A vacina tetravalente contra dengue criada e estudada pelo Instituto Butantan, em São Paulo, foi a grande vencedora da 21ª edição do Prêmio Péter Murányi.
O trabalho, coordenado pela bióloga Neuza Frazatti Gallina, é uma conquista para a história da saúde pública no país.
E não apenas para os cientistas envolvidos no projeto, mas também para a população, que poderá contar com uma vacina capaz de prevenir uma doença que afeta milhões de pessoas pelo mundo.
Sabemos que a dengue é um problema endêmico no Brasil e tem se tornado cada vez mais prevalente em países tropicais. Pode provocar complicações graves e até fatais.
A nova vacina, em fase final de estudos, impactará não somente a proteção dos cidadãos e a saúde pública. Terá reflexos sociais e econômicos, uma vez que ajudará a evitar fatalidades da versão hemorrágica da doença, hospitalizações e faltas ao trabalho.
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A Butantan-DV, o imunizante do instituto paulista, envolveu uma complexa metodologia de pesquisa que incluiu desde a identificação dos quatro tipos de vírus da dengue circulantes no país até a testagem da vacina em larga escala, num processo que enfrentou diversos desafios.
É motivo de orgulho saber que essa vacina brasileira já foi patenteada em 11 países, a começar pelos Estados Unidos, e iniciou o processo de patente em 20 outros. A expectativa é que os estudos clínicos sejam concluídos em 2024.
A reunião do Júri da Fundação Péter Murányi, no último dia 2 de março, representa um momento muito importante porque, a cada ano, dá a exata medida da grandeza da pesquisa brasileira. Em 2023, na edição voltada à saúde, contamos com 138 trabalhos submetidos.
Nossa Comissão Técnica e Científica, formada por grandes professores e pesquisadores, seleciona e apresenta aos jurados três trabalhos finalistas, que são avaliados para chegarmos à definição do primeiro lugar.
Neste ano, tivemos uma votação particularmente difícil, pois os outros dois trabalhos que concorreram com o do Butantan eram igualmente impactantes.
Foram eles: “Vigilância digital como ferramenta inovadora para o enfrentamento da atual e de futura pandemias: da avaliação de eficácia vacinal à previsão de novas emergências”, de autoria de Manoel Barral Netto e equipe (2º colocado) e “Soberania tecnológica no desenvolvimento de vacinas humanas no Brasil”, de Ricardo Tostes Gazzinelli e equipe (3º lugar), ambos pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e parceiros.
Para nós, da Fundação Péter Murányi, é gratificante premiar trabalhos que se traduzem em produtos ou serviços inovadores que melhoram, com aplicação prática, a qualidade de vida de muitas pessoas.
E isto só é possível com a participação das entidades apoiadoras: ABC, ACIESP, ANPEI, CAPES, CIEE, CNPq, FAPESP e SBPC, que também divulgam o prêmio. Só assim atingimos o grande universo de mulheres e homens dedicados a fazer a diferença na ciência, na tecnologia e na saúde pública.
O Prêmio Péter Murányi tem quatro áreas de atuação, que se intercalam ano a ano: Saúde, Ciência & Tecnologia, Alimentação e Educação. O objetivo da fundação é reconhecer profissionais e instituições com trabalhos robustos nesses domínios, e a visibilidade e a transparência no processo são vitais para tanto.
Num país tão rico e tão diversificado, onde problemas e soluções atingem dimensões continentais e envolvem realidades distintas, tenho satisfação em ver que os trabalhos premiados envolvem duas novas vacinas (dengue e Covid) para combater doenças preocupantes e uma ferramenta capaz de tornar a resposta e a gestão da saúde pública mais eficientes.
São exemplos concretos de como a ciência nacional responde prontamente aos desafios atuais.
* Vera Murányi Kiss é presidente da Fundação Péter Murànyi