O dia era 19 de agosto de 2019. Alguns momentos mais tarde, a expressão “são 15h”, acompanhada de uma foto do céu da capital paulista, se tornaria um dos trending topics no Brasil.
Naquela mesma hora, eu saía de um centro comercial do bairro de Higienópolis e pisava a calçada perplexo ao deparar com uma cena que fazia me sentir parte de um filme de temática futurista e distópica. O sol era rapidamente encoberto enquanto víamos o dia desaparecer sob o manto sinistro da fuligem de uma floresta morta.
O ocorrido virou manchete. Mas a notícia que mais preocupava era a de que a fuligem era fruto da queimada na Amazônia, localizada a mais de 2 mil quilômetros de onde eu estava.
Para quem percebeu o que se passava naquele dia, era impossível não ficar ansioso ou preocupado. O que víamos poderia facilmente ser entendido como o prenúncio de um futuro muito difícil, ou melhor, de um futuro sem futuro.
Dois anos antes, em março de 2017, a Associação Americana de Psicologia (APA) lançava um relatório que falava de um sofrimento cada vez mais comum, a eco-ansiedade. E, em outubro de 2021, o termo foi incorporado pelo dicionário Oxford, retratando a recorrência dos relatos marcados por uma conexão entre o sofrimento psíquico e as questões climáticas.
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Segundo a APA, eco-ansiedade seria “uma resposta psicológica à mudança climática, como conflito, recusa, fatalismo, medo, desamparo e resignação.”
Não é o único sofrimento derivado do desastre ambiental. Mas ele se distingue de outros transtornos derivados de situações potencialmente traumáticas, vividas por quem sofreu diretamente as consequências do aquecimento global. Você não precisa ter encarado in loco enchentes, nevascas ou incêndios florestais para experimentar a eco-ansiedade.
A eco-ansiedade, ou ansiedade ecológica, suscita discussões. A começar pelo nome. O termo pode ou não ser usado para designar um adoecimento específico? Em minha opinião, esse é um aspecto secundário. Se ela é ou não é uma doença válida para estabelecer o diagnóstico de um indivíduo, pouco importa.
A mera percepção de que há um crescimento no número de queixas relacionadas a temores e preocupações com as condições ambientais já é, em si mesma, um diagnóstico social importante. Se toda ansiedade tem como pano de fundo a ideia de que a existência (do Ego) está sob ameaça, a eco-ansiedade reflete o medo de a nossa civilização caminhar, a passos largos, rumo à extinção.
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Nesse sentido, nós, brasileiros, ocupamos um lugar de destaque para a preservação da vida no mundo. Preservar a vida física assegurará não apenas a nossa sobrevivência, mas também a nossa vida psíquica. Destinados que somos ao encontro com a natureza, nossas escolhas e decisões sobre como lidamos com a natureza ditam o futuro, o destino e a paz da humanidade.
Talvez devêssemos pautar a criação das nossas políticas, sobretudo as voltadas ao meio ambiente, na sabedoria estampada na frase de Wendell Berry, poeta e ativista ambiental americano. Ele disse: “Nós não herdamos o mundo de nossos antepassados, nós o pegamos emprestado dos nossos filhos.”