O diagnóstico de um aneurisma cerebral soou como uma sentença de morte para Thelma, personagem vivida pela atriz Adriana Esteves na novela da TV Globo Amor de Mãe. “É uma operação perigosa. Eu não posso morrer”, disse. A doença é caracterizada pela dilatação anormal de uma artéria do cérebro, causada pelo enfraquecimento de sua parede. Isso, por sua vez, forma espécies de bexigas (sáculos).
Embora seu rompimento represente um grave risco à saúde, o diagnóstico de um aneurisma não deve ser encarado como o fim de uma vida. “Há tratamentos já consolidados capazes de tratar mais de 90% dos aneurismas e evitar seu sangramento. Apesar de eles de fato terem uma margem de risco, é incomum um aneurisma não ter solução com as técnicas disponíveis hoje em dia”, afirma o neurocirurgião André Gentil, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Estimativas apontam que entre 1% e 5% da população mundial desenvolvam a malformação, que não apresenta sintomas na maioria dos casos. Os fatores que contribuem para enfraquecimento da parede arterial podem ser genéticos ou controláveis.
No primeiro caso, parentes de primeiro grau de pessoas que tiveram sangramento de aneurisma cerebral possuem um risco duas vezes maior de desenvolverem a condição. Em caso de mais de um familiar, a probabilidade cresce 50 vezes na comparação com a população geral. Tabagismo, consumo abusivo de álcool, uso de drogas estimulantes (como cocaína e anfetaminas) e hipertensão arterial não controlada são os principais fatores evitáveis.
“Em geral, o aneurisma cerebral não é percebido ao longo de toda vida. Sua gravidade está associada ao seu rompimento ou à compressão de alguma estrutura cerebral”, explica o neurologista Rubens José Gagliardi, presidente da Associação Paulista de Neurologia e professor da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. “Aí sim pode apresentar sintomas que variam de acordo com a área afetada”, completa.
Em 40% dos casos, o sangramento do aneurisma cerebral é fatal — 15% das mortes ocorrem antes da chegada ao hospital. Entre as pessoas que sobrevivem, estima-se que até 50% desenvolverão algum tipo de sequela.
Os sintomas
• Dor de cabeça súbita de forte intensidade
• Perda ou alteração no nível de consciência súbita
• Rigidez no pescoço
• Qualquer sintoma neurológico de início súbito, incluindo alterações de visão, força, coordenação ou sensibilidade
• Convulsões
• Queda da pálpebra
O tratamento e o diagnóstico do aneurisma cerebral
Para os casos identificados de forma incidental, ou seja, em exames de investigação de queixas não relacionadas ao problema, às vezes pode-se optar por uma conduta médica mais conservadora. O quadro é acompanhado periodicamente por exames de imagem e os fatores de risco evitáveis devem ser manejados.
Para tratar um aneurisma, há basicamente dois procedimentos: o endoarterial e a cirurgia aberta. A opção entre um e outro deve ser discutida com o paciente. “É preciso fazer uma análise entre o risco da doença e o do tratamento. Entram nessa avaliação vários fatores, incluindo o seu tamanho, formato e localização”, informa André Gentil.
Como o nome sugere, a cirurgia aberta consiste na abertura do crânio (craniotomia) para realizar a clipagem do aneurisma. Isso significa isolar aquele sáculo do aneurisma, garantindo que um possível rompimento não resulte no escape do sangue que circula na artéria e cause uma hemorragia – ou AVC.
“Embora seja uma cirurgia que sempre tem algum grau de risco, a vantagem é que, uma vez bem clipado, o risco de o aneurisma causar problemas no futuro é menor que 1%”, calcula André Gentil.
Já o tratamento endoarterial tem tempo de internação menor e a virtude de não precisar da abertura do crânio. O método utiliza cateteres levados da região da virilha (pela artéria femoral) até o cérebro.
Em sua forma mais usual, o aneurisma é preenchido com pequenas molas, que impendem a entrada do sangue e reduzem, assim, a pressão na área enfraquecida da artéria. “Com essa técnica, é necessário fazer um acompanhamento por exames de imagem para garantir que o aneurisma não seja recanalizado em longo prazo”, pondera Gentil.
Variações do mesmo procedimento incluem o uso de cola especial para preencher as lesões ou a inserção um stent. “É como uma rede com espaçamento da trama muito pequena que envolve o interior da artéria, conduzindo o fluxo sanguíneo e impedindo que ele entre no aneurisma”, esclarece o médico.
No fim, cada caso é um caso. “A exceção, em que não há o que pensar, é quando o aneurisma rompeu e já sangrou. Aí é preciso tratar com urgência para evitar o ressangramento”, destaca o neurologista.
É raro um aneurisma não ser tratável. Após o diagnóstico, procure um especialista e esteja aberto inclusive para uma segunda opinião. “Ter um aneurisma cerebral não é uma sentença de morte”, encerra Gentil. Ponto positivo para os fãs de Thelma e da novela Amor de Mãe.
Este conteúdo foi produzido pela Agência Einstein.