A alimentação complementar do bebê — ou seja, a fase em que ele receberá os primeiros alimentos além do leite materno — representa um momento especial e uma grande aventura para toda a família. O ideal é que essa etapa aconteça a partir dos 6 meses de vida, quando a criança já tem um desenvolvimento adequado para provar novos gostos, texturas, temperaturas… Em resumo, para desbravar os alimentos. E é claro que esse momento gera uma série de dúvidas: será que o bebê vai gostar de comer? O que posso e o que não posso dar? Quanto oferecer? Será que estou fazendo do jeito certo?
Houve um tempo em que os profissionais de saúde e as famílias achavam que a melhor coisa nessa fase era a criança comer sopas, papinhas e outras preparações líquidas. E que os pais e cuidadores deveriam assumir o controle da situação: definir o melhor horário, escolher o local adequado, estipular a quantidade de comida de cada refeição. O fato de o pequeno não aceitar tudo significava “problema”. O certo, por esse ponto de vista, era a criança comer de tudo — sempre!
Tal modelo fazia com que a alimentação infantil se tornasse monótona, a mastigação não fosse estimulada e, pior, que a criança se sentisse forçada a comer mesmo já estando satisfeita.
Muita coisa mudou desde então e hoje existe uma modalidade de introdução da alimentação complementar que ganha bastante espaço entre as famílias. É o método BLW, do inglês “Baby Led Weaning”. Nessa “nova estratégia para alimentar o bebê”, ele recebe a comida da família, na consistência habitual, e deve ser encorajado — ele mesmo — a pegar os alimentos e levá-los à boca.
É o bebê que decide o que quer e quanto quer comer em cada refeição. Os defensores do BLW dizem que ele traz diversos benefícios em relação ao modelo tradicional: maior autonomia, melhor aceitação, maior variedade de alimentos, formação de um hábito alimentar mais saudável, menor risco futuro de obesidade…
Eis que ficamos nós no meio dessas duas propostas e realidades. O novo é sempre bom? Ou o velho é mais seguro? Que caminho escolher?
Bem, o primeiro ponto a ser levado em consideração é que as tais vantagens do BLW ainda não foram comprovadas por estudos e só dá para confiar em argumentos do tipo quando eles possuem embasamento científico. Por outro lado, sabemos que não é nada recomendável deixar o bebê à base de sopa de legumes (e os mesmos alimentos de sempre).
Como em tudo na vida, o importante é ter moderação e bom senso. Por isso trazemos aqui uma terceira via de escolha, mais apaziguadora e capaz de tornar a alimentação complementar uma aventura cheia de descobertas e ganhos para a criança. O nome dela é “Alimentação Responsiva“.
Não se preocupe em decorar o nome. O que é importante aqui é lembrar que essa forma de alimentar o bebê envolve uma íntima interação entre quem come (a criança) e quem alimenta (mãe, pai, avós, tios…), respeitando o ritmo de cada um. Esse modelo está estruturado em quatro princípios consolidados pela própria Organização Mundial da Saúde (OMS):
- O bebê deve ser alimentado de forma lenta e paciente por um adulto. A ele cabe encorajar a criança a comer, mas não forçá-la;
- Se o pequeno recusar os alimentos, experimente diferentes combinações, texturas e formas de encorajamento;
- É importante minimizar as distrações durante as refeições (TV, brincadeiras em excesso, barulhos…). Lembre-se de que o bebê se distrai facilmente;
- A alimentação deve ser encarada como um momento de aprendizado e amor. Por isso, fale com a criança durante a refeição, mantenha contato visual com ela, procure estimulá-la a tocar nos alimentos e levá-los à boca.
Como dá para perceber, com amor e paciência as coisas caminham mais tranquilamente. A sugestão é combinar os aprendizados da alimentação dita tradicional com um pouco do que propõe o BLW, isto é, ter como base a chamada “Alimentação Responsiva”.
Não tem certo ou errado, melhor ou pior… Cada bebê e cada família tem seu ritmo. E o momento da refeição é uma oportunidade de ouro para conhecer o que a criança tem a lhe dizer.
Divirtam-se!
* Dra. Fabíola Suano é pediatra, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Faculdade de Medicina do ABC, membro do Departamento Científico de Nutrição da Sociedade de Pediatria de São Paulo e coautora do livro De 0 a 1000: Os Dias Decisivos do Bebê (Editora Abril)