Desde o final dos anos 1990, os casos de autismo na população têm crescido de forma acelerada. Hoje, para cada 51 crianças que nascem, uma tem características do espectro autista ou transtorno do espectro autista (TEA). Dessas, 10% apresentam um subtipo muito particular, denominado síndrome de Asperger, conhecido também como autismo de alto funcionamento.
A condição foi descrita pela primeira vez em 1944 pelo pediatra Hans Asperger. Os portadores da síndrome eram chamados de “pequenos professores”, devido aos seus diálogos ricos em detalhes e de uma inteligência fora do comum.
Apesar de a causa da síndrome ser desconhecida, estudos apontam que é possível que fatores genéticos e ambientais possam ser os principais elementos para que ela se desenvolva.
Considerada uma versão superleve e discreta do autismo, os sintomas podem aparecer logo na primeira infância e perduram até a fase adulta. A principal dificuldade enfrentada por quem nasce com a condição está ligada a suas habilidades sociais, ou seja, em situações que exijam algum tipo de interação social.
Com isso, crianças e jovens podem apresentar atitudes imaturas e inadequadas, interpretando esses momentos sem filtro social e sem devida e ponderada empatia pelos sentimentos das pessoas que estão à sua volta.
Apesar das semelhanças com o autismo, a síndrome de Asperger se diferencia nas possibilidades de adaptação funcional. Outros sinais que podem aparecer e ajudam no diagnóstico preciso são: verbalização correta e robótica, pouco contato visual, preferência por isolamento, carência de expressões faciais e emoções na fala, apego à rotina e escopo de interesses limitado.
Mas como é feito exatamente o diagnóstico? Não existem exames de imagem nem de sangue para realizar a identificação. A confirmação é realizada por estudo das características comportamentais, levando em conta a avaliação do desenvolvimento infantil da criança.
Fazer a investigação e ter as respostas logo cedo podem trazer inúmeros benefícios para quem convive com a condição, principalmente em matéria de qualidade de vida. É importante que a criança se reconheça e se compreenda no meio que está inserida. Assim é possível que ela aprenda, desde cedo, a lidar com as suas limitações e desenvolver estratégias para enfrentar as adversidades atuais e futuras.
Existe uma cura? A condição não tem cura, mas é possível seguir com tratamentos multidisciplinares, como psicoterapia comportamental e terapias de habilidade social. Além de fazer uso de medicamentos, para tratar as comorbidades que possam aparecer junto com a síndrome, como depressão, ansiedade e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
Com o tratamento, o portador da síndrome de Asperger pode constituir família, trabalhar e realizar sonhos. A grande lição está em aprender a lidar com as instabilidades e linguagens diversas da vida social e, acima de tudo, que todos possam respeitar o seu modo único de pensar e sentir.
* Clay Brites é neurologista infantil do Instituto NeuroSaber, em Londrina (PR), doutor em ciências médicas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e médico convidado da farmacêutica Prati-Donaduzzi para esclarecer o assunto