seguro.

equipe medicina social
Marisa Madi, Eduardo Dias e Vidal Melo, coautores do projeto vencedor em Medicina Social, com a jurada e professora de pediatria da USP Magda Carneiro Sampaio (ao centro) (Foto: Flávio Santana/SAÚDE é Vital)

Sistema Nacional de Controle de Medicamentos

Autores: Vidal Augusto Zapparoli Castro Melo, Marisa Riscalla Madi, Eduardo Mario Dias, Alinne Lopomo Beteto, Aecio Meneses Alves, Leonardo Eloi Mathias, Anderson Eleuterio, Eduardo Almeida e Antonio Joaquim Meneses

Instituições: Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Núcleo de Inovação Tecnológica do Instituto de Radiologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InovaHC/InRad/USP), Grupo de pesquisa em Automação e Gestão da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (GAESI/ USP) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD)

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Inovação em Medicina Diagnóstica – Um robô que salva vidas 

O Robô Laura é uma plataforma de inteligência artificial que sinaliza quando pacientes hospitalizados estão em risco de sofrer uma deterioração de saúde, caminhando para a sepse, quadro de infecção e inflamação generalizadas e uma das principais causas de mortes nas UTIs. Para chegar a essa tecnologia, os criadores do robô desenvolvido pelo Instituto Laura Fressatto, de Curitiba (PR), levaram em conta duas premissas.

 A primeira é a de que, quanto mais cedo for detectada a piora clínica do indivíduo, maiores são as chances de atuar para melhorar seu desfecho. E consideraram também que um hospital é um ambiente complexo e muitas vezes as informações necessárias para as tomadas de decisão não estão à mão dos profissionais envolvidos.

 Mas como a tecnologia cognitiva do software é capaz de salvar vidas? O robô Laura está conectado com o prontuário eletrônico com todas as informações da pessoa monitorada e avalia seus sinais vitais e os resultados de exames. Se os algoritmos percebem alguma mudança no padrão, ele emite um sinal para a equipe médica.

 Em funcionamento desde 2016, a máquina está presente em 13 hospitais e já teve acesso a dados de 2,5 milhões de pacientes. Estudos comparativos pré e pós-implantação mostram uma redução de 25% na mortalidade geral, assim como uma diminuição de sete horas no tempo médio de internação por paciente graças à agilidade de medidas após as análises do robô Laura.

vencedor medicina diagnóstica
O jurado e professor de radiologia da USP Giovanni Guido Cerri com o médico Hugo Morales, do projeto Robô Laura (Foto: Flávio Santana/SAÚDE é Vital)
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Robô Laura – Inteligência Artificial no Ambiente Hospitalar

Autores: Hugo Manuel Paz Morales, Jacson Luiz Fressatto, Cristian da Costa Rocha, Maria Luiza de Medeiros Amaro, Andressa Romero, Henrique Santos da Luz, Conrado Cabane, Felipe Barletta, Letícia Christensen e Felipe Locatelli 

Instituição: Instituto Laura Fressatto

Inovação em Genética – Um banco de dados para doenças de crânio e face

No mundo, a cada 2 minutos e meio, nasce um bebê com uma fenda de lábio e palato, uma das alterações mais comuns no conjunto de anomalias craniofaciais. Essa e outras condições genéticas que impactam a estrutura óssea de crânio e face demandam tratamento prolongado e acompanhamento de diferentes profissionais de saúde, entre eles cirurgiões, pediatras, fonoaudiólogos e fisioterapeutas. Por isso, reconhecer a história natural dessas alterações é crucial para seu manejo adequado.

Dessa necessidade nasceu o CranFlow, uma aplicação online para coleta e armazenamento de dados sociodemográficos, genéticos e clínicos de pacientes. Gerenciada pelo Departamento de Genética Médica e Medicina Genômica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a ferramenta está implantada em nove municípios distribuídos pelas regiões Nordeste, Sudeste e Sul do Brasil. Os dados ali acumulados permitem o acesso a investigações em genética, promovem a troca de conhecimentos entre os profissionais de saúde, facilitam a tomada de decisões médicas e norteiam ações educativas para as famílias envolvidas.

Implantada desde 2014, seus resultados podem contribuir para desenhar políticas públicas voltadas à identificação de fatores de risco e prevenção, levando em conta as características da população brasileira, além de padronizar o atendimento de quem nasce com esse tipo de problema.

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vencedor genética
A jurada e professora de genética da UFRJ Claudia Lage com a vencedora da categoria, a geneticista Vera Lúcia Gil, da Unicamp (Foto: Flávio Santana/SAÚDE é Vital)

CranFlow – uma aplicação on line para seguimento clínico e subsídios para políticas públicas em anomalias craniofaciais

Autores: Vera Lúcia Gil da Silva Lopes, Isabella Lopes Monlleó e Roberta Mazzariol Volpe Aquino

Instituição: Departamento de Genética Médica e Medicina Genômica da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de Alagoas (Ufal)

Inovação em Prevenção – Coração resguardado na quimioterapia

Não é de hoje que a medicina busca alternativas para prevenir ou remediar os efeitos da toxicidade dos quimioterápicos usados no tratamento de tumores. No caso da antraciclina, classe de drogas amplamente utilizada no câncer de mama, um dos motivos de preocupação é sua capacidade de provocar danos ao coração.

Com isso em mente, uma equipe do Instituto do Coração, o InCor, em São Paulo, promoveu um estudo com 200 mulheres, todas com funções cardíacas normais e fazendo uso de doxorrubicina, quimioterápico do grupo das antraciclinas. Elas foram divididas em dois grupos: um deles recebia carvedilol, medicamento que auxilia no desempenho do coração, e o outro tomava placebo (sem princípio ativo).

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Nas avaliações feitas após seis meses de intervenção, as pacientes medicadas preventivamente com carvedilol apresentaram níveis menores de troponina, um marcador sanguíneo que indica danos no coração. Além disso, sofreram uma menor incidência de disfunção diastólica, que acontece em quadros de insuficiência cardíaca.

Com os resultados animadores, o trabalho pode mudar a prática clínica na cardio-oncologia. Sem contar seu impacto social, uma vez que tem como alvo doenças com alto grau de mortalidade no país, e tanto o tratamento quimioterápico quanto a medicação para cardioproteção estão disponíveis no SUS – sendo, portanto, acessíveis em larga escala.

vencedor prevenção
As médicas Sílvia Ayub-Ferreira e Mônica Avila, vencedoras em Prevenção, com o jurado e urologista Gustavo Guimarães, da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo (Foto: Flávio Santana/SAÚDE é Vital)

Efeito do carvedilol na prevenção da cardiotoxicidade por antraciclinas: estudo randomizado, duplo-cego, placebo controlado (CECCY Trial)

Autores: Monica Samuel Avila, Silvia Moreira Ayub-Ferreira, Mauro Rogerio de Barros Wanderley Junior, Fatima das Dores Cruz, Sara Michelly Gonçalves Brandão, Ludhmila Abrahão Hajjar, Marilia Harumi Higuchi dos Santos, Roberto Kalil Filho, Paulo Marcelo Hoff, Marina Sahade, Marcela S.M. Ferrari, Romulo Leopoldo de Paula Costa, Max Senna Mano, Cecilia Beatriz Bittencourt Viana Cruz, Marco Stephan Lofrano Alves, Guilherme Veiga Guimaraes, Victor Sarli Issa, Marcio Sommer Bittencourt e Edimar Alcides Bocchi

Instituição: Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HC/FMUSP)

 

Inovação em Tratamento – Pele de tilápia para tratar queimaduras

No Brasil, todo ano pelo menos um milhão de pessoas sofrem com lesões na pele provocadas por acidentes domésticos ou de trabalho. Nos centros de atendimento especializados em queimaduras, em geral da rede pública, o tratamento convencional se baseia em banhos anestésicos, enxertos de pele, curativos sintéticos e pomadas, procedimentos que, além do alto custo, podem acarretar experiências dolorosas aos pacientes.

Agora, uma técnica simples, barata e genuinamente nacional, concebida por cientistas de três instituições cearenses, virou promessa de minimizar o sofrimento dos queimados e acelerar a cicatrização. Trata-se de um curativo biológico feito a partir de pele de tilápia e já usado com sucesso em mais de 500 pessoas. Tudo começou quando, cientes dos estoques reduzidos nos bancos de pele humana e em busca de uma alternativa, os especialistas tiveram conhecimento do grande volume de pele desse peixe descartado pela indústria de alimentos. O passo seguinte foi examinar o produto em laboratório, e então descobriram que ele continha o dobro de colágeno da pele humana.

Definido o processo de limpeza e esterilização, nos testes clínicos notaram que o material aderia totalmente às feridas, evitando contaminação externa e perda de líquido e proteína pelas lesões, além de reduzir significativamente a troca de curativos. O método trouxe mais qualidade de vida aos pacientes e gerou uma queda de 50% nos custos do tratamento. Sem relatos de rejeições ou infecções, a estratégia está em fase de avaliação para ser incorporada ao Sistema Único de Saúde, o SUS.

vencedor tratamento
Odorico de Moraes e Edmar Maciel, líderes do trabalho vencedor em tratamento, com o jurado e cardiogeriatra Roberto Dischinger Miranda, da Unifesp (Foto: Flávio Santana/SAÚDE é Vital)

Tratamento de queimaduras e feridas com curativo biológico derivado de pele de tilápia

Autores: Edmar Maciel Lima Júnior, Manoel Odorico de Moraes Filho, Maria Elisabete Amaral de Moraes, Felipe Augusto Rocha Rodrigues, Carlos Roberto Koscky Paier e Marcelo José Borges de Miranda

Instituições: Instituto de Apoio ao Queimado (IAQ), Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos da Universidade Federal do Ceará (NPDM/UFC) e Centro de Tratamento de Queimados do Instituto Dr. José Frota (CTQ/IJF)

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