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Agência americana volta a alertar sobre elo entre silicone e câncer. E aí?

Investigamos o assunto para entender o que há de novo e qual o real risco das próteses nos seios - em relação a tumores e também a outras complicações

Por Fabiana Schiavon
27 set 2022, 18h07
silicone
Casos relatados nos Estados Unidos são raros: foram 20 diagnósticos de carcinoma e menos de 30 linfomas em meio a milhares de implantes, só nos Estados Unidos (YakubovAlim/Getty Images)
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Um novo alerta da agência reguladora de saúde americana, a FDA, relacionou o uso implantes mamários a alguns tipos de câncer. O boletim parece preocupante, mas médicos avaliam que os casos são raros e há pouca novidade em relação ao que já se sabia sobre o tema. Há também muitas perguntas sem respostas. Vamos começar, então, pelo que que é conhecido.

A conexão dos implantes com casos de câncer se tornou pública em 2019. Foi quando a empresa Allergan retirou seus produtos do mercado após estudos indicarem que o silicone texturizado fabricado por ela poderia estar por trás do linfoma anaplásico de células grandes, também conhecido pelo nome de BIA-ALCL. Trata-se de um câncer de sangue que afeta os linfócitos (unidades do sistema de defesa que atuam contra infecções e outras enfermidades).

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“Quando colocamos um implante, o corpo vai reagir a esse material estranho e criar uma espécie de cápsula em volta dele. A situação pode se estabilizar ou gerar reações inflamatórias crônicas”, explica Marina Sonagli, cirurgiã do departamento de mastologia do A.C.Camargo Câncer Center.

“Ainda não sabemos se há outras relações, mas a hipótese é que essa agressão diária recebida pela cápsula em volta ao implante gere um linfoma”, complementa Alexandre Piassi, cirurgião plástico especialista em implantes mamários e membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).

Mulheres que desejam passar pelo procedimento já são informadas que os riscos existem, mas são raros. “Na época, a FDA, nos Estados Unidos, notificou cerca de 1 300 pessoas no mundo em um universo de 30 milhões de usuárias de implante mamário”, conta Piassi.

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O cirurgião plástico relata ainda conta que esse linfoma específico já era conhecido pelos médicos antes do alerta da FDA – os cirurgiões plásticos já saberiam diagnosticá-lo há anos. Sinais como inchaço, dor, caroços ou alterações na pele apontam que algo está fora do normal.

“Não se trata de um câncer agressivo. Pode haver casos de metástase [quando a doença se espalha para outros órgãos], mas o índice é de 1% a 2% dentro desses casos, que já são raros”, relata Marina. Em geral, o médico faz uma cirurgia que remove a prótese e o entorno dela, e a paciente é considerada curada.

O que há de novo?

Esse alerta recente da FDA cita outros tipos de câncer para além do BIA-ALCL: o carcinoma de células escamosas e outros tipos de linfoma.

No caso do carcinoma em específico, estudos de caso relatam pacientes com BIA-ALCL que passaram pela cirurgia e depois descobriram  esse outro tumor maligno. “Todo o material retirado, que inclui o implante, a cápsula e os líquidos que se formam, sempre são enviados ao patologista após o procedimento. Nesses pacientes, foi identificado o carcinoma”, esclarece Marina.

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Isso faz crer que a origem do problema continua a mesma. Mas, como os casos pipocaram no ano passado, é difícil dar mais explicações no momento. “Podemos dizer que não é necessário sair fazendo explante mamário ou desistir de colocar prótese por isso. É uma consequência rara, e não dá para interpretá-la como um efeito do uso geral de um produto”, opina Marina.

Números da própria FDA corroboram esse argumento. Foram 20 casos de carcinoma e menos de 30 casos de linfomas em meio a milhares de implantes nos Estados Unidos.

A culpa é dos texturizados ou dos lisos?

As próteses retiradas do mercado em 2019 eram do modelo texturizado, o que chegou a ser ventilado como uma hipótese para os casos de câncer. Porém, esse tipo de implante ainda existe e não há estudos suficientes que comprovem que a textura da superfície do implante aumente o risco da doença. Somado a isso, essa notificação recente da FDA coloca todos os produtos – lisos ou texturizados – no mesmo balaio.

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“Há uma vantagem da versão texturizada. Quando aquela cápsula é formada pelo organismo, essas ranhuras fazem com que o implante não rotacione, o que pode ocorrer com os produtos de superfície lisa”, esclarece Marina.

+ Leia também: Descobertas abrem nova era para as próteses mamárias de silicone

A própria FDA admite que não tem informações sobre as reais causas desses tipos de câncer e pede que médicos façam relatos que possam contribuir para novos estudos. O alerta serve como uma precaução. “Uma solução que já está no mercado são os implantes nanotexturizados, que não são completamente lisos, mas podem causar menos atrito”, aponta Marina.

Há grupos de risco?

A tendência genética a alguns tipos de câncer são a pista seguida por médicos para evitar a prótese mamária ou buscar alternativas. Isso, principalmente, nos casos de mulheres que utilizam o implante após a cirurgia do câncer de mama.

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“Foram relatados casos de linfoma de células grandes em pessoas com a síndrome de Li-Fraumeni, uma alteração genética que predispõe o indivíduo a diversos casos de câncer”, explica Marina. Até por isso, a médica diz que investiga bem o histórico por parte de pai e mãe com relatos de todos os tipos de tumores na família.

Para essas mulheres, conta Marina, há outras opções, como a reconstrução mamária com retalhos, em que são utilizados parte dos músculos das costas e do abdômen na cirurgia.

Mulheres com implante devem ir ao médico todo ano

Uma pesquisa recente aponta que apenas 6% das mulheres americanas que colocam implantes de silicone fazem o acompanhamento com exames de ressonância magnética, como é recomendado pela FDA. O número é resultado de um estudo recém-publicado no periódico científico Plastic and Reconstructive Surgery, da Sociedade Americana de Cirurgiões Plásticos.

Apesar dos tipos de câncer relatados aqui serem raros, é importante cuidar do implante por outras complicações. “Hoje, é mandatório voltar anualmente ao médico. O melhor exame para checar como está o implante é a ressonância”, diz Piassi.

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+ Leia também: Retirada do silicone vira tendência

O acompanhamento é necessário porque cada organismo vai reagir de forma diferente ao silicone. “Se eu colocar um implante em cima da minha mesa, ele não vai mudar com os anos. Mas, ao interagir com o organismo, ele pode se deteriorar”, conta o cirurgião.

O cuidado com o implante se dá em qualquer situação. Aquele alerta agência americana reforça esse pensamento: “Sabemos que os implantes mamários não são dispositivos vitalícios e que, quanto mais tempo um paciente tiver implantes mamários, maior a probabilidade de eles precisarem ser removidos ou substituídos”.

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