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Afasia: do diagnóstico à busca pela qualidade de vida

A incapacidade de se expressar ou compreender os outros pode trazer consequências sérias. Conheça os tipos de afasia, o diagnóstico e o tratamento

Por Fabiana Schiavon
9 Maio 2022, 12h02

A afasia ganhou o noticiário com os diagnósticos recentes do ator Bruce Willis e do cartunista Angeli. Seu principal sintoma – a perda da habilidade de se comunicar ou de compreender os outros – muda a vida dos pacientes. “É como se a pessoa passasse a usar uma língua estranha no país onde vive”, define Alex Baeta, neurologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo.

A doença, a depender do tipo (e são dezenas) e das particularidades, pode ou não ter tratamento efetivo. Em qualquer caso, o objetivo dos profissionais de saúde é proporcionar a melhor qualidade de vida.

Não é simples detectar a afasia ou mesmo determinar seus sintomas em cada situação, porque a dificuldade de compreensão e fala são frequentemente confundidos com outros males neurológicos.

A afasia pode ser dividida em duas grandes categorias: a primária progressiva e a secundária.

Afasia primária progressiva, a mais grave

Ela se encaixa entre as doenças neurodegenerativas e é considerada a mais severa, porque ainda não é possível brecar a sua evolução. A causa do problema não está clara.

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“Diferentemente de doenças como o Alzheimer, que atingem as pessoas mais velhas, a afasia primaria progressiva começa a se manifestar mais cedo, por volta dos 60 anos”, explica Baeta.

A dificuldade de se expressar gera repercussões psicológicas profundas. “O indivíduo pode ficar angustiado e deprimido nessa fase em que ainda está consciente”, diz o médico. Daí a importância de amenizar os sintomas e buscar apoio psicológico.

É possível que esse seja o diagnóstico de Bruce Willis, de 67 anos, e do cartunista Angeli, 65, que já anunciaram suas aposentadorias. A doença também pegou a promotora Alicinha Calvacanti um pouco mais jovem. Ela morreu no ano passado, aos 58 anos.

+LEIA TAMBÉM: Demência também pode aparecer em adultos jovens

A afasia secundária

Essa surge por causa de outras encrencas. Ou seja, vem de lesões cerebrais (traumas, hemorragia, encefalite ou um AVC). A evolução depende da causa. Se é disparada por um câncer em crescimento, por exemplo, a afasia pode avançar comprometer uma parte cada vez maior do cérebro, principalmente se não houve tratamento.

Aqui, a variedade de tipos e de sintomas é enorme. “Em um caso, a pessoa ouve, mas não consegue entender. Eu peço para ela abrir a boca, e ela não responde ao comando”, relata Baeta. “Já em outro, há essa compreensão, mas a dificuldade é em exprimir as palavras”, completa.

Na afasia secundária nem sempre há uma progressão da doença. Entretanto, os déficits de linguagem não raro são consideráveis. “Para melhorar o quadro, é preciso fazer uma reabilitação neuropsicológica e avaliações constantes”, explica o neurologista.

Esse tipo de afasia tem algumas sub-classificações:

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  • Broca: ela afeta mais a expressão. A pessoa praticamente só emite sons ou monossílabos, mas entende o que está sendo dito. Ela tem esse nome porque afeta a parte do cérebro conhecida como “área de broca”.
  • Wernicke: é quando o indivíduo não compreende o outro e sequer reconhece símbolos auditivos, visuais ou táteis. Ela tem esse nome porque afeta a “área de wernicke” do cérebro.
  • Global: ela entra em cena quando o quadro reúne as duas características acima.

Que lado do cérebro é afetado?

Áreas diferentes dos lobos frontal e temporal do cérebro são atingidas conforme o tipo da afasia. Mas é importante destacar que as diferentes regiões do cérebro não estão isoladas: elas se interligam para que o cérebro processe o que ouviu e promova uma resposta, com a fala. Por isso, há tantas classificações de afasia.

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O diagnóstico da afasia

Pra começo de conversa, diversos especialistas são envolvidos nesse diagnóstico e no próprio tratamento. Estamos falando de neurologistas, fonoaudiólogos, neuropsicólogos, terapeutas…

Além do relato que chega no consultório, eles utilizam diversos testes que avaliam o nível de fluência da fala, a compreensão do que é dito, a capacidade de nomear sentimentos e a competência para repetir palavras. A leitura e a escrita também são examinadas.

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“Não dá para chegar a um diagnóstico com apenas uma conversa”, explica Bruna Rainho Rocha, fonoaudióloga do Hospital Paulista de Otorrinolaringologia. Segundo ela, as manifestações se misturam entre os tipos de afasia e mesmo com outras enfermidades.

Tratamento

O plano de recuperação muda conforme a idade e o histórico do paciente. “Uma pessoa poliglota tem um prognóstico um pouco melhor, por exemplo”, conta Baeta. Acredita-se que isso tenha a ver com o desenvolvimento do cérebro e, principalmente, com a capacidade de se fazer entender por diferentes línguas e vias.

Jovens e crianças que apresentam afasia após acidentes também podem se recuperar completamente. Essa é a afasia temporária.

De qualquer forma, após o diagnóstico o indivíduo e a sua família precisam se preparar para um processo que pode ser bastante lento e trabalhoso. “Dificilmente fazemos promessas de que será possível reverter o quadro. Na maioria das vezes, a fonoterapia dará mais condição à pessoa de se comunicar de alguma forma”, explica Bruna.

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Os exercícios são personalizados e, às vezes, envolvem os membros da família. “O fonoaudiólogo precisa de tempo para criar um vínculo com o paciente e entender o que melhor pode ajudá-lo. Usamos até fotos para a pessoa lembrar de quem estão nelas, seus nomes, características”, conta Bruna.

Nesse contexto, cada avanço merece ser comemorado. “Há essa ânsia de voltar a falar, mas, às vezes, a pessoa terá de aprender a usar a prancha ou alguns gestos, por exemplo”, explica a fonoaudióloga.

Nos casos de afasia primária, que vêm da próprio degeneração do cérebro e apresentam um prognóstico complicado, é feito um acompanhamento para ao menos melhorar o dia a dia do indivíduo.

“O tratamento vai melhorar a qualidade de vida por um tempo, até que o corpo apresente uma piora. Aí precisamos de novas estratégias”, explica Bruna. “É uma terapia constante, com reavaliações a cada seis meses”, arremata.

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Com o tempo, é possível que a pessoa começe a necessitar de apoio para comer, tomar medicamentos etc. É aí que o papel do cuidador ganha relevância especial. “É importante que ele também participe das terapias, até para entender a programação”, conclui Bruna.

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