Recentemente, um humorista famoso contou que não desejava ter filhos, pois não queria dividir seu tempo nem a responsabilidade de ter outra vida mais importante que a sua – questões egoístas, segundo ele próprio.
Diante dessa história, fiquei pensando: por que ter filhos? E por que não tê-los?
Há quem diga que ter filhos é um ato grande responsabilidade. E não dá para mentir: é mesmo.
Mas, sabe, hoje pela manhã tive a melhor sensação do mundo. Estava sentada com minhas filhas no sofá, e a Esther, de 3 anos, me pediu colo, se aconchegando em mim com seu cobertor favorito.
Sarah, a minha filha menor, de pouco mais de um ano, começou a resmungar e gritar “colo, “colo”, aninhando-se na minha outra perna.
Logo, virou uma pequena disputa entre as duas, e precisei apaziguar a briga: “Calma, tem espaço para as duas. Sempre vai ter”.
Abracei ambas, envolvendo-as bem, e beijei o topinho da cabeça de cada uma. Senti aquele cheirinho maravilhoso: o de filho.
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Por alguns segundos, o tempo parou e parecia que o coração ia explodir de amor e felicidade. Foi, na verdade, uma cena comum, conhecida por qualquer família.
Mas vamos voltar àquela questão sobre o tamanho da responsabilidade que é colocar gente no mundo. Pois é: filhos “dão trabalho”.
Eles perguntam 3743838 vezes a mesma coisa, testam o nosso limite o tempo todo, desobedecem instruções o tempo inteiro e acabam se machucando – nem dá tempo de falar “eu te avisei” e eles já estão abraçados na gente para “sarar o dodói”.
Não há um teste de resiliência maior do que passar noites em claro com o bebê em no nosso colo, para que ele se sinta melhor e consiga descansar.
Ou levantar inúmeras vezes na madrugada quando estão doentes ou com medo de escuro.
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Mesmo diante desses e outros desafios, continuamos a amar absurdamente esse serzinho. Ainda mais quando, ao levantar da cama, ele abre um sorriso largo e chama: “Mamãe! Papai!”
Repare: tudo aquilo que é extremamente recompensador também pode ser definido como algo que “dá trabalho”.
Filhos forjam o nosso caráter, porque entendemos que temos que ser pessoas honestas, verdadeiras, corajosas e fortes – por eles e para eles.
Eles evidenciam o melhor e o pior em nós, e revelam nossos sentimentos mais profundos. É impossível ter filhos e continuar sendo a mesma pessoa.
Eles mudam a nossa vida e nossas prioridades, e nos ensinam diariamente a lidar com questões para as quais não estávamos preparados.
Filhos são a expressão máxima do amor e do que podemos deixar nesse mundo.
Você pode ter construído casa e prédios, escrito livros, enfim, feito história de mil e umas maneiras diferentes. Mas nada pode ser mais precioso do que deixar um legado através dos filhos.
Mas muita gente pensa: “Ah, o mundo anda muito estranho, não quero que as crianças cresçam no contexto atual!”
Eu entendo. Tem muita maldade e coisas ruins por aí. Mas o mundo também pode ser surpreendentemente belo.
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Se tememos ter filhos, estamos dizendo a nós mesmos que a vida não vale a pena. Só que ela também pode ter nuances de cores surpreendentes.
E se criamos filhos para além de nós mesmos, que coloquemos mais gente no mundo, sim, para fazer dele um lugar muito melhor e mais belo.
Não tenho dúvidas de que é de uma imensa responsabilidade educá-los e prepará-los para o futuro. Mas que alegria poder fazer isso!
Você verá como nenhuma outra sensação vai chegar perto daquela de ter seu bebê em seus braços pela primeira vez.
E isso é só o começo. Depois, vem a primeira palavra, o primeiro sorriso, o primeiro “eu te amo”, o primeiro abraço demorado, a primeira dança no balé ou o primeiro gol no futebol…
Ah, meu amigo, e é exatamente assim: conversando com um casal com um bebê de um mês de vida, um tanto quanto assustados e já há um tempo sem dormir, num momento delicado, onde poderia dar inúmeras dicas, eu apenas sussurrei de forma suave: “Os anos são longos e os meses, curtos. Aproveita seu filho no colo, porque passa muito, muito rápido.”
É impossível descrever a sensação de ter filhos. Por isso, apenas tenha-os. Você saberá.