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Após dez anos, um novo remédio para hepatite B chega ao Brasil

O medicamento tenofovir alafenamida, já aprovado na Europa, tem como principal vantagem a redução de efeitos colaterais no longo prazo

Por Maria Tereza Santos
23 set 2019, 18h02
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  • Pela primeira vez em dez anos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou um novo medicamento para hepatite B, uma infecção que agride o fígado. É o tenofovir alafenamida (nome comercial: Vemlidy), da farmacêutica Gilead Sciences, que promete tratar a versão crônica da doença com menos efeitos colaterais do que as opções disponíveis até então.

    Essa enfermidade afeta cerca de 257 milhões de pessoas no mundo, segundo relatório mais recente da Organização Mundial da Saúde. O Ministério da Saúde aponta que, em 2017, foram 13 482 novos diagnósticos no Brasil — a hepatite C, mais comum por aqui, atingiu 24 460 indivíduos no mesmo período.

    Na realidade, existe uma vacina para evitar o vírus B (HBV) e, mesmo em gente não imunizada, o próprio organismo muitas vezes consegue se livrar desse inimigo. Por outro lado, alguns indivíduos desenvolvem a versão crônica da hepatite B, que não tem cura — mas tem tratamento.

    “Se não remediada, a doença pode evoluir para cirrose e aumenta o risco de câncer no fígado”, alerta o hepatologista Raymundo Paraná, da Universidade Federal da Bahia (Ufba).

    Atualmente, existem dois medicamentos disponíveis na rede pública: o entecavir e o tenofovir. “O tratamento atual já tem permitido que muitos pacientes evitem o transplante hepático”, garante Paraná, que também é presidente da Associação Latino-Americana para o Estudo do Fígado (Aleh). Ele conta, aliás, que esses remédios não visam eliminar o HBV, embora isso ocorra em 8% dos casos. O maior benefício é controlar o agente infeccioso e seus estragos em 95% das vezes.

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    No entanto, mesmo sendo seguros e dando conta do recado, eles possuem pontos negativos. Por exemplo: alguns subtipos do vírus são resistentes ao entecavir. Já o tenofovir provoca efeitos colaterais a longo prazo. “Ocorre uma alteração nos rins, chamada tubulopatia, que leva a perda óssea”, informa o professor.

    O novo medicamento nada mais é do que uma variação do tenofovir — ele possui os mesmos princípios ativos. Sua inovação é minimizar as reações adversas.

    De acordo com o gastroenterologista Eric Bassetti, diretor médico associado da Gilead Sciences, isso ocorre porque a nova fórmula deixa mais rapidamente a corrente sanguínea. “Ela é absorvida pelo intestino sem ficar muito tempo no sangue e sem que os rins precisem eliminá-la, que é a causa dos danos no órgão e da perda de massa óssea”, explica o especialista, em comunicado à imprensa.

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    Os ensaios clínicos que levaram à aprovação duraram dois anos e contaram com a participação de mais de 1 200 voluntários. Sua eficácia se mostrou similar à dos outros fármacos. Trata-se de um comprimido que deve ser ingerido uma vez ao dia para o resto da vida.

    “Ele está sendo usado hoje na Europa sobretudo em portadores de HIV ou com maior risco de lesão renal, como indivíduos com cirrose hepática, hipertensão e diabetes”, relata Paraná.

    O preço dessa alternativa mais moderna ainda não foi definido no Brasil. Também não há previsão para sua inclusão no Sistema Único de Saúde (SUS).

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    “Em algum momento isso vai ser discutido pela câmara técnica do Ministério da Saúde. A Sociedade Brasileira de Hepatologia e a Sociedade Brasileira de Infectologia deverão pedir sua incorporação pelas vantagens mencionadas”, afirma o profissional. “Enquanto isso, para os pacientes que dependem do SUS, nós vamos seguir com o entecavir e o tenofovir”, completa.

    Raymundo Paraná ainda adiantou que a Aleh pretende encaminhar um pedido à Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) para que a nova droga da Gilead seja incorporada no restante da América Latina.

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