Enchente aumenta risco de várias doenças. Como se proteger?
Não importa se em São Paulo, Belo Horizonte ou onde for. Os alagamentos favorecem leptospirose, hepatite A, diarreias bacterianas e outros problemas
As enchentes, resultado de fortes chuvas e falta de planejamento nas cidades, ajudam a transmitir doenças pra lá de perigosas. A mais mencionada é a leptospirose, mas hepatite A, febre tifoide, diarreias bacterianas e outras infecções também se beneficiam dos alagamentos.
Para solucionar dúvidas sobre enfermidades que podem afetar quem entra em contato com a água das enchentes, buscamos documentos oficiais e conversamos com o infectologista Luiz Fernando Aranha, do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. Confira:
Leptospirose
Apelidada de doença do rato, é transmitida pela urina dos roedores infectados que se espalha pelas enchentes. Feridas aumentam o risco da doença, mas mesmo uma pele intacta pode ser invadida pela bactéria Leptospira — se você estiver em contato com água contaminada.
“A maioria dos casos tem sintomas leves, como febre e dor de cabeça”, diz Aranha. “Mas há quadros graves que podem até matar”. O tratamento envolve repouso, hidratação, uso de antibióticos e, eventualmente, internação na UTI para lidar com as complicações, a exemplo de insuficiência renal e sangramento no pulmão.
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Hepatite A
Diferentemente da leptospirose, é causada por um vírus. Ele acessa o corpo principalmente pela ingestão de líquidos e alimentos com fezes contaminadas.
Ou seja, descarte comida ou líquidos que entraram em contato com a água da enchente, mesmo se estiverem embalados. É o caso dos vegetais que foram comprometidos pelo alagamento que afetou a Ceagesp, em São Paulo.
Também é importante verificar se a enchente afetou caixas d’água ou outros reservatórios na casa. “Nesse cenário, até tomar banho poderia disseminar a doença, porque a água encosta na boca e nas mucosas”, informa Aranha.
A boa nova: na maioria dos casos, o próprio corpo se livra da hepatite A após um ou dois meses. Alguns episódios se prolongam por seis meses.
Não há tratamento específico para o vírus, porém existe uma vacina, administrada gratuitamente a crianças menores de 5 anos e a indivíduos com alguma doença no fígado.
Os sintomas incluem febre, mal-estar, náusea, vômito, dor abdominal e olhos amarelados. Em situações raríssimas, o vírus ocasiona uma hepatite fulminante, em que os danos ao fígado são severos, súbitos e podem levar a óbito.
Por outro lado, vários indivíduos com hepatite A não manifestam sinais da enfermidade. Ainda assim, podem espalhar o vírus enquanto o organismo não se livra dele.
Diarreias bacterianas
De novo, o problema é ingerir água contaminada com fezes repletas de micro-organismos nocivos. “Inúmeras bactérias podem causar o problema”, afirma Aranha.
Em geral, a diarreia e a febre tendem a sumir em dois ou três dias, mas às vezes a infecção se arrasta por mais tempo e exige antibióticos. No mais, casos intensos de diarreia geram uma desidratação preocupante.
Se, após entrar em contato com a água da enchente, você manifestar diarreia e febre, busque apoio de um profissional de saúde.
Febre tifoide
Ela até poderia ser enquadrada dentro das diarreias, mas merece um capítulo à parte por sua gravidade. Se não tratada, a doença — deflagrada pela bactéria Salmonella Typhi — pode matar.
Seus sintomas incluem febre alta, dores de cabeça, mal-estar, falta de apetite, manchas rosadas no tronco, diarreia ou constipação e tosse seca. Em situações mais graves, podem ocorrer sangramentos e até perfurações no intestino. Pneumonia e colecistite (uma inflamação na vesícula biliar) são outras complicações.
O tempo de eliminação da bactéria em geral varia de uma a três semanas, mas pode chegar até três meses. Aliás, entre 2 a 5% dos pacientes transformam-se em portadores crônicos, transmitindo a febre tifoide através das fezes por até um ano, segundo informativo do Ministério da Saúde.
Há uma vacina contra esse agente infeccioso, que confere proteção por três anos. Mas a Sociedade Brasileira de Imunizações (Sbim) reitera que ela é indicada para pessoas que vão a locais com alta incidência da doença, após uma análise médica criteriosa.
Para o resto da população, saneamento básico e cuidado com a ingestão de alimentos ou líquidos de proveniência duvidosa são as medidas mais eficazes de prevenção.
Tétano
A Clostridium tetani, bactéria que causa essa doença, em geral penetra o organismo por meio de cortes provocados com um objeto contaminado. E o que isso tem a ver com enchentes?
“Não conseguimos ver o que há dentro da água suja. Uma pessoa pode pisar em um prego ou em outra coisa e se machucar”, exemplifica Aranha.
Os sintomas mais conhecidos são os espasmos musculares, embora o tétano também provoque rigidez do pescoço, dificuldade para engolir… Nas situações mais perigosas, o diafragma (músculo responsável pela respiração) pode parar de contrair adequadamente, o que compromete a respiração. Cerca de 10% das pessoas morrem.
Entretanto, há uma vacina que protege contra o tétano, distribuída gratuitamente no SUS. Essa é a melhor forma de prevenção.
Dengue
A questão, aqui, são as poças d’água que persistem após um alagamento. Principalmente no verão, elas servem de criadouro para o mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue.
Essa encrenca conhecida dos brasileiros provoca, entre outras coisas, uma inflamação nos vasos sanguíneos. Em decorrência disso, os sinais de sua presença são:
• Febre acima de 38,5˚ C
• Dor de cabeça, nas articulações e muscular intensas
• Dor ao movimentar os olhos
• Mal-estar
• Falta de apetite
• Enjoo e vômitos
• Manchas vermelhas no corpo
Dor intensa na barriga, vômitos persistentes, acúmulo de líquidos nas cavidades do corpo (abdômen, coração e pulmão), sangramentos, pressão baixa e aumento do fígado são sinais de que há risco de se agravar, o que costuma acontecer após melhora da febre. Essa é a dengue hemorrágica, hoje chamada de dengue grave.
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