Os últimos meses de pandemia exigiram seguidos ajustes na forma de lidar com pacientes dentro de hospitais. Ao mesmo tempo em que ficou clara a necessidade de ser alterado o padrão de cuidado em momentos com diversas internações simultâneas e se expôs a dificuldade de dar atenção suficiente para quem precisa de assistência médica em casa, as healthtechs passaram a agregar cada vez mais tecnologias para viabilizar o monitoramento, a prevenção e o tratamento de doenças e complicações.
Uma das soluções oferecidas por essas startups focadas em saúde e bem-estar são os wearables, tecnologias vestíveis com conexão online com outros dispositivos, como ocorre nos smartwatches, e que, em situações específicas, se valem de pequenos sensores colocados em coletes para o monitoramento de pacientes. No caso de pessoas acamadas, eles podem acompanhar e evitar o surgimento de lesões por pressão, também conhecidas como úlceras de decúbito ou escaras.
Uma das principais características das startups é utilizar a tecnologia para, rapidamente, promover soluções com potencial de revolucionar uma prática. A tecnologia nem sempre é nova, mas, utilizada em uma nova área ou de forma diferente, pode resolver desafios antigos de forma mais simples e eficaz. Como no desenvolvimento de wearables para levar mais qualidade de vida aos pacientes acamados, o que, além da prevenção das lesões, inicia um ciclo de melhoras no ambiente hospitalar.
Essas tecnologias vestíveis fornecem dados que se tornam importantes e precisos indicadores hospitalares, ajudando a reduzir os custos na saúde com um sistema eficiente de monitoramento, além de aumentar a produtividade da equipe de enfermagem e diminuir a probabilidade de as internações acabarem se estendendo devido ao surgimento de lesões na pele.
Ao indicar o risco de lesão ou o tempo em que o paciente está sem se movimentar, esse tipo de solução também reduz custos excedentes de material e estrutura a ponto de essas tecnologias serem levadas com a mesma eficiência para fora do hospital. Assim, até mesmo o cuidado em casa recebe uma significativa melhora com a diminuição dos riscos de lesão na pele.
A Preveni, startup de Londrina (PR), é um exemplo nesse sentido. Participante da edição anual do Samsung Creative Startups, programa nacional de aceleração de startups da Samsung, ela desenvolve um sensor de posicionamento de 4,5 por 2,6 centímetros, colado no tórax do paciente com adesivos similares aos utilizados em exames clínicos.
Esse wearable utiliza a Internet das Coisas e envia dados a smartphones ou tablets, indicando quanto tempo o paciente fica em cada posição, seja deitado, sentado ou em pé, mostrando quando é necessário fazer um reposicionamento e cruzando informações de acordo com o que foi prescrito para a prevenção das feridas.
É uma solução que não substitui, mas otimiza o trabalho de pessoas na área da saúde. Nesse momento em que os profissionais estão ainda mais pressionados, o legado precisa ser a utilização da tecnologia para que o cuidado com o paciente acamado vá além da presença de alguém à beira do leito, assegurando que esse monitoramento seja mais eficiente, com dados gerados 24 horas por dia, sete dias por semana, e armazenados em um formato que gere alertas. Hoje, cuidar é também coletar dados e entregar informações, exatamente como fazem as healthtechs que desenvolvem esses wearables.
* Paulo Quirino é coordenador nacional do Programa Creative Startups na área de Pesquisa e Desenvolvimento da Samsung