“Sou autista, e enxergo o mundo de um jeito diferente”
Em livro, autora explora situações corriqueiras para a população, mas difíceis para quem convive com o transtorno do espectro autista (TEA)
Viver com o transtorno do espectro autista (TEA) é como navegar em um labirinto oculto, no qual é fácil se perder. Em especial quando os sintomas são tão marcantes dentro de você e muito difíceis de enxergar do lado de fora. Existem inúmeros desafios atrelados a nossa vida, mas que ainda são desconhecidos por grande parte da sociedade.
Falo por experiência própria. Sou autista e enxergo o mundo de uma maneira diferente. Fui diagnosticada aos 13 anos. Ressalto que, como o autismo é um espectro, as situações que geram desconforto podem variar de pessoa para pessoa, tanto em sua intensidade quanto nas reações. O grande problema é que a maioria desses desafios são invisíveis para o restante da população.
Esses obstáculos se dividem principalmente em três grandes eixos: estímulos sensoriais, relações interpessoais e imprevisibilidade. Tudo isso causa uma sobrecarga emocional quase impossível de lutar contra! É como se tudo estivesse no mesmo lugar ao mesmo tempo. Como se um tsunami de ideias e sentidos inundasse o corpo.
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Essas situações não causam somente efeitos adversos no plano psicológico e emocional, mas também se manifestam fisicamente; por meio de fortes dores de cabeça, náuseas, enjoo, vômito e dormência. São multifatoriais e com reações globais integradas.
Estímulos sensoriais e autismo
As pessoas no espectro possuem maior sensibilidade nos cinco sentidos e, como vivemos em um mundo guiado por eles, diversas situações se tornam grandes batalhas para os autistas.
Na parte do paladar, muitos possuem “comidas de conforto” e extrema seletividade alimentar, se restringindo a certos tipos de sabores, texturas, cores e formas (e rejeitando alimentos pelo mesmo motivo).
Já os barulhos tornam os ambientes de convivência um verdadeiro “inferno na Terra” para os autistas. Pequenos ruídos se tornam rapidamente estardalhaços. Por isso, shows, festas, rodas de conversa e até mesmo espaços coletivos como restaurante, cinema e parques sobrecarregam os autistas.
Cores e luzes também podem desnortear a gente, pois muitos focos de atenção simultâneos literalmente “causam cegueira”. Cheiros podem ser nauseantes e texturas desconcertantes.
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Compreensão é a chave
Quando falo de relações interpessoais, os autistas muitas vezes não entendem sinais sociais como expressões faciais, anedotas, piadas e sarcasmo. Isso torna mais difícil nossa vida social.
Por fim, a imprevisibilidade gera estresse. Uma simples mudança no cronograma do dia — como um atraso no trânsito, cancelamento de planos, mudanças de lugares na mesa, ter que usar meias de cores diferentes ou perder seu boneco de pelúcia – gera incômodo. Surpresas, datas comemorativas, “conversas de elevador” … tudo é desafiador.
É importante compreender essas particularidades para que haja uma relação mais harmônica entre os autistas e o restante da sociedade. É preciso superar as barreiras instauradas pelos preconceitos e estereótipos.
Minha dica principal é tratar os autistas como qualquer outra pessoa, respeitar seus desejos, gostos, desgostos, particularidades, oferecer as acomodações e o suporte necessário. A sociedade deve compreender essas diferenças como quaisquer outras e saber que são dignas de respeito e atenção. A chave para combater as desinformações e os preconceitos são o diálogo e a compreensão.
Dessa forma, teremos uma sociedade mais preparada e um ambiente mais inclusivo.
*Rafaela Jacob é autista, tem 16 anos e está no primeiro ano de medicina da Universidade Estadual de Ponta Grossa-PR (UEPG). É autora do livro O labirinto oculto – Autismo o desafio de ser diferente (LetraMais) – Clique para comprar**
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