Podemos dizer que o uso de próteses para suprir a falta de dentes é uma solução antiga na história da humanidade. Há relatos de que povos como os fenícios, os etruscos e os romanos já produziam e usavam esse expediente nos séculos antes de Cristo. No continente americano, escavações apontam que os povos maias também já recorriam a modelos rudimentares de próteses dentárias.
Na Idade Moderna, por sua vez, os primeiros registros aparecem em escritos do cirurgião francês Ambroise Paré e nos do pai da Odontologia, Pierre Fauchard — documentos redigidos entre os séculos 16 e 18. Mais recentemente, paleopatologistas da Universidade de Pisa, na Itália, acharam o que pode ser a prótese mais antiga descoberta até o momento. O objeto, encontrado na cidade italiana de Lucca, tem mais de 400 anos.
Questão atual
Os registros antigos e até mais atuais indicam que a perda de um ou mais dentes sempre foi motivo de desconforto. Os problemas vão além da estética e podem afetar desde a mastigação até a fala dos indivíduos. De volta ao século 21, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que 50% da população brasileira adulta tem apenas 20 ou menos dentes funcionais, enquanto nos idosos esse índice é ainda maior, apenas 70%. Para essas pessoas, a alternativa é a utilização das próteses dentárias, que se tornaram mais acessíveis, confortáveis e funcionais ao longo do tempo.
Embora seja uma saída bastante frequente, as próteses ainda despertam muita dúvida na população. Como as perdas dentárias são tratadas atualmente? Quais as alternativas disponíveis? Quais as próteses mais indicadas para cada caso? Quem pode fazer? A consulta com um cirurgião-dentista é essencial, pois responderá esses e outros questionamentos individualmente. No entanto, vamos apresentar alguns dos principais aspectos sobre o uso das próteses para você se inteirar.
A prótese total removível
Conhecida popularmente como dentadura, a prótese total removível é recomendada para casos em que houve perda de todos os dentes. Ela é feita a partir de moldagens que reproduzem a anatomia da arcada superior (maxilar) e da arcada inferior (mandíbula) do paciente. A solução tem estrutura removível e dentes de resina mais resistentes e ganhou tecnologia com o passar dos anos. Hoje é cada vez mais elaborada, buscando inclusive reproduzir cor, formato e tamanho dos dentes naturais como também a cor da gengiva.
Depois de pronta, a prótese fica apoiada sobre a mucosa, ou seja, na gengiva, o que facilita a colocação e a retirada da boca. Contudo, algumas pessoas ficam inseguras com a possibilidade de má fixação, problema que pode ser contornado com o uso de bons cremes fixadores. A higienização das próteses também demanda cuidados. Há inclusive pastas de dente específicas e a complementação da limpeza pode ser feita com produtos efervescentes disponíveis no mercado.
A prótese parcial removível
Esse tipo de prótese pode ser utilizado por indivíduos que possuem um número razoável de dentes remanescentes. Não há necessidade de extrair ou desgastar os dentes que ainda estão na boca. No entanto, a saúde desses dentes precisa ser levada em conta, pois eles servirão de apoio para a estrutura metálica da prótese, que, na maioria das vezes, será confeccionada com ligas de cobalto e cromo.
A manutenção não é complexa, já que a prótese é retirada com facilidade da boca. Mas vale ressaltar que é preciso realizar a limpeza após todas as refeições.
A prótese parcial fixa
Popularmente conhecida como “ponte” ou “coroa”, a prótese parcial fixa é indicada normalmente para pessoas que perderam um número pequeno de dentes naturais e que apresentam pelo menos dois elementos dentários que possam ser utilizados como suporte (um posterior e um anterior) ao local em que a prótese será instalada. Nesse caso, os dentes naturais precisam ser desgastados, processo que pode comprometer sua estrutura.
Tradicionalmente confeccionadas em metal com porcelana, tiveram uma grande evolução tecnológica. Com a descoberta de novos materiais estéticos, em alguns casos, é possível confeccioná-las com estruturas não metálicas, caso da zircônia. Sua durabilidade está ligada diretamente à técnica correta de confecção, mas depende de maneira significativa dos hábitos de higiene. A limpeza deve ser criteriosa e precisa alcançar a estrutura do suporte de maneira efetiva, para que restos de alimentos não se acumulem ali.
A prótese flexível
São reconhecidas principalmente como alternativas às próteses parciais removíveis e produzidas em resina flexível, o que tira a necessidade da utilização de grampos e estruturas presentes nas próteses tradicionais. A tendência é que o resultado tenha aparência mais natural.
A utilização dessa modalidade é mais comum em idosos, como prótese provisória em casos de reabilitação ou mantenedores de espaço entre os dentes naturais.
A prótese sobre implantes
Instalados diretamente sobre o osso da maxila ou da mandíbula, os implantes osseointegrados funcionam como substitutos das raízes naturais dos dentes e servem como suporte para a prótese, que pode ser parafusada ou encaixada em cima deles. A colocação é feita em duas fases.
A primeira é a cirurgia, quando os implantes de titânio na forma de parafusos são fixados no osso do paciente. Na segunda fase, chamada de etapa protética, poderá ser instalada uma prótese fixa, parafusada nos implantes ou cimentada sobre uma estrutura metálica parafusada nos implantes, ou uma prótese removível, que deve se encaixar sobre retentores parafusados aos implantes.
Apesar de ser a alternativa que mais se assemelha aos dentes naturais e oferece mais segurança aos pacientes, quem sofre de doenças sistêmicas deve ter cuidado redobrado durante o tratamento. Males como a diabetes, o HIV, a osteoporose e a hipertensão podem prejudicar processos de coagulação e de cicatrização e deixam o corpo mais exposto a infecções.
Cada um é cada um
Lembre-se: qualquer tipo de tratamento para a colocação de uma prótese dentária deve ser feito sob orientação de um cirurgião-dentista. A avaliação do profissional conseguirá definir qual prótese deverá ser adotada, para que tanto os resultados estéticos quanto os ganhos na saúde bucal sejam efetivos.
* Dr. Rogério Adib Kairalla é cirurgião-dentista e presidente da Comissão Tomada de Contas do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP)