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Sorrisos realinhados – a nova geração de aparelhos para os dentes

A popularização dos alinhadores invisíveis fez muita gente achar que os modelos fixos tradicionais estão ultrapassados, mas não é bem assim. Entenda

Por Ingrid Luisa
Atualizado em 11 mar 2022, 11h05 - Publicado em 10 mar 2022, 18h46
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  • Aos 8 anos, caí e quebrei os quatro dentes da frente. Sim, justamente aqueles que aparecem quando a gente fala ou sorri. E, pior, todos já eram permanentes.

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    Foi a partir dali que entrei numa longa saga por dentistas, cirurgias, procedimentos de canal e aparelhos ortodônticos. Por causa da fragilidade dos dentes comprometidos, só pude colocar meu primeiro aparelho aos 15 anos — e foi a versão fixa clássica mesmo.

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    Lembro-me da dentista fazendo um molde da minha boca com alginato, material gelatinoso que gruda nos dentes para tirar o formato deles, e depois instalando o fio e os bráquetes.

    Após dois anos com um sorriso metálico, achei que estaria livre de aparelhos. Grande engano.

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    “Toda movimentação ortodôntica é uma resposta à pressão que os aparelhos fazem, e, no final do tratamento, sem aquela força e uma contenção, há o risco de os dentes desalinharem de novo. É por isso que tanta gente precisa voltar a usar aparelho”, explica o ortodontista Ricardo Moresca, presidente da Associação Brasileira de Ortodontia e Ortopedia Facial – Seção Paraná (Abor-PR).

    Era o meu caso! Mas, adulta, não me sentia confortável para retornar aos bráquetes. E foi aí que o dentista apresentou o hoje famoso “aparelho invisível”, o Invisalign.

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    Essa alternativa ao modelo fixo, criada e fabricada pela empresa americana Align Technology, não depende de bráquetes ou metal. Toda a correção dentária é feita por meio de plaquinhas transparentes de plástico (os alinhadores), trocadas em média a cada dez dias.

    Para fazer o molde, nada de alginato na boca, é tudo com um scanner digital — em cinco minutos vi minha arcada dentária em 3D no computador.

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    Dias depois de ter topado o tratamento, me apresentaram uma simulação virtual com o resultado final dos meus dentes após cinco meses de uso. Parecia um sonho.

    + Leia também: A última geração dos implantes dentários

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    Mas o sonho tem um preço: só os alinhadores invisíveis, sem contar a manutenção com o ortodontista, custariam quatro vezes mais que um tratamento com aparelhos fixos. Também precisei colocar pecinhas de resina nos dentes (os chamados attachments) e utilizar elásticos entre a arcada superior e a inferior.

    Ficou discreto, mas um pouco mais visível do que eu esperava inicialmente. “Os alinhadores trouxeram novos ares para a ortodontia, mas ainda são aparelhos, com vantagens e desvantagens”, pondera Moresca.

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    E é exatamente sobre o que deve ser levado em consideração ao arrumar os dentes que vamos conversar agora — até porque a estética não é o único critério.

    Ainda que a popularização dos “aparelhos invisíveis” seja recente, a ideia de alinhadores ortodônticos não é algo novo.

    As primeiras pesquisas a respeito datam de 1945, quando o dentista americano Harold Dean Kesling desenvolveu placas que serviriam para estabilizar os dentes após o fim do tratamento ortodôntico.

    Esses primeiros dispositivos eram confeccionados em acrílico, mas a tecnologia foi se aprimorando e, nos anos 1980, chegaram ao mercado modelos de contenção móvel de plástico.

    Quem utilizava um artifício desses na década de 1990 era um universitário americano de origem paquistanesa, Zia Chishti.

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    Mas o futuro inventor se questionava se não seria possível usar aquelas placas menos incômodas durante o tratamento todo, não só como contenção. Junto à colega Kelsey Wirth, Chishti concebeu a ideia e o protótipo do Invisalign e fundou a Align Technology.

    Além da introdução dos alinhadores para correção dentária, a abordagem virtual e a previsibilidade do tratamento também foram inovações lançadas pela empresa.

    O aparelho estreou nos EUA em 1999 e hoje é vendido em mais de 100 países — estima-se que já tenha ajeitado os dentes de mais de 12 milhões de pessoas.

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    “Discrição estética, conforto na fala, menor risco de aftas após a instalação, ausência de restrição alimentar e higienização mais simples no dia a dia estão entre os benefícios dos alinhadores quando comparados aos aparelhos fixos”, enumera Lylian Kazumi Kanashiro, professora do Departamento de Ortodontia da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (USP).

    Por essas e outras, Moresca acredita que os alinhadores trouxeram muita gente de volta ao consultório do ortodontista: a aparência do aparelho fixo ainda afastava jovens e adultos do tratamento (como eu mesma posso provar!)

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    Mas será que qualquer um tira proveito do Invisalign e de soluções semelhantes que estão desembarcando no mercado odontológico?

    “É o diagnóstico do problema que vai definir. O tratamento ortodôntico não visa só o movimento dentário, é preciso analisar a situação das bases ósseas e como vai ficar a face para decidir qual aparelho usar”, esclarece Lylian. “Além disso, é necessário olharmos as limitações biológicas e o perfil de cada paciente”, completa a professora da USP.

    Tudo isso tem a ver com a eficácia do dispositivo. O aparelho, invisível ou metálico, funciona por meio de uma pressão aplicada a fim de que o dente vá para a posição desejada. Só que a biomecânica muda quando falamos em alinhadores e aparelhos fixos.

    No modelo mais tradicional, os bráquetes servem como ponto de força para os fios metálicos, que podem ser de diversos tamanhos e calibres, dependendo do objetivo. O ortodontista posiciona-os nos dentes no local adequado e vai monitorando a pressão e a evolução a cada consulta de acompanhamento — geralmente, de 30 em 30 dias.

    Já os alinhadores envolvem todo o dente com um plástico especial e geram força em diversas direções. Eles são fabricados a partir de um planejamento digital do tratamento: a primeira placa, por exemplo, muda milímetros da posição dental inicial do paciente. Ao ser colocada, ela “estica” para caber na boca, mas fica pressionando os dentes para voltar ao seu formato original.

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    Após dez dias de uso, os dentes são “empurrados” e o paciente começa a utilizar a placa seguinte, com outras microalterações. Funciona assim até a correção total.

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    O maior volume de evidências científicas disponíveis indica que os alinhadores são uma ótima opção para problemas ortodônticos leves e moderados, mas podem não ser tão eficazes em casos mais severos.

    As pesquisas também sugerem que nem sempre a previsibilidade do tratamento deve ser levada a ferro e fogo: o tempo de uso pode ser maior que o esperado.

    Quem se debruçou sobre os efeitos e promessas dos alinhadores foi a ortodontista Renata de Faria Santos. Ela analisou a eficiência e a precisão da previsão digital do dispositivo em seu doutorado pela USP. A conclusão corrobora estudos anteriores.

    “Por questões meramente físicas, os resultados podem variar. Algumas movimentações são perfeitas com alinhadores, mas, quando mexemos com dentes, fazemos força numa estrutura que envolve a coroa mas também a raiz que está dentro do osso. Com o fio metálico, temos mais experiência para contornar eventuais deslocamentos indesejados, o que ainda é uma limitação nos modelos de plástico”, contextualiza.

    Em algumas situações específicas, aliás, o alinhador não supera o aparelho fixo. “Quando precisamos fechar um espaço grande entre os dentes, o plástico tende a incliná-los ao fazer o afastamento. Com o fio metálico, conseguimos mensurar melhor onde será aplicada a força no dente e deslocá-lo mais retinho”, exemplifica Renata.

    Moresca reflete que, como em outros tratamentos, é preciso explicar ao paciente as limitações dos alinhadores. “A biologia nem sempre segue o ritmo dos algoritmos de um software”, afirma. Ainda assim, o presidente da Abor-PR enxerga a previsibilidade digital da tecnologia uma baita aquisição para a ortodontia, tanto em termos de diagnóstico como planejamento e comunicação com o paciente.

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    Mesmo inevitáveis, as comparações de eficácia entre o aparelho fixo e o alinhador nem sempre são justas.

    “Os alinhadores são aparelhos mais recentes e em desenvolvimento. Já os fixos, inventados no início do século passado, possuem décadas de pesquisa e aprimoramento para alcançar a eficiência atual”, diz Lylian.

    “A eficácia mecânica do aparelho fixo ainda é maior, mas a tecnologia dos alinhadores se aprimora a cada nova atualização”, conta a professora.

    Para além das questões mais técnicas, dois outros pontos contam na hora de o dentista e o paciente decidirem o tratamento conveniente: o fato de o alinhador ser móvel e o custo do processo todo.

    Por um lado, poder tirar a placa oferece conforto e segurança para comer e higienizar dentes e dispositivo, uma tremenda vantagem. Por outro, acaba exigindo uma disciplina rígida: para apresentar os resultados esperados, é necessário utilizar durante cerca de 22 horas por dia.

    “É um tratamento 100% dependente do paciente. Se ele não seguir as recomendações, as movimentações são comprometidas, aumentando o tempo do processo e gerando a necessidade de alinhadores complementares”, avisa Moresca.

    Infelizmente, essa cooperação ainda se mostra um desafio: numa pesquisa alemã com 2 500 usuários de alinhadores, apenas 36% deles passaram as 22 horas com as placas na boca.

    “É diferente do aparelho fixo, que funciona se você está feliz, atrasado, comendo… O alinhador exige uma rotina de cuidados que nem todo mundo consegue seguir”, aponta o ortodontista.

    E o preço? A tecnologia importada do Invisalign de fato pesa mais no bolso. É até por isso que estão surgindo marcas de alinhadores nacionais. Empresas brasileiras começaram a oferecer aparelhos invisíveis a preços mais acessíveis — algumas têm até ousado em nome do baixo custo.

    “Apesar de a matéria-prima dos alinhadores ser importada, a fábrica estar no Brasil reduz o preço final. Outro fator que influencia é vendermos direto ao consumidor. A maioria dos alinhadores é negociada com o dentista, que repassa os valores ao paciente”, relata a ortodontista Andrea Nazaré, cofundadora da marca SouSmile.

    Mas, calma, é possível comprar um aparelho numa loja?

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    Escolha seu aparelho… com o ortodontista

    Você que já usou fios e bráquetes, lembra qual era a marca do seu aparelho fixo? Não? E por que cada vez mais gente sabe quem fabricou os alinhadores na sua boca?

    Bem, porque com as plaquinhas invisíveis nasceu uma nova forma de comunicação na ortodontia: falar direto com o consumidor. Em vez de convencerem os dentistas a recomendar o aparelho, as marcas apelam para quem vai usar.

    O próprio produto de referência, o Invisalign, que só é vendido por intermédio de um ortodontista cadastrado e treinado, faz anúncios na TV e na internet para o público, com direito a garotos-propaganda como Taís Araujo e Bruno Gagliasso.

    “Temos visto um crescente envolvimento e confiança dos consumidores como resultado disso”, afirma Ritesh Sharma, vice-presidente e gerente-geral da Align América Latina. “Queremos capacitar os pacientes para que possam tomar uma decisão informada sobre o tratamento com alinhadores”, justifica.

    Independentemente de marca e modelo, o que precisa ficar claro é que a avaliação e a indicação de um ortodontista representam o passo número 1 da jornada por um sorriso mais bonito.

    “Tratamentos ortodônticos, incluindo com alinhadores, são tratamentos de saúde, e devem ser entendidos como tal”, enfatiza Moresca.

    Até porque usar o aparelho adequado corrige incômodos muito além da estética: a pressão e a movimentação exercidas por esses dispositivos influenciam na funcionalidade da região. “Eles vão repercutir na articulação, na musculatura, na estabilidade dos dentes e até na mastigação”, pontua o presidente da Abor-PR.

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    Na verdade, o que faz diferença mesmo no resultado do tratamento é a competência e dedicação do profissional — mais a colaboração do paciente.

    “Muita gente acha que colocar alinhadores com um dentista A ou B é a mesma coisa, porque tudo é alinhador, mas não é. O desfecho é totalmente condicionado à habilidade e à experiência do profissional, se ele sabe mexer bem com o plástico e prever as movimentações corretas”, explica Renata. “O resultado depende muito do ortodontista”, frisa a pesquisadora.

    Não é por acaso que alguns especialistas ficam receosos com a venda direta de alinhadores para clientes em lojas físicas.

    Nesses casos, ainda que se faça uma avaliação e haja um sistema em que dentistas podem acompanhar e realizar as manutenções, fica mais difícil assegurar um olhar especializado e personalizado. Pode dar certo, mas há eventuais riscos.

    No fim, entre tecnologia e tradição, dá para usufruir dos dois. “Existem inclusive tratamentos híbridos, com aparelho fixo e depois alinhadores, em que buscamos tirar o melhor de cada um deles e aprimorar os resultados”, conta Lylian.

    Sim, tem espaço para todos. Sorte dos dentes!

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    Passo a passo da correção com os alinhadores invisíveis

    Conheça as etapas desse tratamento ortodôntico — que exige capacitação do profissional

    1. Diagnóstico e indicação de um ortodontista
    Antes de recomendar o aparelho, é preciso que o dentista faça uma avaliação geral com exame clínico e de imagem. O diagnóstico define a indicação.

    2. Escaneamento da arcada dentária
    Após essa aprovação, é feito um escaneamento digital de toda a boca do paciente, criando um molde 3D da posição inicial da arcada dentária dele.

    3. Planejamento virtual
    A partir de uma análise inicial, o ortodontista projeta quais movimentos precisam ser feitos para que os dentes sigam corretamente ao lugar desejado.

    4. Previsão de finalização
    Após os comandos, o software cria uma simulação de como os dentes vão ficar e em quanto tempo. Se o profissional não gostar do resultado, ele pode ajustar até melhorar.

    5. Manufatura e uso
    Definido o modelo final e feita a apresentação ao paciente, a fábrica produz os alinhadores e a pessoa começa a usar as placas por no mínimo 22 horas diárias. O dentista acompanha os progressos.

    6. Adição de mais alinhadores
    Caso a movimentação não aconteça como planejado — ou o paciente não use os alinhadores da forma correta —, pode ser necessário recorrer a novas placas.

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