A origem do termo angina já diz tudo. “Na expressão do latim angina pectoris, as duas palavras designam dor e sufoco. O termo angústia, aliás, tem o mesmo berço e era aplicado ao caminho apertado entre um desfiladeiro de montanhas”, ensina o etimologista Deonísio da Silva, professor da Universidade Estácio de Sá, no Rio de Janeiro.
Exceto pelo tom poético, a explicação cabe perfeitamente nos prontuários de pessoas com angina. Veja o que diz o cardiologista Luís Henrique Gowdak, do Instituto do Coração, o InCor, em São Paulo: “O desconforto é descrito como opressão, sensação de estrangulamento na região do tórax ou ainda de peso e ardor”.
Apesar de estarmos bem distantes das cordilheiras citadas pelo mestre Deonísio, perceba que o mal tem tudo a ver com passagens estreitas. No caso, é o sangue que trafega por vias afuniladas e tortuosas. Isso porque, por trás da dor no peito, há uma obstrução nas artérias que levam sangue para o coração – o mesmíssimo processo que pode culminar em um infarto. Embora menos comuns, outras situações também conspiram a favor dessa sensação aflitiva, como distúrbios que afetam o trabalho das válvulas cardíacas e, por atrapalhar seu abre e fecha, boicotam o acesso do sangue à região.
O resultado é sempre dolorido. “O incômodo desponta porque a oferta de oxigênio não supre a demanda cardiovascular”, explica o médico Celso Amodeo, da Sociedade Brasileira de Cardiologia. É o que os especialistas chamam de isquemia. A angina dita estável geralmente dá as caras durante esforços físicos ou estresses intensos e desaparece com a calmaria. Já o tipo classificado instável irrompe até mesmo no repouso e é considerado mais perigoso. O temor é que a interrupção do fluxo sanguíneo resulte na morte de células do coração se não for contida a tempo.
Outra versão do problema preocupa em particular por não responder aos tratamentos atuais e ser altamente limitante – chega às vezes a impedir o sujeito de dar até uma caminhada leve. É a angina refratária. Ainda bem que ela é alvo de uma intervenção pioneira em solo brasileiro. Os resultados animadores desse trabalho coordenado por Gowdak no InCor levaram sua equipe a ser destaque do Prêmio SAÚDE 2015.
Estima-se que entre 380 mil e 1,1 milhão de brasileiros convivam com a angina refratária. São pessoas que despertam no meio da noite por causa de uma sensação insuportável no peito. Além de ser incapacitante, o mal repele as abordagens médicas tradicionais. “É que as múltiplas obstruções dificultam a angioplastia ou a cirurgia de ponte de safena”, conta Gowdak. Daí a criação, no InCor, do Núcleo de Estudos e Pesquisa em Angina Refratária (Nepar), onde foi desenvolvida uma estratégia de ponta para calar a encrenca – ela inclui uso de células-tronco, ondas de baixa potência e até raios laser.
Os pacientes também são convidados a participar de um programa de exercícios físicos supervisionado. “Com isso, observamos um aumento da tolerância ao esforço, com maior capacidade para a prática da atividade até surgir a dor”, revela a educadora física Camila Jordão.
Dar um chega pra lá no sedentarismo, aliás, é uma medida bem-vinda para afastar todos os tipos de angina. Como não custa lembrar, a inatividade abre brechas para o coração literalmente perder o fôlego. O conselho de adotar um estilo de vida saudável é batido, mas ainda insuperável para evitar as aflições do peito. “Também é importante controlar o estresse”, destaca o cardiologista Eduardo Pesaro, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Há evidências de que a tensão constante banhe o organismo de substâncias que maltratam o músculo cardíaco.
E o que dizer da dieta? “A alimentação equilibrada é fundamental tanto na prevenção quanto no tratamento”, afirma a nutricionista Lis Proença, do InCor. Vale apostar sobretudo em frutas, hortaliças e grãos, grandes fornecedores de fibras e antioxidantes, aliados da circulação.
Realizar checkups periodicamente é outra medida para escapar de surpresas desagradáveis. Também tenha em mente que, apesar de indesejada, a angina é um aviso e tanto de que o coração não vai bem. “Se vier acompanhada de suor e náuseas, pode ser o prenúncio de um infarto”, alerta o cardiologista Enilton Egito, do Hospital do Coração, na capital paulista. Na dúvida, é melhor dar ouvidos a ela e procurar ajuda médica antes que a qualidade de vida vá perambular por caminhos muito estreitos.